Senna é considerado por pessoas de diferentes idades, credos e até gostos por esporte como o maior ídolo da história do país.
O 1º de maio de 1994 foi um dia tão intensamente triste no Brasil que muitos que o vivenciaram se lembram exatamente onde e com quem estavam quando souberam da morte daquele que é considerado por pessoas de diferentes idades, credos e até gostos por esporte como o maior ídolo da história do país.
Foi naquele domingo que morreu o tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna da Silva, poucas horas depois de sofrer um acidente com sua Williams na curva Tamburello, no circuito de Ímola, na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino.
A rotina dos inúmeros fãs do piloto e da Fórmula 1 aos domingos de corrida incluía acordar cedo, pois, na época, a grande maioria das provas era disputada pela manhã. Há 25 anos, contudo, a voz do narrador Galvão Bueno, da “TV Globo”, alertou para o início de uma série de acontecimentos dramáticos.
“Senna bateu forte!”, exclamou a voz das principais conquistas de Ayrton.
O brasileiro liderava em San Marino, que sediava a terceira etapa da temporada, e buscava os primeiros pontos no Mundial, após abandonos nos GPs do Brasil e do Pacífico. O alemão Michael Schumacher, então na Benneton, o perseguia, quando Senna passou direto na fatídica Tamburello, atravessou a área de escape e se chocou com o muro de proteção a mais de 200 km/h.
Dois dias antes do acidente, Rubens Barrichello, então na Jordan, já havia sofrido acidente impressionante em Ímola em um dos treinos livres. No sábado, foi a vez do austríaco Roland Ratzemberger, da Simtek, bater forte e morrer na sessão classificatória.
Antes da corrida, em que largou pela 65ª e última vez como pole position, Senna criticou a pista e foi um dos que denunciou a falta de seguranças para os pilotos.
A quebra da barra de direção do carro, conforme ficou provado após uma longa investigação, foi o que fez o tricampeão sair da pista, já que ele tentou frear ao perceber problemas.
Eram 14h13 em Ímola, 9h13 no horário de Brasília. Senna só começou a receber atendimento médico dois minutos e meio depois da colisão. A transferência para um hospital, em um helicóptero, aconteceu 17 minutos depois.
Com o impacto, uma peça da suspensão dianteira saiu como uma bala de revólver contra o capacete do piloto da Williams, provocando danos cerebrais. Horas depois, às 18h40 locais, 13h40 de Brasília, o o coração de Senna parou de bater definitivamente.
“Neste momento, a médica María Teresa Fiandri comunica a todos os jornalistas aqui do hospital Maggiore, de Bolonha, que Ayrton Senna da Silva está morto. Morreu Ayrton Senna da Silva. É o comunicado oficial do hospital Maggiore, de Bolonha. Morreu Ayrton Senna da Silva. Uma notícia que a gente nunca gostaria de dar”, relatou Roberto Cabrini, em plantão na “TV Globo”, emissora que detém até hoje os direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil.
O próprio repórter, durante o anúncio via telefone, não conseguiu esconder a voz embargada, diante da informação trágica. O sentimento tomou conta, primeiro, dos telespectadores, para depois se estender por toda a nação, em choque pela perda do ídolo, que ostentava a bandeira nacional a cada vitória.
Bianca Senna, sobrinha do piloto e atualmente diretora da marca no Instituto Ayrton Senna, é uma das encarregadas de manter o legado do tio vivo. A fundação era um sonho do piloto, que foi colocado em prática após a tragédia, com o objetivo de melhorar a educação no Brasil, o que revela um pouco de quem ele era.
“Foi mais do que um piloto. Se só tivesse sido um piloto, não teria conquistado o coração de tantas pessoas no mundo. Ele lutou muito para conseguir o que conseguiu, e não foi fácil. As pessoas se identificam com isso”, afirmou Bianca em entrevista à Agência Efe.
Quando Ayrton foi campeão mundial pela primeira vez, em 1988, a sobrinha era apenas uma criança. Hoje, ela admite que acompanhava apenas as largadas das corridas: “eu sabia que ele iria ganhar”, brinca.
Bianca contou à Efe as lembranças que mantêm do tio longe das pistas, no convívio em casa.
“Era muito diferente. Ele era muito carinho, muito brincalhão. Amoroso e muito querido”, disse.
No dia 1º de maio de 1994, Bianca estava na casa de uma amiga e começou a ver a corrida. Depois do acidente, foi diretamente para casa, onde acompanhou a cobertura da imprensa e recebeu as notícias junto com o restante da família.
O choque do país foi total e continuou intacto no dia seguinte, quando os principais jornais publicaram a tragédia em suas capas.
“Acidente mata Ayrton Senna”, estampou a “Folha de S. Paulo”. Já “O Globo” informou: “Brasil perde Senna”. O “Estado de S. Paulo, por sua vez, foi mais profundo: “Morte de Senna abala País e causa indignação com segurança na F-1”.
Dias depois, conforme veiculou a “Folha”, uma jovem se suicidou em Curitiba. Em um bilhete de despedida, ela garantia que se encontraria com o tricampeão mundial.
A morte de Senna, em um domingo de clássicos no futebol brasileiro, ainda aproximou arquirrivais, como os torcedores de Flamengo e Vasco, no Rio de Janeiro; Palmeiras e São Paulo, na capital paulista; e Atlético e Cruzeiro, em Minas Gerais, que saudaram o piloto das arquibancadas.
O então presidente do Brasil, Itamar Franco, decretou luto de três dias, período em que a nação parecia não pensar em outra coisa. Na mídia, nas ruas, Senna era o principal assunto. Nas janelas, tecidos negros simbolizavam o luto.
Fãs se dirigiram até a residência da família do tricampeão, em São Paulo, e lá fizeram uma vigília.
O corpo de Senna chegou ao Brasil na quarta-feira seguinte ao acidente e foi recebido com honras de chefe de Estado. O velório aconteceu na Assembleia Legislativa paulista.
Por onde o caixão com os restos mortais do piloto passava, uma multidão estava de pé para um último adeus. Em carro aberto, lentamente, Ayrton ganhava os últimos aplausos de um público que se acostumou a vibrar com as conquistas do brasileiro.
No funeral, diversas personalidades do mundo das pistas, como o francês Alain Prost, com quem o brasileiro teve uma das maiores rivalidades da Fórmula 1, também se despediram.
Os brasileiros que não se esquecem dos detalhes daquele 1º de maio de 1994, provavelmente também jamais tirarão da memória as imagens das conquistas de um piloto que se transformava em herói a cada Grande Prêmio.