Em 15 anos, o número de famílias chefiadas por mulheres cresceu 105%.
O número de famílias brasileiras chefiadas por mulheres cresceu 105% entre 2001 e 2015, segundo a pesquisa ‘Mulheres Chefes de Família no Brasil: Avanços e Desafios‘. Isso significa um total de 28,9 milhões de famílias chefiadas por mulheres em 2015, ano dos últimos dados.
Neste número estão incluídos diversos tipos de arranjos familiares, como casal sem filhos ou com filhos; arranjo unipessoal, que é caracterizado por uma mulher que mora sozinha; e as chamadas mães solo, caracterizadas na publicação como “arranjo monoparental feminino”.
O estudo também mostra que as famílias formadas por uma mãe solteira, separada ou viúva e seus filhos já representam 15,3% de todas as formações familiares.
Outro dado que mostra como muitas mulheres têm assumido a responsabilidade de criar os filhos sozinhas vem da cartilha ‘Pai presente‘, divulgada pelo Conselho Nacional: 5.494.267 estudantes não possuem o nome do pai na certidão de nascimento. Esse dado teve como base o Censo Escolar 2011.
Letícia Paulino, de 24 anos, sabe bem os desafios de ser uma mãe solo. Mãe de Cecília, que tem 1 ano e 6 meses, ela diz que o pai da criança abriu mão judicialmente da questão afetiva. “Ele paga pensão, mas nunca teve contato com ela”.
Segundo dados do R7, de janeiro a outubro de 2017, o estado de São Paulo registrou uma média de 64,8 prisões por dia de pais que não pagaram pensão alimentícia. Ao todo, foram feitas 19.715 prisões no período.
Letícia morava com o pai da criança quando descobriu que estava grávida. A reação dele, no entanto, foi uma surpresa: ele alegou que não estava preparado para exercer o papel de pai.
Ela conta que sente dificuldades em criar a filha sozinha e que isso se reflete em diferentes setores de sua vida. “Eu praticamente não tenho lazer. Quando eu saio com minhas amigas, preciso levá-la junto e voltar para casa cedo”.
Em relação ao apoio da família, Letícia diz que não teve problemas com isso. “Sempre tive apoio dos meus pais. Isso foi essencial para eu conseguir seguir”.
Para se dedicar aos estudos, Letícia conta com a ajuda da mãe. “Já que eu estudo à noite, a Cecília fica com a minha mãe”.
Mesmo com esse apoio, a estudante de rádio e TV conta que existe uma pressão por conta da maternidade. “Eu sinto que não posso errar. Também sinto falta de uma válvula de escape, alguém para desabafar”.
A dificuldade para arranjar emprego
Desempregada desde quando a filha nasceu, a estudante conta que o fato de ser mãe dificulta a contratação. “Recentemente, eu participei de uma entrevista. Eu preenchia todos os requisitos que a empresa pedia, mas quando falei que era mãe, a pessoa que estava me entrevistando mudou o rumo da conversa. Disse que ‘teria dó’ pelo fato de que, se eu fosse contratada, teria que deixar minha filha na creche”.
Letícia completa que essa é uma situação bem comum, e que as empresas sempre colocam empecilhos. “Eles perguntam ‘mas e se acontecer algo com a criança? ’, ou dizem que precisam de alguém que dê total atenção ao trabalho”.
Segundo um estudo da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), “há uma queda no emprego das mães ao fim da licença-maternidade e, depois de 24 meses, metade delas saem do mercado”. A pesquisa também revela que, na maior parte das vezes, essas mulheres saem por iniciativa do empregador.
Além disso, o estudo da FGV diz que “trabalhadoras com maior escolaridade apresentam queda de emprego de 35% 12 meses após o início da licença, enquanto a queda é de 51% para as mulheres com nível educacional mais baixo”.
Mãe de Jorge, de 1 ano e 10 meses, Jessica Dara também relata dificuldades para conseguir um emprego. “Em uma das entrevistas que fiz, consegui chegar até a última etapa. Quando falei que tinha um filho, que na época tinha 7 meses, a entrevistadora questionou minha responsabilidade. Eu senti o preconceito dela”. Atualmente, Jessica está desempregada.
Além do preconceito na procura de emprego, Jessica também diz que quando estava grávida e realizou o exame de pré-natal se sentiu constrangida com algumas perguntas das enfermeiras. “Elas perguntam quem é o pai da criança. Mas, ao fazerem as perguntas, eu senti como se elas pensassem ‘mais uma mãe jovem e o pai da criança não está presente’”.
Ao falarmos da presença por parte do pai, Jessica diz que “é aquela presença de fim de semana”. Ela diz não concordar com a ideia de o pai só visitar a criança no fim de semana, já que, para ela, isso não é estar presente. “Todos os dias eu estou com o Jorge. Todos os dias eu estou presente”.
Já em relação ao afeto por parte do pai, ela explica que já pensou em recorrer na justiça para que o pai fosse mais presente. “A questão é que isso seria uma coisa forçada. Prefiro que ele visite uma vez por semana”. Ela completa que já aconteceu de o pai não cumprir o combinado. “Combinamos que ele viria uma vez por semana. Mas, às vezes, nem isso. Ele até já ficou 1 mês sem vir”.
Jessica acha que é necessário que a criança tenha relações com a parte masculina, mas que não precisa ser necessariamente o pai da mesma. “É necessário esse contato por conta da construção da criança. O Jorge tem essa relação com o tio”.
Um dos problemas que Jessica relata por ser mãe solo acontece no âmbito acadêmico. A jovem de 22 anos faz faculdade de audiovisual e diz que alguns professores não têm empatia. “Coisas pequenas se tornam grandes. Às vezes eu chego atrasada na aula e alguns professores não entendem a realidade da mãe solo. Falta uma empatia”.
Jessica conta com a ajuda da mãe para algumas tarefas e enfatiza que “só o fato de ela lavar algumas roupas do Jorge já ajuda muito”.
Encontre seu Pai Aqui
A iniciativa ‘Encontre seu Pai Aqui’, criada em 2017 em uma parceria entre o Poupatempo e o Ministério Público do Estado de São Paulo, tem como objetivo esclarecer casos de investigação de paternidade.
O projeto começou como um piloto em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, quando Maximiliano Fuheren, da promotoria de São Bernardo, constatou que 10 mil pessoas não tinham o nome do pai na certidão de nascimento em 2002.
Em 2018, após o projeto passar por diferentes mudanças, Maximiliano conseguiu atribuir a iniciativa ao Poupatempo. Com isso, o promotor aponta que 60% dos pais reconhecem a paternidade, mas que o trabalho não é tão simples. “É uma investigação. O pai pode ser de outro estado e até o promotor daquele local encontrar o mesmo pode levar um tempo. Alguns casos demoram 2 anos”.
Além disso, Maximiliano conta que o projeto realiza uma abordagem tranquila. “Não queremos causar constrangimentos. Antes, realizávamos mutirões nas escolas de São Bernardo e sentíamos que algumas mães e crianças ficavam constrangidas. Se elas se sentem assim, há uma história por trás que precisa ser respeitada”.
Maximiliano coloca que, só em 2018, 750 mil pessoas não tinham o nome do pai no estado de São Paulo. “Isso é mais do que a população de São Bernardo do Campo”, enfatiza o promotor. Ele completa que tem percebido uma tendência nas pessoas que procuram o programa. “Há uma linha crescente, por parte das mães, em procurar a iniciativa quando o filho vai ficando mais velho”.
Saiba mais detalhes da iniciativa aqui.
Mães também precisam de tempo para elas
Muitas mães se queixam do ritmo de vida que levam por causa da maternidade, já que muitas sacrificam o lazer e não dispõem de tempo para sair com amigos. Pensando nisso, a empresária Michelle Kennedy criou o aplicativo Peanut, em Londres.
O aplicativo aproxima mães com interesses em comum. As usuárias têm a possibilidade de escolher se querem encontrar mães que gostariam de se divertir, como ir em algum ambiente com música, ou até mesmo para irem à academia. O Peanut está disponível na Apple Store e no Google Play.