A triste história das escravas sexuais judias traficadas para o Brasil

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As polacas, como ficaram conhecidas, foram escravizadas sexualmente por membros da própria comunidade judaica.

Os primeiros relatos da chegada de escravas judias no Brasil são de 1867. Durou cerca de 100 anos o tráfico dessas mulheres, que migraram principalmente da Polônia. Neste período, os judeus mais pobres sofriam com o antissemitismo do antigo império russo, portanto, muitos abandonaram seu país natal com a ilusão de uma vida melhor.

As polacas, como ficaram conhecidas, foram escravizadas sexualmente por membros da própria comunidade judaica. Durante os séculos 19 e 20, a organização criminosa Zwi Migdal operou no leste europeu traficando mulheres judias para Brasil, Argentina e Estados Unidos.

Os traficantes eram cruéis. Homens judeus com alto poder aquisitivo iam aos bairros mais pobres da comunidade judaica para pedir a mão de jovens judias em casamento. Em troca, elas deveriam abandonar seu país natal.

“No meio do caminho, estuprava a moça e, chegava no lugar, ela tinha que render dinheiro. Era quase um processo industrial, porque, no começo, tinha que mostrar produção. 20, 30 clientes por dia”, conta o historiador e especialista no assunto Paulo Valadares.

A historiadora e diretora do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, Beatriz Kushnir, conta a história completa das polacas em sua obra mais famosa, ‘Baile de Máscaras: Mulheres Judias e Prostituição’.

Exploradas sexualmente, elas passaram a ser consideradas impuras e pecadoras perante a comunidade judaica. Por conta disso, não poderiam ser enterradas junto aos outros judeus, segundo a historiadora.

“Dentro dos preceitos religiosos judaicos as prostitutas são enterradas junto ao muro dos cemitérios, reforçando e demarcando o locus da exclusão e do estigma”, diz trecho retirado do livro ‘Baile de Máscaras: Mulheres Judias e Prostituição’.

Com o extermínio de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, houve o declínio no tráfico humano. Em geral, essas mulheres morriam jovens, de tuberculose ou doenças venéreas.

Em 1972, a prefeitura de São Paulo desapropriou o Cemitério Israelita Chora Menino, próprio das polacas, com a justificativa de estar abandonado. Ao saber disso, a comunidade judaica transferiu mais de 200 restos mortais para o Cemitério Israelita do Butantã.

“Eram repudiadas pelos judeus normais, tinham que se virar. Tinham cemitério próprio, uma sociedade que ajudava as que ficavam doentes, que ficavam velhas, como uma segurança social. Elas tinham a sinagoga delas! E não eram só mulheres que participavam, tinha alguns homens que eram os cafetões”, conta o diretor do Cemitério Israelita do Butantã, Guilherme Faiguenboim.

Algumas conseguiam se casar e saíam dessa vida, mas a maioria continuava sem opção. O diretor explica que nas lápides há inscrições em hebraico, proclamando triste e pedindo a Deus para que não reencarnem.  “Os meus olhos choram por dias amargos”, traduz Guilherme uma das lápides do cemitério.

Fonte: Aventuras na História

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