Defesa alega que investigadora tem ‘amizade íntima’ com obstetra que fez parto. Delegada diz que tem com médica uma ‘relação de convivência’, mas nega que isto influencia na investigação.
A advogada da dona de casa Aline Parreira de Jesus, que recebeu só um bebê após exames de ultrassom apontarem gestação de gêmeos, pediu o afastamento da delegada que investiga o caso, Simone Casemiro Campi. Em documento protocolado no Ministério Público de Goiás, Sandra Garcia de Oliveira alega que a investigadora está agindo de “forma parcial” por ter uma “amizade íntima” com a obstetra que realizou o parto.
Aline deu à luz no último dia 13, no Hospital Municipal Antônio Martins da Costa, em Quirinópolis, região sul de Goiás. Embora quatro ultrassonografias tenham mostrado que ela esperava dois filhos, a mulher recebeu somente um. Um vídeo mostra que apenas uma criança saiu do centro cirúrgico onde aconteceu a cesariana.
A delegada afirma que conhece a médica, Bertha Lúcia Bandeira Martins da Silva Almeida, revelou que ela é sua ginecologista particular e que ambas têm uma “relação de convivência”, mas negou que isso influencie na investigação (veja abaixo).
Sandra resolveu tomar a atitude por acreditar que a investigação está sendo conduzida de forma irregular, uma vez que a delegada seria amiga da obstetra. A advogada afirma que, diante do caso, a própria delegada deveria ter tido a iniciativa de se afastar do inquérito, mas isso não aconteceu.
“A forma que está sendo aplicada nas investigações é irregular. A delegada é amiga íntima de médica, ela está sendo parcial desde o início. Desde o início ela afirma que é erro nos exames”, disse.
“Eu levei essa parcialidade ao conhecimento do Ministério Público para tomar providência. O correto seria ela declarar de ofício suspeição. Mas ela não o fez”, completou.
Além disso, Sandra solicitou outras medidas, como a devolução dos exames originais e o prontuário para Aline, o registro das gravações de câmeras de segurança na data do parto e nos dois dias seguintes e, se for necessário, a realização de exames de DNA de todos os bebês que nasceram o hospital entre os dias 8 e 14 de setembro.

“Relação de convivência”
A delegada contou que de fato conhece a médica e que se consulta com ela, mas negou que essa proximidade esteja influenciando no inquérito que apura o que aconteceu antes, durante e após o parto.
“Estou aqui [em Quirinópolis] tem muito tempo e conheço todo mundo. Até tenho uma relação de convivência porque nossos filhos estudam juntos. Inclusive, ela é minha ginecologista. A investigação é impessoal. A gente está investigando fatos. Todos foram ouvidos indistintamente, ninguém teve privilégio em relação a nada”, afirma.
Simone disse que entende a vontade da família em descobrir o que aconteceu, mas salienta que com base em tudo que foi levantado até o momento, não há nenhuma indicação de que outra criança nasceu e que o que houve foi um “erro de diagnóstico”.
“Não posso desvirtuar e falar que a gente suspeita que possa ter [outro bebê]. Eu não posso falar isso porque a investigação não mostra isso. Isso, na verdade, não é parcialidade, é realidade”, declara a delegada.
A responsável pelo caso conta que já ouviu 15 pessoas dentro do inquérito e que aguarda somente o laudo da perícia nos exames de ultrassom – que será feita no Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia – para concluir o caso.
Os documentos serão enviados para a capital na terça-feira (1º). Não há prazo para o resultado.
Em nota, a Polícia Civil informou que “a investigação tem caráter impessoal” e que o “vídeo divulgado faz parte de um conjunto probatório que corrobora outras provas do inquérito”.

‘Reflexo’
Um vídeo divulgado pela polícia mostra quando uma servidora do hospital deixa a sala de cirurgia com apenas um bebê. A priori, a polícia trabalha com a possibilidade de erro de diagnóstico nos exames de ultrassom, apesar de que os quatro feitos por Aline antes do parto apontavam gestação de gêmeos.
A obstetra que fez o parto disse que a segunda criança era, na verdade, apenas o “reflexo” no líquido amniótico de um único feto que Aline esperava.
No entanto, o médico Waldemar Naves do Amaral, membro da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia e especialista em diagnóstico por imagem/ultrassonografia, acha pouco provável que o erro seja esse, já que foram feitas mais de uma ultrassonografia com mais de um médico e inicialmente em equipamentos diferentes.
O registro das duas certidões também é investigado pela polícia, pois, em tese, uma das crianças não existe. O hospital diz que houve um erro durante a troca de plantão e que foi expedido, na verdade, a mesma declaração em duplicidade para um único bebê.

