Trabalho é embasado por diagnóstico realizado pela extensão rural, que apontou os principais desafios das regiões paulistas.
Desde o início da quarentena, em razão da pandemia de COVID-19, houve um grande impacto na comercialização de produtos oriundos das pequenas propriedades, principalmente no que se refere às frutas, aos legumes e às hortaliças. Desde então, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado implementa ações emergenciais, colocadas em prática pelos extensionistas da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), com o objetivo de minimizar as dificuldades dos produtores e garantir renda para as famílias rurais.
O trabalho tem sido embasado por um amplo diagnóstico realizado pela extensão rural, que apontou os principais desafios enfrentados em todas regiões paulistas. Nesse contexto, extensionistas da CDRS Regional Itapeva, juntamente com entidades parceiras, nas esferas pública e privada, têm investido na difusão de conhecimento e tecnologia, para fortalecer e apoiar as associações e cooperativas rurais, principalmente no que se refere à comercialização.
“Já fizemos encontros online sobre as compras institucionais, sensibilizando gestores municipais, em uma ação que tem trazido excelentes resultados ao propiciar a retomada das compras públicas com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o acesso dos produtores ao Programa de Aquisição de Alimentos [PAA]”, explica Emmanuel Moraes, diretor da CDRS Regional Itapeva.
“Desde então, verificamos que abrir novos canais de comercialização era o passo seguinte, e que os nichos de vendas no ambiente virtual deveriam ser explorados, desde que observados os padrões e a classificação dos produtos”, acrescenta o gestor, que salienta que organizações rurais da região foram colocadas em contato com startups de market place, buscando melhores soluções de gestão e vendas, e incentivadas a capacitar um colaborador para atuar com as ferramentas digitais.
Apoio
Para apoiar os produtores nesse novo segmento, os extensionistas e parceiros realizaram a oficina “Padronização de hortigranjeiros com vistas ao mercado virtual”, em 1º de julho, para um público de mais de 50 pessoas ‒ entre produtores, representantes de comércio varejista, extensionistas e interessados de diversas regiões do Estado ‒, que acompanharam a palestra do engenheiro agrônomo Hélio Satoshi Watanabe, do Centro de Qualidade em Hortifrutigranjeiros, da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), entidade cujas classificações orientadas são adotadas por quase todos os mercados compradores do país.
“Ao observar a experiência de algumas cooperativas com vendas por telefone, identificamos dois gargalos importantes que podem inviabilizar o acesso ao mercado virtual: a falta de padronização nos produtos e a necessidade de investimento na gestão da produção, com ênfase no atendimento das normas de rastreabilidade. Esses dois itens são imprescindíveis, tanto para a valoração e garantia de qualidade quanto para fidelização e manutenção do mercado consumidor. Por isso, a realização dessa oficina foi uma ação para esclarecer dúvidas quanto à padronização, de acordo com as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA], a qual estabelece um padrão de qualidade, visando garantir aos produtores, comerciantes e consumidores a manutenção das características e da qualidade do produto vendido ou adquirido”, pontuou Emmanuel.
Confirmando esse pensamento, Clayton Nunes, da Arkhé Socioambiental, que assessora organizações rurais de pequenos produtores nos municípios de Guapiara, Capão Bonito e Itapeva, e atua como parceira da Secretaria na região, afirmou que, neste momento de pandemia, é fundamental que os produtores busquem reinventar o negócio.
“É preciso ressaltar ainda ser difícil para grande parte dos agricultores familiares conseguir se adaptar às novas tecnologias relacionadas à comercialização – que sempre foi um gargalo para eles ‒, principalmente quando as ferramentas são digitais, pois a maioria tem pouca ou nenhuma formação”, disse.
“Acredito que, por meio de capacitações dinâmicas como essa, será possível transmitir tecnologias em linguagem simples, para que eles consigam realizar as adequações necessárias em suas propriedades e seus produtos, bem como acessar novos mercados, disponibilizando produtos de qualidade, com as características adequadas que os mercados compradores exigem, podendo agregar mais valor e rentabilidade ao processo produtivo”, completou.
Participante da oficina, Sérgio Ishicava, engenheiro agrônomo da Secretaria que atua na CDRS Regional Bauru, relatou uma experiência positiva de produtores de sua região que adotaram a padronização de produtos. “A padronização é fundamental, quando se buscam canais de comercialização virtual, quando isso fica ainda mais evidente. No início de março, com um grupo de produtores de Iacanga ‒ que cultivam principalmente pimentão colorido em ambiente protegido ‒, fizemos uma visita técnica à Ceagesp, na qual eles puderam entender melhor a importância de uma boa padronização, pois em diversos boxes havia necessidade de uma reclassificação pela desuniformidade das frutas e hortaliças nas caixas, levando à desvalorização dos produtos. Foi uma experiência enriquecedora”, afirmou.
Padronização
Para o palestrante Hélio Watanabe, padronizar é muito mais do que definir o tamanho do hortifruti. “É criar uma linguagem única e mensurável para toda a cadeia de produção, estabelecendo um padrão de qualidade”, enfatizou.
Durante a conversa com os participantes, o agrônomo destacou que a classificação pode ser feita por grupo de separação por variedade e/ou cultivares, bem como por características quanto ao tipo, formato, tamanho, coloração e grau de maturação, entre outras. Sobre embalagens, que são instrumentos de proteção do produto e de sua movimentação e exposição, Watanabe diz que depende do público que será atendido.
“Se for para o atacado, os produtos devem ser embalados de forma que possam ir direto para a gôndola, para evitar ao máximo que sejam manipulados. Se a venda for realizada diretamente ao consumidor final, deve-se pensar em unidades menores. Essa é uma diretriz, que neste momento de necessidade de distanciamento social, em que as pessoas devem ficar o mínimo possível em locais como supermercados, pensar em embalagens menores para este segmento é válido, pois agiliza a compra”, disse.
Outros pontos importantes levantados referiram-se à rotulagem e rastreabilidade. “Está em vigor a legislação que tornou obrigatórias a rotulagem e rastreabilidade de produtos, independentemente do tamanho da propriedade e o local de venda. Ao cumprir essa legislação, o produtor também já deve aliar à classificação, pois ambos se completam”, acrescentou.
Durante a palestra, Watanabe ressaltou que os produtores têm outros dois importantes desafios para darem um passo à frente na padronização: peso e maturação mínima do produto. “Com o dinamismo do mercado e a alta perecibilidade e fragilidade de certos produtos, alguns produtores acabam vendendo a granel ou mesmo em caixas, sem pesar a carga, o que pode gerar distorções no mercado e menor lucratividade ao produtor”, enfatizou.
Vantagens da padronização
– Utilização de características mensuráveis e garantia de homogeneidade.
– Redução de avaliação subjetiva da qualidade e até da quantidade do produto (no caso de o hortifruti não ser pesado), a qual resulta em perdas econômicas para uma das partes envolvidas.
– Melhora da confiança na relação comercial, reduzindo comportamentos oportunistas e permitindo uma melhor valorização do produto.
– Redução do custo de inspeção e reclassificação por parte do comprador.
– Amplia as oportunidades de negócios, permitindo segmentação de mercado, diferenciação do produto e comercialização em ambientes virtuais.
– Redução do volume de perdas na cadeia de comercialização, na medida que diminui o manuseio do produto após o seu acondicionamento.