Com a pandemia, sua renda familiar caiu e ele não conseguiu quitar as dívidas com a faculdade.
Por Mariana Nadaleto, G1 Santos
Um estudante de Medicina, de 26 anos, foi impedido de continuar o curso devido a uma dívida de R$ 101 mil que ele tem com a faculdade. Devido à pandemia do novo coronavírus, sua renda familiar caiu muito e não foi possível arcar com as mensalidades. Agora, o jovem aposta em uma vaquinha virtual para arrecadar o dinheiro e regularizar a sua situação.
O estudante Michael Denner Nunes Lino sempre teve o sonho de cursar medicina. Sua paixão pela profissão começou quando acompanhava a mãe, que é enfermeira, em alguns dias de trabalho. Desde que contou para os pais da sua decisão, eles começaram a juntar dinheiro em uma poupança, mas o valor deu apenas para os primeiros três anos.
“No momento, eu me sinto sem chão. Só a fé me deixa de pé. Estou tão próximo de me formar, mas parece algo distante e tudo por causa do dinheiro. Porque determinação eu tenho, não me vejo fazendo outra coisa da vida. Depois que a poupança acabou, as coisas começaram a ficar bem complicadas”, conta o jovem.
As contas vinham se acumulando desde o segundo semestre de 2019, mas a família conseguiu fazer uma renegociação com a Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e adiou o pagamento da dívida para esse ano. Porém, com a pandemia, os cursos e palestras oferecidos pelo seu pai diminuíram e, consequentemente, a renda familiar também. Além disso, o pai ainda precisa sustentar outros quatro filhos.
Com isso, desde esta segunda-feira (10), Michael está impedido de entrar na Santa Casa de Santos, onde cursa as atividades práticas do quinto ano de Medicina. Sua grande tristeza é que, nesse tempo, ele poderia estar aprendendo e também ajudando muitos pacientes na unidade de saúde. Por isso, ele precisa acertar a dívida o mais rápido possível.
Para Michael, além de realizar um sonho, se formar na faculdade trará o grande orgulho por ser o primeiro da família a cursar Medicina. “Meu trisavô era escravo. Meu avô trabalhou em fábrica e meus pais fizeram faculdade de Enfermagem. Vejo isso como uma rápida ascensão na família. Também tenho muito orgulho por ser o único homem negro na Universidade”.
Segundo seus amigos, o jovem sempre foi muito estudioso e conseguiu com muito mérito entrar em uma faculdade particular. Seu histórico estudantil é excelente e sempre foi muito elogiado pelos professores, além de estar sempre interessado na vida acadêmica.
Campanha
A mensalidade do curso custa R$ 7,4 mil e a dívida já soma R$ 101 mil. Até o momento, o jovem conseguiu 200 apoiadores e já arrecadou R$ 26 mil. “Estou impressionado de ver tanta gente me ajudando e acreditando em mim. Não achei que ia ter essa repercussão. Agora, minha missão de ser um bom profissional e ajudar as pessoas está ainda maior”.
Quem deu o pontapé inicial para a vaquinha virtual foi a sua namorada Letícia Nano, de 21 anos. De acordo com ela, Michael decidiu cursar medicina para poder usar sua própria vida como instrumento para ajudar as outras pessoas. “É muito estudioso, aplicado e esforçado academicamente. Em sua vida pessoal, também destina parte do seu tempo em projetos voluntários. Ajudá-lo a se formar é acreditar no futuro da Medicina do Brasil. Uma medicina mais plural, anti-racista e bondosa”.