Pesquisa da FGV aponta que evasão escolar é o principal motivo para redução na carga horária de estudos de alunos de escola pública.
A pandemia do coronavírus fez com que alunos de escola pública estudassem quase 50% menos. Antes da crise sanitária, estudantes da rede pública de ensino na faixa etária de 6 a 15 anos passavam cerca de 4 horas e 10 minutos dedicados aos estudos, por dia. Com a pandemia, a carga horária despencou para 2 horas e 11 minutos. Os dados são de uma pesquisa inédita realizada pela FGV.
Segundo o levantamento, a situação é ainda pior para crianças de famílias que recebiam o Bolsa Família. Para elas, o número de horas estudadas caiu de 4 horas e 1 minuto para 2 horas e 1 minuto, o que representa uma queda de aproximadamente 50%.
A explicação encontrada para o problema é a evasão escolar, que, segundo a FGV, recuou ao patamar de 14 anos atrás. De acordo com o estudo, somente no terceiro trimestre de 2021, o não comparecimento dos alunos às salas de aula aumentou 128%, quando comparado com momentos anteriores à pandemia.
Outro fator que explica a evasão escolar é a entrada de jovens no mercado de trabalho devido à necessidade de complementar a renda da família, que teve quedas abruptas no período. A pesquisa mostra que as crianças mais velhas foram as que mais tiveram redução na carga horária de estudos.
No entanto, são as crianças mais novas que mais se ausentaram das salas de aula. Entre os alunos de 5 a 9 anos da rede pública, a evasão escolar subiu de 1,41% para 5,51% durante a pandemia. Para os especialistas da FGV, o medo do contágio fez com que essas crianças permanecessem mais tempo em isolamento social, sendo que muitas ainda não voltaram às aulas presenciais.
Eles afirmam ainda que o dado é preocupante, já que as crianças mais novas estão em uma fase “crucial de desenvolvimento da pessoa”, sendo fundamental o convívio nas escolas.
“A gente percebe que, em áreas mais remotas e quando as famílias têm menor renda, a evasão cresce de forma exponencial. O estudo é de extrema importância para as crianças mais pobres, porque a instrução equaliza a possibilidade de conseguir um trabalho. Sem as escolas, a desigualdade fica muito evidente e a pandemia vai deixar seu legado, infelizmente”, disse o coordenador do estudo e economista da FGV, Marcelo Neri, em entrevista à CNN.
A pesquisa confirma ainda a desigualdade social do país. Enquanto os alunos de escola pública tiveram redução de quase 50% na carga horária de estudos, os alunos da rede privada, que estudavam por cerca de 4 horas e 30 minutos antes da pandemia, hoje estudam em média por 3 horas e 10 minutos, uma redução bem menor.
Fonte: CNN Brasil
