Aves ficaram desaparecidas na região por mais de 100 anos; especialistas atuam no projeto de reintrodução da espécie desde 2015.
Por Terra da Gente
Povoada em 1818, a cidade de Araras (SP) na época era conhecida pelas fazendas de lavoura de café, responsáveis pelo progresso que surgia na região. No entanto, o que caracterizava mesmo o município era a presença das araras-canindé.
As aves compunham o cenário local, até perderem espaço para a expansão urbana: por mais de 100 anos a espécie foi tida como extinta no município. O cenário só mudou a partir de 2015, graças ao trabalho de pesquisadores do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, que permitiu o retorno das araras à cidade.
Os resultados dos cinco anos de trabalho dedicados ao projeto são comprovados por registros feitos pelos moradores e turistas. Foi o que aconteceu com a vendedora de plantas ornamentais, Jessica Bueno, que teve um grato encontro com a natureza durante um passeio de bicicleta.
“Estávamos pedalando em uma estrada de terra, entre o distrito de Ajapi e a cidade de Araras, quando encontramos duas aves. Foi muito legal e emocionante poder observá-las”, conta.
Junto aos colegas do grupo Brutta Biker, Jessica aproveita as saídas aos finais de semana para praticar atividade física e admirar a natureza. “Esse contato com o natural me traz liberdade e disposição”.
De acordo com o biólogo Fernando Magnani, responsável técnico pela área de soltura na cidade, a expectativa é que encontros como esses sejam cada vez mais frequentes. “Quem sabe um dia as pessoas achem natural que as araras pousem na praça, que façam parte da paisagem”, comenta.
Durante os cinco anos de trabalho do CRAS mais de 500 araras foram reabilitadas e soltas, o equivalente a 60% das aves atendidas pela equipe.
Araras à vista
Aves vítimas do tráfico ilegal de animais, ou ainda resgatadas com ferimentos, são tratadas pela equipe do CRAS e passam por etapas de reabilitação, até o dia da soltura.
O processo começa com uma avaliação clínica da ave: médicos veterinários avaliam a possibilidade de recuperação do animal. Depois, as aves são encaminhadas para a quarentena até conseguirem se alimentar sozinha. Com o desenvolvimento, passam para viveiros, onde podem treinar o voo, para então voltar à natureza.
Entre os desafios do tratamento, Fernanda Magajevski, veterinária e responsável técnica do CRAS, destaca a dificuldade de reabilitar aves acostumadas à presença e interação humana.
“Esses casos são os mais difíceis, porque o animal chega dependente do homem e nós precisamos tirar esse hábito dele. Caso contrário, a ave se torna novamente uma presa fácil para ser capturado, vendido ou até maltratado”, finaliza.