Desempregado, o engenheiro Cristian Gallerani resolveu recorrer ao doce típico de seu país natal para conseguir pagar o aluguel. Agora, projeta triplicar faturamento e bater R$ 600 mil em 2022.
Uma história de amor transformou um engenheiro argentino em empreendedor no Brasil. Cristian Gallerani, de 31 anos, é dono da Hermano Sabores Argentinos, uma empresa especializada em alfajores artesanais que, como ele define, atua com “receita argentina e indústria brasileira”. A empresa faturou mais de R$ 220 mil no ano passado e projeta triplicar esse montante em 2022. Além disso, foi reconhecida em um campeonato mundial no mês passado, sediado em Buenos Aires – a capital mundial do alfajor.
Gallerani não previa nada disso quando veio fazer um intercâmbio no Brasil em 2015, mais precisamente em Caxias do Sul (RS). Enquanto esteve por aqui, ele se apaixonou por uma brasileira. No entanto, ao término do programa, ele precisou voltar para Mendoza, região em que morava. Por lá, foi trabalhar na área logística de postos de gasolina com o claro objetivo de retornar ao Brasil.
Sem reservas para arcar com os novos compromissos financeiros
Seis meses depois, quando cruzou a fronteira novamente, ele buscou por emprego em sua área, de engenharia de produção, mas não encontrou. Gallerani conseguiu um projeto em empresa de outro argentino, que tinha uma pequena indústria de tecidos para hospitais. “Foi aí que eu fui morar sozinho. Aluguei um apartamento e saí da casa do sogro”, diz. No entanto, pouco tempo depois, o projeto foi cancelado, e ele se viu quase sem reservas para arcar com os novos compromissos financeiros.
Gallerani conta que sempre quis ter um negócio próprio, mas não imaginava que o impulso para pensar em algo seria uma necessidade urgente. “Comecei a pensar no que eu poderia trazer da Argentina, do que eu conhecia, e cheguei aos alfajores.” Ele começou de forma bem caseira, em outubro de 2017, com um cilindro emprestado da avó da namorada e a compra de R$ 50 em insumos, além de incansáveis testes de receita – Gallerani não tinha experiência com alimentação. “Fiz um teste ou outro no forno, aprimorei, busquei outros ingredientes e saímos na rua para vender.”
Vendendo em pequenos comércios
O empreendedor começou vendendo em pequenos comércios da região, como uma rede de supermercados. “Minha esposa é do marketing e me ajudou a montar marca e planejamento estratégico. Em um mês já estava em diferentes pontos de venda”, conta. A empresa nasceu com o nome de Buenos Alfajores e, durante o primeiro ano, funcionou no apartamento alugado de Gallerani. O faturamento nesse período foi de cerca de R$ 50 mil, com uma produção média de 80 alfajores por dia.
Por volta de outubro de 2018, ele alugou uma sala só para a produção com um funcionário e, cerca de sete meses depois, precisou recrutar mais gente. Hoje, a marca também vende diretamente para o consumidor final por e-commerce e iFood, mas a frente representa cerca de 5% do faturamento. “Desde o início colocamos o alfajor como um item presenteável. As empresas compram brindes para funcionários ou clientes, e isso aumentou nossa demanda, principalmente em períodos mais ociosos, como no verão.”
Além dos alfajores de marca própria, ele passou a internalizar a produção de outras empresas. Atualmente, a produz vinte itens de sete marcas diferentes. Há cerca de três meses, Gallerani resolveu repensar o negócio. Ele mudou o nome da empresa para Hermano Sabores Argentinos, para não limitar a alfajores, uma vez que pretende ampliar o mix. Os primeiros devem sair até o final do mês: mini alfajores e uma versão 70% cacau.
Medalha de prata no Campeonato Mundial de Alfajores
Em agosto, a Hermano ganhou mais um impulso: a marca recebeu uma medalha de prata no Campeonato Mundial de Alfajores, promovido pelo governo de Buenos Aires, na categoria “Melhor Aroma de Alfajor”. De acordo com a organização do evento, o país vizinho consome mais de seis milhões de alfajores por dia. Com um mercado tão competitivo, Gallerani pretende concentrar os esforços por aqui mesmo.
Agora a marca também passou a fechar parcerias com outras regiões, com distribuição em Minas Gerais, São Paulo e na Serra Gaúcha, além de Porto Alegre. Com uma fábrica de 120 metros quadrados, sete funcionários e produção diária de quatro mil alfajores, o plano é fechar o ano com um faturamento de R$ 600 mil.