Bebê que nasceu em UTI de Covid-19 recebe alta; mãe tem melhora e vê filha por videoconferência

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Equipe médica teve de improvisar centro cirúrgico para que mãe e filha sobrevivessem.

Por Fabrício Lobel, TV Globo

Com pouco mais de um mês de vida, a menina Eliza Vitória teve alta do Hospital das Clínicas de São Paulo nesta semana. A bebê estava internada desde que nasceu no último domingo de Páscoa, dia 12 de abril, em uma cesárea de urgência. A mãe, Maira Rodrigues de Melo, 28, estava em estado grave entubada na UTI do hospital para pacientes de Covid-19.

Desde então, a recém-nascida ganhou peso e pôde ir para casa. Já a mãe, permanece na UTI, mas não precisa mais do tubo para respirar. Consciente, ela conheceu a filha por uma chamada de vídeo.

A vigilante Maira começou a ter os primeiros sintomas da Covid-19, no início de abril, quando estava na 30ª semana de gestação (de um total de 40). Ela estava internada por causa de uma infecção quando passou a sentir dor nas costas, na garganta e febre. Mesmo assim, recebeu alta e foi para casa sem que os sintomas fossem investigados.

As dores persistiram e estavam acompanhadas de um cansaço incessante. A partir de então, Maira começa sua peregrinação por hospitais que atenderiam o seu plano de saúde (“dos mais básicos, segundo a família”). No terceiro hospital privado em que deu entrada, os médicos constataram que os pulmões de Maira já não absorviam o oxigênio necessário para o seu corpo e o do feto. O ideal era que Maira estivesse num hospital com UTI neonatal. Não era o caso.

Maira estava com 50% dos pulmões comprometidos quando teve de ser entubada. Michele Pereira, irmã de Maira, sugeriu que os médicos buscassem uma vaga num hospital público.

A vaga que surgiu era no hospital das Clínicas. Desde março, o maior centro hospitalar da América Latina havia criado uma UTI para casos graves de Covid-19 em seu 11º andar. De cada lado de um longo corredor, estão os pacientes, em pequenas salas completamente isoladas umas das outras, atrás de portas de vidro. Maira foi logo levada para um desses leitos.

“Quando ela chegou, esse bebê foi monitorizado. Oscilações no coração mostravam o sofrimento fetal”, explica a obstetra do HC Renata Lopes, que decidiu fazer uma cesárea de emergência. Dias depois, a médica descreveria a situação como dramática.

A saúde de Maira era tão frágil que ela não aguentaria ser transferida até um centro cirúrgico, em outra ala do hospital. O transporte exigiria trocá-la de maca e suspender, mesmo que momentaneamente, os remédios e aparelhos que a mantinham vivas. Por isso, a cirurgia foi feita na UTI.

“É preciso entender que a UTI não é um espaço preparado para uma cirurgia, muito menos para uma cesárea com uma criança prematura”, explica Glenda Beozzo, 38, pediatra que participou da cirurgia. “Os equipamentos de um centro cirúrgico não estão na UTI. Você não tem a mesma iluminação para fazer os procedimentos, não tem os mesmos remédios, nem as mesmas seringas”.

A equipe de enfermagem do centro obstétrico do hospital foi chamada para a UTI de Covid e em menos de uma hora instalou no leito da UTI um centro cirúrgico. Assim que nasceu, a menina foi logo retirada da sala e atendida pela pediatra no corredor da UTI.

As portas de vidro dos outros leitos permitiram que uma idosa internada que também estava internada observasse toda a movimentação. “Quando ela viu que eu coloquei um bebê dentro do bercinho, ela arregalou os olhos, pegou um terço e começou a rezar”.

Eliza nasceu com o coração batendo forte, mas, como as médicas esperavam, o pulmão estava enfraquecido pelos remédios que sedaram a mãe. A menina foi entubada e levada para a UTI neonatal. “Eu ainda tive tempo de fazer um sinal para a senhora que estava rezando. Disse que estava tudo bem, que a criança ficaria bem”, conta Glenda emocionada.

Dois exames comprovaram que a criança não havia sido infectada pelo novo coronavírus. Equipes de saúde do hospital passaram a mandar para a família vídeos diários da recuperação da menina.

Já a mãe passou por complicações graves, como uma pneumonia bacteriana. A família chegou a se preparar para que o tratamento não surtisse o efeito desejado. Mas, no último dia 12, quando Eliza completou um mês, Maira teve melhoras significativas. Ainda entubada, conheceu a filha por uma chamada de vídeo feita por um celular. No dia seguinte, a mãe passou a não precisar mais ficar entubada para respirar, mesmo permanecendo na UTI do hospital. Seu quadro de saúde passou de grave para estável.

Na última terça-feira, Eliza teve alta, quando pôde conhecer o pai, José Hilton Rodrigues. Sua saída foi comemorada por profissionais do hospital que aplaudiram a menina. A mãe acompanhou a cena pelo celular.

“Acredito que o pior já passou. Eliza está bem, em casa. E nós agora estamos esperando a volta da Maira”, diz Michelle, irmã de Maira.

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