Com a negativa de conselho, bispo teria conseguido R$ 150 mil para reformar diocese; religioso é acusado de extorsão, enriquecimento ilícito e de acobertar casos de assédio sexual.
O inquérito enviado pela Polícia Civil ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP)aponta denúncias de que o bispo de Limeira (SP), dom Vilson Dias de Oliveira, teria pedido à igreja R$ 50 mil para comprar um imóvel particular. Ele é acusado de extorsão, enriquecimento ilícito e, e ainda, de acobertar assédios que teriam sido cometidos pelo padre de Americana (SP), Pedro Leandro Ricardo.
Dom Vilson foi investigado pela polícia civil a pedido do MP-SP. O resultado foi um inquérito de mais de 300 páginas que cita diversas denúncias de extorsão para enriquecimento ilícito.
Em um dos casos, de 2012, um então integrante do conselho consultivo de uma igreja em Americana afirma em depoimento que um pároco, na época, disse aos conselheiros que o bispo dom Vilson pediu a doação de R$ 50 mil. Ele deu a entender que aquela quantia era para uso particular, insinuando que seria para compra de um imóvel.
Segundo o conselheiro, o padre teria comentado que o bispo disse que se a doação não fosse aprovada, ele iria tirar R$ 150 mil da igreja. Essas informações estão na ata da reunião que foi apresentada pelo padre no dia do depoimento.
O conselho não autorizou a doação, já que era para uso particular. O padre confirmou em depoimento à polícia que, por causa da negativa da igreja, o bispo pediu a contribuição dos R$ 150 mil para obras na Diocese de Limeira.
Em outra denúncia de extorsão, em 2015, o bispo dom Vilson teria pedido R$ 4 mil a um padre de uma paróquia em Artur Nogueira (SP). O padre disse, em depoimento, que o dinheiro era para construir um poço artesiano na casa de praia de dom Vilson, em Itanhaém (SP), na baixada santista.
Dinheiro do próprio patrimônio e dificuldades financeiras
Dom Vilson entregou documentos para o inquérito da polícia que confirmam que ele comprou dois imóveis no litoral sul de São Paulo nos últimos quatro anos no valor de mais de R$ 1 milhão.
Mas em depoimento, ele alegou que tudo foi comprado com dinheiro que vem do patrimônio da família dele e com recursos que ele recebeu das atividades religiosas e também do salário que recebe da Diocese, R$ 12 mil por mês.
Na lista de bens estão um terreno na Avenida Beira Mar, no valor de R$ 460 mil, e duas casas em Itanhaém, uma avaliada em R$ 550 mil e outra em R$ 280 mil.
No depoimento à Polícia Civil, o bispo confirmou ter recebido dinheiro do padre de Artur Nogueira, mas alegou que foi uma doação porque passava por dificuldades financeiras naquela época.
Já em relação às declarações do outro padre, o bispo se defendeu e disse que ele teria pedido várias vezes para ser afastado porque estava doente, mas exigiu que o substituto fosse alguém indicado por ele.
Dom Vilson disse que não acatou a exigência do padre, e segundo ele, a partir daí, o padre começou uma série de denúncias infundadas junto ao Vaticano. O religioso também afirmou que nunca exigiu qualquer valor em dinheiro de qualquer sacerdote da diocese em troca de cargos ou qualquer outra finalidade.
Investigações de desvios e acobertamento de assédios
O inquérito policial foi encaminhado ao Ministério Público, que decide se oferece ou não denúncia contra o bispo dom Vilson.
Em nota, a assessoria da Diocese de Limeira disse que o bispo se declara inocente das acusações e não vai se pronunciar sobre a investigação porque o inquérito corre sob segredo de Justiça.
A polícia também apura denúncias de que dom Vilson teria acobertado crimes de assédio que teriam sido cometidos pelo padre de Americana, Pedro Leandro Ricardo.
Nos dois casos, ele também é investigado pela própria Igreja Católica. Um bispo brasileiro foi designado pelo Vaticano para apurar as denúncias, que teriam acontecido em paróquias de Americana e Araras (SP). Um relatório foi encaminhado para a Nunciatura Apostólica do Brasil, que remete à Congregação dos Bispos.
Denúncias de abusos
No final de janeiro, o padre Pedro Leandro Ricardo foi suspenso pela Diocese de Limeira das funções de reitor e pároco da Basílica Santo Antônio de Pádua, em Americana, durante as investigações policiais que apuram denúncias de abuso sexual contra menores.
A Polícia Civil investiga os casos com três inquéritos. Além dos instaurados em Limeira e Americana, há outro na Delegacia de Araras. Todas as investigações correm em segredo de Justiça.