Brasileiro come larvas e carrega corpos ao decidir viver em motorhome

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Alexandre Garcia de Oliveira, de 50 anos, contou que tomou a decisão para fazer algo que ficasse marcado na família e, sem que ninguém soubesse, vendeu o carro para comprar a ‘casa com rodas’.

O analista de sistema Alexandre Garcia de Oliveira, de 50 anos, viajou em um motorhome com a família durante quatro anos por toda a América do Sul após descobrir que estava com cirrose hepática. Ele contou que tomou a decisão para fazer algo que ficasse marcado na família e que, sem ninguém saber, vendeu o carro para comprar a ‘casa com rodas’.

A família, que antes morava na capital paulista, agora vive em Santos, no litoral de São Paulo. “Há cinco anos eu trabalhava como analista de sistemas em duas empresas e quase não tinha tempo para a minha família, até que um dia passei mal e fui procurar um médico. Depois de muitos exames, ficou constatado que eu estava com cirrose hepática grau quatro”, disse Oliveira.

Na época, ele foi informado que teria pouco tempo de vida caso não mudasse a alimentação e estilo de vida, aliado ao tratamento com remédios e exercícios. Após isso, ele resolveu aproveitar mais o tempo com a família e conseguiu um colégio em que o filho pudesse estudar online sem perder o ano letivo. “Fiz a proposta para a família. Minha esposa e os filhos toparam na hora. Foi uma baita experiência para eles”.

Eles, então, alugaram a casa onde viviam e começaram a viajar por todo o Brasil. “Se passaram oito meses da viagem, minha doença regrediu e decidimos ir além. Percorremos todo o Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia. Começamos no final de 2017 e terminamos em 2021, mas ainda vamos percorrer outros países”.

Para Oliveira, em toda América do Sul há lugares lindos e pessoas amáveis. “Aqui no Brasil nosso lugar preferido foi Bom Jardim, em Nobres (MT), e meu lugar preferido na América do Sul se chama Baños de Agua Santa, no Equador”.

Perrengues

Segundo o analista de sistema, o maior perrengue foi a única coisa para a qual ele não estava preparado: a pandemia. “Quando tudo começou estávamos na Colômbia fazendo a documentação para atravessar ao Panamá. Um amigo militar me ligou e informou que era melhor regressar ao Brasil, pois a situação estava começando a ficar crítica. Neste momento, sentei com a família e decidimos voltar”.

Depois de 30 dias cruzando a Colômbia, a família chegou, na parte da noite, em Cuenca, no Equador. “Era aniversário do meu filho e fomos procurar um bolo para celebração, tudo normal. Dormimos e acordamos às 6h para seguir em direção ao Peru. Liguei o motorhome, liguei a internet e recebemos a informação de que as fronteiras fecharam”.

Neste momento, Oliveira pensou que ficariam, no máximo, uns três dias aguardando, no entanto, ficaram ‘presos’ por um ano no Equador por causa das fronteiras fechadas. “No segundo dia de fronteiras fechadas começamos a ficar bem preocupados, pois as pessoas já não olhavam os turistas com os mesmos olhos. Na primeira semana ficamos em uma praça onde viajantes de motorhomes ficam e já não era mais tão seguro”.

“Comecei a ligar para alguns amigos motociclistas que me indicaram um amigo que morava a seis horas de onde estávamos, foi aí que ele me ligou e disse para ir o mais rápido possível, que tinha um rancho onde poderíamos ficar seguros. Fomos e fomos bem recebidos”, relembrou.

Segundo o analista de sistemas, eles começaram a ver um movimento estranho em que pessoas que morriam de Covid-19 em casa eram queimadas na rua com papelão e querosene. “Isso deixou minha esposa muito abalada. Depois de 30 dias no rancho, este meu amigo me chamou e disse que as equipes de resgate estavam precisando de ajuda. Fui voluntário por três meses carregando corpos, levando medicação e alimentos às famílias que moravam em alta altitude nas montanhas”.

“Todo dia antes de entrar no motorhome eu ia para um canto e chorava, pois pensava que todos iriam morrer. Depois de três meses, consegui um salvo-conduto para ir a outra cidade, onde tenho um amigo que nos ofereceu um lugar para ficar, hoje sendo meu lugar mais querido: o vilarejo de Baños de Agua Santa”, disse.

Se conhecer

Em uma postagem nas redes sociais, o analista de sistema disse que a vida “não é sobre ter ou sobre ser, mas se conhecer”. Segundo ele, para quem deseja entender melhor a si mesmo ou a sua família, a dica é alugar um motorhome durante uns dias para entender melhor quem cada um é. “E digo isso para corrigir pequenos erros, entender e compreender melhor uns aos outros”.

Ele explicou, ainda, que um espaço de seis metros é aconchegante, mas não possui lugar para brigas ou ficar com a cara virada para o outro. “Vivemos muitas experiências em nossa expedição”.

Alimentos exóticos

Oliveira afirmou que o intuito da viagem era viver a experiência completa, o que incluiu também provas pratos típicos dos países. No Equador, eles provaram o chontacuro, feito basicamente com vermes e servido com mandioca e vinagrete.

“Provamos o chontacuro, que é uma larva grande. Provamos o cuy, que é um porquinho-da-índia e em todo lugar do Peru e Equador tem e o delicioso creme de brócolis com pipoca”. Além disso, o analista de sistemas também experimentou sancocho e bandeja paisa, pratos típicos da Colômbia.

“Não há dificuldade quando se tem harmonia, respeito por outras culturas e uma condição financeira estável, podendo fazer tudo o que se faz em uma residência normal, como trabalhar pela internet. Íamos ao mercado fazer compras para a nossa casa, temos placas solares para energia e tanque de água de 200 litros para banho”, disse o analista de sistemas.

Antes de viajar à América do Sul, ele somente tinha realizado viagens pelo Brasil, mas agora os planos são de conhecer, também, a América Central. “É uma experiência que nos acrescentou muito em valores de coisas simples, que não damos muita importância nos dias atuais. Para mim, ficou marcado e cravado em meu espírito”.

Por Brenda Bento, g1 Santos

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