Como o WhatsApp mobilizou caminhoneiros, driblou governo e pode impactar eleições

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Depois dos papéis de peso do Twitter na Primavera Árabe em 2011 e do Facebook nas manifestações brasileiras de junho de 2013, chegou a vez do WhatsApp protagonizar a organização de uma mobilização.

Depois de uma insurreição popular convocada por SMS em Moçambique, em 2010, da Primavera Árabe difundida pelo Twitter no Oriente Médio, em 2011, e das manifestações brasileiras de junho de 2013 impulsionadas pelo Facebook, chegou a vez do WhatsApp ocupar o protagonismo na organização de uma mobilização.

A greve dos caminhoneiros, que interditou milhares de trechos de rodovias em todo o país ao longo de dez dias, é a maior mobilização mundial já feita pelo WhatsApp, dizem Yasodara Córdova, pesquisadora da Escola de Governo de Harvard, nos Estados Unidos, que estuda como os governos lidam com a Internet, e Fabrício Benevenuto, professor de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pioneiro na pesquisa de conteúdos compartilhados em grupos de WhatsApp. “A mobilização ocorre por motivos sociais. As redes dão uma vazão a esses sentimentos”, diz Yasodara.

WhatsApp vai ser importante nas eleições de 2018

O WhatsApp, usado por 60% da população do Brasil, já é uma das principais fontes de informação no país. Segundo o Digital News Report de 2017, um estudo sobre o consumo de notícias produzido em conjunto pela Reuters Institute e pela Universidade de Oxford em 36 países, 46% dos brasileiros usam WhatsApp para encontrar notícias.

O número é muito maior do que a média mundial, de 15%, e chamou a atenção dos pesquisadores. No estudo, eles destacaram que o WhatsApp cresceu tanto no Brasil que já está rivalizando com o Facebook – usado por 57% dos brasileiros para encontrar notícias.

“A greve de caminhoneiros aponta totalmente como pode ser o uso do WhatsApp nas eleições de 2018”, diz Maurício Moura, pesquisador da George Washington University, nos Estados Unidos, que analisou o uso do aplicativo nas eleições de 2014. Segundo o pesquisador, a tendência é que o debate eleitoral deste ano ocorra muito dentro do app de conversas.

“A rede social das eleições de 2018 vai ser o WhatsApp. Hoje, muito mais pessoas têm smarthphones no Brasil do que em 2014”, avalia Moura, que também já trabalhou com campanhas políticas e é fundador da Ideia Big Data, que realiza pesquisas de opinião. “Agora, não tem como fazer campanha no WhatsApp sem números de telefone. Por isso, a primeira estratégia dos candidatos e partidos é coletar números de celular, em eventos, fan pages…”.

Mesmo antes da campanha, já há diversos grupos de apoiadores de candidatos, como Jair Bolsonaro. “A tendência é as pessoas se organizarem nos grupos de WhatsApp em torno de candidatos e pautas. Por outro lado, pessoas que querem desestabilizar as campanhas umas das outras também estarão operando nos grupos de WhatsApp com bastante intensidade”, acrescenta Yasodara.

O combate às notícias falsas, que se tornou uma grande preocupação desde a eleição de Donald Trump, em 2016, promete ser muito mais difícil no WhatsApp. O Facebook, por exemplo, se comprometeu a não impulsionar páginas que promovam notícias falsas. A rede social pode fazer isso porque funciona como uma mediadora das publicações. Já no WhatsApp, onde não há nenhuma forma de controle externo, isso é impossível.

“Enquanto Facebook e Twitter estiveram sob forte escrutínio nos últimos tempos, o WhatsApp passou um pouco batido. Porém, o app é extremamente utilizado dentro do Brasil. Com toda essa atenção que se deu às outras redes, muito do esforço de campanha política migra para o WhatsApp, onde não há quase nenhum monitoramento”, diz Benevenuto, da UFMG.

No WhatsApp, combater notícias falsas e discursos de ódio “é um desafio tão complexo quanto regular o discurso dentro das casas das pessoas”, compara Yasodara. “Como a sociedade faz para que os pais não ensinem aos filhos que o nazismo é uma coisa legal? Primeiro, criminaliza o que é ilegal. Segundo, traz cada vez mais informações verdadeiras para o debate público “, opina a pesquisadora de Harvard.

Fonte: G1

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