A bancada do partido do governador Márcio França, o PSB, dobrou
na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) desde o início da atual legislatura,
em janeiro de 2015. Em abril de 2018, França assumiu a vaga de Geraldo Alckmin (PSDB) já se lançando como pré-candidato à reeleição em outubro.
Nas eleições de 2014, o PSB elegeu seis deputados estaduais. Agora, conta com 12: três que deixaram o PSDB; um, o PDT; um o DEM; e um, o PCdoB. Durante a atual legislatura, a bancada do PSB foi a que mais cresceu na Alesp, passando a ser a terceira maior. Dos seis novatos, cinco chegaram à sigla na última janela de
transferências partidárias, entre 8 de março e 6 de abril.
À frente do PSB, estão o PSDB, com 19 cadeiras (tinha 22, perdeu cinco e ganhou duas), e o PT, com 14 (dos 15 eleitos, um migrou para o PSOL).
O apoio a França – que convidou pessoalmente quase todos os novos filiados – e o desencanto com o ex-prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), foram apontados pelos deputados como o principal motivo para duplicar a bancada socialista.
“É um grande estímulo a vinda desses deputados. Todos têm histórico voltado para política e cumprimento da palavra, por isso se identificam com Márcio França”, diz
Caio França, líder do PSB na Alesp e filho do atual governador. “Todos eles aguardavam a candidatura do PSDB. Por entenderem que França foi leal ao Alckmin, quando o PSDB decidiu por Doria, decidiram sair por coerência”, complementou o filho do governador.
Líder do PSDB, Marco Vinholi minimiza as perdas. “Mostra que o Márcio França fez um esforço grande para aumentar a bancada do PSB aqui na Assembleia. O PSB era só a quinta maior “, diz. “Mas do mesmo jeito que ele atraiu alguns deputados, nós também atraímos deputados que vieram por João Doria governador. Nossa
expectativa nesta eleição é muito boa. Estamos confiantes”.
Insatisfação com Doria
Políticos com história dentro do PSDB, os deputados Roberto Engler,
Barros Munhoz e João Caramez (que assumiu como suplente de Mauro Bragato, que perdeu o mandato) contam que decidiram ir ao PSB por apoio a França e por não se sentirem representados por Doria. Só Engler e Munhoz, juntos, receberam
317,4 mil votos em 2014.
“Tenho 42 anos de vida pública. Entendo que essa eleição para governador e presidente é vital para o Brasil. A primeira característica de um bom político é não mentir e ter palavra. Por isso, não posso aceitar a candidatura de Doria a governador”, justifica Barros Munhoz.
O parlamentar diz que estava bem no PSDB, mas que se decepcionou ao ver a ascensão de Doria no partido, mesmo “fazendo campanha aberta à Presidência, passando por cima de seu padrinho político “. “Alckmin, que tinha que ficar preocupado com o Brasil, tinha que ficar olhando SP. O candidato natural era o Márcio França. Houve várias reuniões tratando desse assunto nos últimos três
anos. Criou essa divisão na Assembleia que está afetando Alckmin. Me senti revoltado e inconformado”, afirma o deputado.
Roberto Engler analisa de maneira parecida. “Sou um dos fundadores do PSDB. Tinha 30 anos no partido. Me aproximei do Márcio França, tive quatro reuniões, queria conhecê-lo, queria saber seus projetos de desenvolvimento pro estado. Achei
que essa era a pessoa indicada para governar o estado, pela forma que coloca os valores que acredito na
vida”.
Engler conta que França o convidou para trocar de partido após as quatro reuniões. “Aqui eu encontrava uma solução. França é um líder. Já tinha avisado na minha bancada que eu não iria apoiar o Doria. É uma pessoa sem história, com curta trajetória política.
Quando foram feitas as prévias e ele foi ungido candidato do PSDB, fiquei numa saia ajusta”.
Já João Caramez diz que a decisão de deixar o PSDB foi pautada na “coerência”. “Mudei do PMDB para o PDT em 1990. E em 1994, como prefeito de Itapevi, deixei de apoiar o candidato do PDT que ganhava as pesquisas, e fui apoiar o Mario Covas, no PSDB. Não queria contrariar a minha coerência”, disse.
“Construí uma vida partidária junto ao PSDB. Passados 23 anos, não posso continuar no partido em que a escolha de um candidato foi truculenta. Não posso ficar num partido de um candidato em que não acredito e não confio. Fui para o PSB por ver a lealdade do Márcio França ao Geraldo Alckmin, que ainda é meu
candidato”, afirmou.
“Estratégia” dos novos socialistas
Outro novato no PSB, o deputado Rafael Silva, conta que deixou o PDT porque seu antigo partido “não está formando chapa de forma adequada”. “Meu filho teve 98 mil votos. E o PDT não fez coeficiente para eleger”, lembra. “O eleitor vota em você, mas você não consegue fazer política. Eu tinha muito bom relacionamento com
[Leonel] Brizola, mas hoje o PDT não forma chapa. Fica inviável. Escolhi o PSB porque conheço o Marcio França de muitos anos”, afirma o deputado.
Já Júnior Aprillanti trocou o PCdoB pelo PSB em 2016 quando foi candidato a prefeito na cidade de Várzea Paulista. Ele ficou em segundo. “Troquei na janela de 2016 para disputar a prefeitura. Fui junto com o Átila Jacomussi, que virou prefeito de Mauá”. Suplente, ele assumiu o cargo em 2017.
“O Márcio era vice-governador e me convidou para o partido. O PCdoB me acompanhou e fez coligação com o PSB durante a minha candidatura, em 2016”.
Gil Lancaster, que foi eleito pelo DEM, explica que trocou de legenda “por medidas estratégicas e, também, maior afinidade com membros do meu atual partido”, o PSB. “Minha saída foi pacífica, avisada com antecedência e continuo amigo de todos os integrantes da legenda”, afirma.
Novos tucanos citam história e “time grande”
Além de Engler, Munhoz e Caramez, o PSDB perdeu na atual legislatura o deputado Coronel Telhada, que foi ao PP. Celso Giglio, que morreu em julho de 2017, foi substituído por Vitor Sapienza (PPS).
Em contrapartida, o partido recebeu Cássio Navarro, que deixou o MDB, e Márcio Camargo, que saiu do PSC. Juntos, os dois tiveram 119,6 mil votos. Navarro, que mudou de partido na janela partidária, alega que tinha história pelo PSDB, ao qual já fora filiado antes. “Minha região da Baixada Santista ficou esvaziada pelo PSDB. Não tinha nenhum deputado estadual do PSDB na Baixada.
Convidado pelo Bruno Covas [prefeito de São Paulo], para liderar o trabalho do partido na Baixada, aceitei regressar ao partido”, conta.
Já Márcio Camargo diz que trocou “um time pequeno por um time grande, como se fosse jogador de futebol”.
Segundo o parlamentar, o PSDB é “o maior partido de direita do Brasil” e, por isso, se sentiu acolhido. “O PSC é um partido de que posso só falar bem. Fui líder da Assembleia, mas é de médio para pequeno. As coisas são impostas e não discutidas. No PSDB, há reuniões. Saí de uma mercearia e fui trabalhar num shopping center”, afirmou.
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