Covid-19: ‘Você acha que não vai conseguir respirar sozinho’, diz paciente que ficou 5 dias na UTI em Araras, SP

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O metalúrgico José Silvério Junior, de 58 anos, agradece o atendimento dos profissionais de saúde que fez com que ele recuperasse.

Por G1 São Carlos e Araraquara

“É um período difícil, não é fácil. É muita dor, a febre é alta, o desconforto é muito grande. A falta de ar e a tosse vieram depois e é horrível porque você acha que não vai conseguir respirar sozinho.” Dessa forma o metalúrgico José Silvério Junior, de 58 anos, descreve o que passou entre os primeiros sintomas da Covid-19 e a alta de um hospital particular de Araras (SP).

Silvério voltou para casa há uma semana após ficar cinco dias internado na UTI e credita a sua recuperação aos profissionais que cuidaram deleneste período. “Eu saí de lá chorando porque eles foram como uma família para mim”, disse, emocionado. “Eu agradeço muito o trabalho deles, a gente tem que valorizar a vida deles. A gente tem que ouvir a ciência, ouvir os médicos”, completou.

O metalúrgico ficou impressionado com os cuidados da área de isolamento para os pacientes com Covid-19 no hospital. “Eu vi os médicos e enfermeiros, o aparato que eles têm que usar, a roupa que eles têm que vestir. Cada vez que eu precisava ir no banheiro, era de 10 a 15 minutos para eles poderem entrar no meu quarto. Eles tinham que se preparar, pareciam um astronauta. Aí eu ia no banheiro, voltava eles colocavam o aparelho em mim, e tiravam tudo aquele aparato, as luvas, avental e jogavam tudo fora e voltavam para lá, é muito trabalho para eles”, contou.

O metalúrgico José Silvério Junior, de 58 anos, está se recuperando da Covid-19 em Araras — Foto: Arquivo pessoal

Longe da família

Em seu tempo internado, José Silvério não precisou usar respirador, mas a partir do momento que entrou no quarto onde ficou isolado, não viu mais a família. “No começou eu assustei porque você fica numa sala fechada, só com uma parede de vidro, e você não vê mais nada. A gente assusta por saber que ali você vai ver só aqueles profissionais, quando eles podem entrar. A gente assusta porque não sabe se vai melhorar ou piorar, é tudo muito novo, até para eles”, disse.

Durante o período que esteve internado, a comunicação com a família foi feita somente por celular, assim mesmo por mensagens porque Silvério tinha cansaço até para falar.

Confusão com dengue

José Silvério começou a passar mal na noite de 17 de abril, com uma dor de cabeça, mas o diagnóstico de Covid-19 só ocorreu em 28 de abril, quando ele foi internado.

Dois dias após começar a passar mal ele procurou o hospital, com muita dor no corpo e febre constante, mas no início, o seu caso foi tratado como dengue.

“No começo foi muito parecido com dengue, dor no corpo, febre que não passava. Não tive tosse no começo. Não podia relar a mão na cabeça que doía, era na cama o dia inteiro. Além disso, no meu bairro tem muito caso de dengue”, disse.

Durante dez dias, com a piora dos sintomas e muito cansaço e fraqueza, ele voltou à unidade de saúde várias vezes até que foi feita uma tomografia que mostrou que o pulmão estava comprometido.

“Só a tomografia já deu característico de pneumonia ou Covid. O médico disse que ia interna-lo na UTI, fazer os testes e iniciar o tratamento. A partir desse momento, a gente não viu mais ele. É muito chocante não poder ver a pessoa mais”, contou o filho André Tiago Silvério.

Ele conta que, até então, a família não tinha cogitado que José Silvério tivesse Covid-19. “Eu fiquei contente quando o médico disse que era dengue porque dengue você já sabe como é: não tem remédio mesmo, você tem que passar por aquele sofrimento sete a dez dias, depois fica bom. Até a hora que o médico internou ele não passava pela minha cabeça que era Covid. Porque a gente vê que acontece no mundo inteiro, mas não passa pela cabeça que vai acontecer na casa da gente. Eu não consegui nem pensar em nada, eu só escutei”, contou.

O metalúrgico José Silvério Junior, de 58 anos, agradece o atendimento dos profissionais de saúde que fez com que ele recuperasse — Foto: Divulgação

Esposa apresentou sintomas

Além de José Silvério, a sua esposa, Sandra Silvério, de 52 anos apresentou sintomas. Após uma gripe muito forte que a impediu de trabalhar por um dia, ela perdeu o olfato e o paladar. Embora, os médicos dissessem que esses sintomas eram indicativos de Covid-19, ela não foi testada na rede de saúde de Araras.

Acabou por fazer um exame em um laboratório particular de Rio Claro (SP), que deu negativo. Segundo José Silvério, ela foi atendida pelos médicos por celular e agora o olfato e o paladar estão voltando aos poucos.

O filho André também fez o teste em Rio Claro e teve resultado negativo. Mesmo assim a preocupação ainda não passou. Com a volta de José Silvério para casa, tudo precisou ser separado: utensílios de cozinha, telefone e até o banheiro são utilizados exclusivamente por ele e seguirá assim até o final da quarentena de 14 dias que começou a ser contada a partir do momento que ele saiu do hospital.

Mesmo assim, estar em casa já é um alívio para o metalúrgico que não sabe onde pegou a Covid-19, mas disse que a experiência mostrou que é preciso alertar do quanto o vírus é perigoso.

“A minha vida era a fábrica, passava no mercado buscava um paõzinho e vinha para casa, tomando todos os cuidados e mesmo assim eu peguei. Tem que obedecer ao isolamento social”, disse.

Filho e esposa de José Silvério testaram negativo para Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal
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