Criança de 1 ano e 10 meses morreu em Leme (SP) após ser agredida pelo padrasto na quarta-feira (17), segundo a Polícia Civil. Ele e a mãe foram presos temporariamente.
Por G1 São Carlos Araraquara
A creche de Leme (SP) onde estava matriculada a menina Lorena Capelli, de um 1 ano e 10 meses, já havia denunciado possíveis maus-tratos dois dias antes da morte da criança. O padrasto dela, de 29 anos, confessou que a agrediu ao se irritar quando a alimentava, na quarta-feira (17).
Luis Felipe Britto e a mãe, Natália Oliveira Alves Nogueira, de 23, foram ouvidos e presos temporariamente por 30 dias suspeitos de homicídio qualificado por motivo fútil. Eles ainda não apresentaram advogado de defesa, segundo a polícia.
Um exame preliminar feito pelo Instituto Médico Legal (IML) constatou que a criança teve traumatismo craniano e hematomas pelo corpo. Agora a polícia investiga se ela era agredida com frequência e até que ponto a mãe pode ter sido responsável pela morte da filha.
Suspeitas da diretora
Segundo a Secretária de Educação de Leme, Andréia Maria Begnami Mazzi, a diretora da creche localizada no mesmo bairro em que Lorena morava foi a primeira a suspeitar das agressões à garota. Mesmo matriculada há pouco mais de um mês, a menina só foi à aula três vezes.
Para entender o motivo das faltas, a diretora procurou a mãe na sua casa, que informou que a menina estava com uma tala na perna e não poderia ir para a creche.
Em 4 de abril, Natália levou até a creche uma cópia do hemograma feito no dia anterior para justificar novamente as faltas de Lorena.
O documento médico apontava que a menina tinha tombocitemia, uma doença crônica que aumenta as plaquetas, o risco de trombose e de hemorragias. Segundo a diretora, a mãe afirmou que a doença é o que causava os hematomas na criança.
Denúncias
Na quinta-feira (11), Lorena começou a frequentar a creche. Quem levou a menina foi o padrasto, que informou às funcionárias que ela estava com roxos pelo corpo porque fazia manha e se jogava quando a mãe saía para trabalhar. Após suspeitar das agressões, a diretora notificou a Secretaria de Educação.
De acordo com a secretária, após a denúncia, a diretora também notificou o Conselho Tutelar na segunda-feira (15), informando que as marcas encontradas pelo corpo da menina estavam em outro tom e mais espalhadas na região das costas e abdômen.
“Para que fossem tomadas as providências cabíveis diante dos fatos que ela relatou. Segundo ela [a diretora], ela recebeu a orientação de que fossem observadas as marcas para que depois, se tivesse alguma coisa mais grave, que fosse comunicado novamente ao conselho”, disse.
Conselho recebeu comunicado
A presidente do Conselho Tutelar, Ana Claudia de Lima, confirmou por telefone que recebeu um comunicado que não tinha característica de denúncia.
“Na segunda-feira, a gente recebeu mesmo um comunicado da escola a respeito dessa situação, mas não era uma denúncia, era um comunicado que essa criança tinha manchas pelo corpo devido a uma doença que ela poderia estar”, contou.
Ana Claudia disse ainda que, se o teor da notificação fosse de denúncia e tivesse tempo para averiguação, o caso poderia ser diferente.
Investigação
Segundo o delegado Carlos Eduardo Malamam, as investigações estão aguardando os laudos complementares para saber se os hematomas são decorrentes de agressões ou de alguma doença.
A polícia também quer saber se a criança era agredida com frequência e a possível responsabilidade da mãe. Em depoimento à polícia, os vizinhos contaram que nunca viram Lorena apanhando, mas que ela chorava muito quando estava somente com o padrasto.
“A certeza é que tinha uma criança e dois adultos nessa casa. A criança faleceu em decorrência de um traumatismo craniano e essa criança morreu em decorrência dos atos do casal. Se ela [mãe] tinha conhecimento ou não é o que a gente tenta comprovar”, explicou.
Agressão e morte
O crime aconteceu na quarta-feira (17). De acordo com o delegado, Natália disse em depoimento que saiu para trabalhar na tarde de terça-feira (16) e retornou às 23h.
Já o padrasto, que ficou com a menina durante esse período, contou que dava comida para Lorena quando ela teria jogado o prato. Ele admitiu que se irritou com a menina, deu dois tapas na criança e a jogou em um colchão. Com a queda, ela teria batido a cabeça contra a parede.
Ainda de acordo com o delegado, Britto saiu para trabalhar na madrugada de quarta-feira e, pela manhã, por volta das 7h, a mãe teria saído correndo pela rua, gritando que a filha estava morta.
Solicitados pelos vizinhos, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros estiveram no local, mas a menina não resistiu. A Perícia Técnica também esteve no local.