Crise, boa safra e conta de luz puxam inflação para baixo, dizem economistas

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Especialistas explicam como a inflação desaquecida pode prejudicar a economia – mas ressalvam que esse ainda não é o caso do Brasil, onde a taxa atual reflete fatores conjunturais

A inflação brasileira tomou um tombo em um intervalo muito curto. A alta generalizada dos preços fechou 2015 em mais de 10%, mas deve terminar 2017 na casa dos 3%, segundo previsões de economistas e analistas do mercado. O alívio nos preços na economia é reflexo da recessão, que freou o consumo dos brasileiros, dizem economistas.

Em junho, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) teve deflação de 0,23%, a primeira em 11 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Essa crise que a gente está vivendo faz com que as pessoas fiquem mais comedidas com relação a consumo. Isso naturalmente acaba gerando um excesso de oferta que acaba puxando os preços para baixo”, aponta Otto Nogami, professor de Economia do Insper.

Também ajudaram a segurar a inflação, especialmente no último mês, a queda nos custos de energia e a boa safra agrícola neste ano, que eleva a disponibilidade de produtos no mercado e alivia a pressão sobre os preços para os consumidores.

Além dos fatores sazonais que puxaram os preços da economia especialmente para baixo em junho, José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, cita outros elementos que vêm construindo o cenário de desaceleração da alta de preços desde 2015.

Uma delas é a taxa de câmbio. O dólar chegou a passar de R$ 4 no primeiro semestre do ano passado e hoje está em cerca de R$ 3,30. Outro ponto destacado é a mudança na política de preços administrados pelo governo. “Você junta todos esses elementos e tem algo que puxa muito para baixo a inflação”, diz Gonçalves.

Quais os efeitos da inflação baixa?

Em geral, inflação em baixa significa mais espaço para corte de juros para aquecer a atividade da economia, como comenta Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Por isso, para ela, a inflação baixa é um “bom problema”.

“Se perceber que a inflação está muito mais baixa do que se imaginava, ótimo, que bom ter essa ‘gordura’ para cortar juros”, diz Latif.

Por outro lado, o desaquecimento dos preços pode demonstrar que a demanda dos consumidores está abaixo do que o país é capaz de produzir – o que, no geral, pode representar um problema.

“Inflação baixa representa uma economia pouco aquecida, sem condições de reagir”, explica André Braz, coordenador do IPC da FGV/IBRE.

Nogami acrescenta que, quando há deflação, como a registrada em junho, o sinal pode ser ainda mais negativo. “Apesar de ser interessante [para o consumidor] do ponto de vista de queda de preços, pode estar apontando uma anomalia de natureza conjuntural”, explica. “Via de regra, esse fenômeno significa que a sua condição de produção está maior do que o desejo de consumo da sociedade. Tem um desequilíbrio na produção e consumo. ”

Outro problema que a queda de preços ou a inflação baixa podem trazer é o desestímulo aos investimentos das empresas para aumentar a produção, já que a demanda dá sinais de fraqueza. “Se os preços caem, que estímulo as pessoas têm para investir? ”, questiona o economista Heron do Carmo, professor da FEA/USP.

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