Defesa de motoboy humilhado em condomínio faz representação por injúria racial contra morador

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Matheus Pires Barbosa também prestou depoimento nesta segunda-feira. Caso ficou conhecido no Brasil após vídeo com os xingamentos viralizar na internet.

Por G1 Campinas e Região

O advogado do motoboy Matheus Pires Barbosa, que sofreu ofensas racistas e foi humilhado por um condomínio em Valinhos (SP), apresentou, na manhã desta segunda-feira (10), uma representação criminal por injúria racial contra o homem. O caso aconteceu no dia 31 de julho, mas veio a tona na última sexta-feira (7), quando o vídeo com os xingamentos viralizou na internet.

O entregador de aplicativos de serviços de alimentação também prestou depoimento na Delegacia de Valinhos nesta segunda-feira. De acordo com o advogado Márcio Santos Abreu, a defesa do Motoboy vai tentar provar que o agressor não estava em surto provocado pela esquizofrenia, como alegou o pai do rapaz.

“Vamos procurar mostrar que o agressor não estava em surto psicótico. Aparentemente, ele estava em seu estado normal. Mas isso vai demandar perícia, vai demandar uma investigação. Agora, o inquérito policial vai se seguir, vai ser concluído e enviado posteriormente para o judiciário”, explicou o defensor.

O condomínio Vila Bela Vista colocou uma faixa de repúdio contra o morador ao lado da portaria. A administração solicitou que uma viatura da Polícia Militar fizesse um monitoramento na área. No sábado (8), motoboys da região de Campinas (SP) fizeram uma manifestação pacífica em frente ao local, com um buzinaço. O condomínio fica no bairro Chácaras Silvania.

Matheus Pires Barbosa agradeceu as manifestações a seu favor e reiterou o desejo para que elas continuam pacíficas. O motoboy detalhou a discussão e as ofensas sofridas pelo morador. O profissional afirmou que, em outra oportunidade, o homem já havia sido grosseiro por ele não ter achado o endereço da residência. Desta vez, o problema aconteceu porque Barbosa pediu para ele buscar a encomenda direto na portaria.

“Ele agiu de um modo selvagem. Ele falou que eu tinha obrigação de ir até a casa, aí eu fiz uma brincadeira com ele, disse que agora eu sabia porque ele era meio mal falado entre os motoboys. Aí ele já começou a me ofender, disse que eu não tinha direito de falar isso pra ele, fez uma expressão se fazendo de macaco. Quando ele falou que eu era preto, eu percebi que ele tinha cometido um crime”, afirmou o entregador.

O morador do condomínio, Mateus Almeida Prado, já se envolveu em outra confusão no mesmo condomínio há dois anos. Um vídeo mostra o momento em que ele destrói o carro de uma vizinha. Ela disse que, depois do episódio, se mudou porque ficou com medo do rapaz.

Caso de racismo com entregador de aplicativo em Valinhos, no interior de São Paulo — Foto: Montagem/G1

Vaquinha e exclusão de app

Internautas se mobilizaram para criar uma “vaquinha” on-line e ajudar o entregador. Na manhã desta segunda, o valor arrecado já estava em R$ 151.715, ultrapassando a meta de R$ 150 mil. Segundo os organizadores, o objetivo é auxiliar na compra de uma casa e nos investimentos dos estudos futuros. Por conta do episódio, o motoboy ficou conhecido na internet e já está com 2 milhões de seguidores no Instagram.

O aplicativo de entrega de comida IFood se pronunciou sobre o caso e confirmou, em nota, que o usuário será excluído da plataforma de pedidos.

“Baseados nos termos de uso do aplicativo, o IFood descadastrou o usuário agressor da plataforma. A empresa está em contato para oferecer ao entregador apoio jurídico e psicológico”, diz a empresa ao mencionar que censura preconceito ou discriminação.

Condomínio colocou faixa de repúdio contra ofensas racistas — Foto: Reprodução/EPTV

O caso

Um vídeo mostra o momento em que o homem ofende o profissional e diz que ele tem “inveja disso aqui”, apontando para a própria pele.

Durante a discussão, o rapaz ainda ofendeu o entregador, o chamando de “semianalfabeto”; repete que ele tem inveja da vida que as pessoas que moram no condomínio dele têm; e diz que o profissional não tem onde morar nem “nunca vai ter” nada do que ele estava mencionando. O vídeo foi gravado por um vizinho.

“Eu falei pra ele que ele não podia fazer mais isso porque ninguém gostava desse tipo de atitude. O que ele faz é pra se mostrar superior as pessoas. Teve um momento que ele cuspiu em mim, jogou a nota no chão e disse que eu era lixo. Na frente da polícia, ele continuou com as agressões, me chamou de favelado”, contou Matheus Pires Barbosa.

https://www.youtube.com/watch?v=H1qK0Pa40f8

Defesa

O pai do agressor alegou que o filho sofre de esquizofrenia paranoide. Na delegacia, ele apresentou um atestado médico de tratamento. O homem disse que “Mateus recebeu educação para tratar com respeito o próximo, independente de classe social, credo ou raça. Valores que lhe foram furtados pela esquizofrenia”. A nota da família ainda pede desculpas ao motoboy e todos os trabalhadores que se sentiram atingidos com o episódio.

De acordo com o psiquiatra da USP Paulo Clemente Sallet, o comportamento do morador precisaria de investigação mais detalhada, mas afirmou que, no vídeo, ele não parecia estar em surto psicótico.

“Aparentemente, no fragmento apresentado, esse rapaz não estava em surto psicótico. Ele tinha capacidade mental, cognitiva e de autocontrole, que é demonstrado nas atitudes que ele tem no vídeo. Pela expressão verbal, pelos gestos e pela atitude que se vê no vídeo, eu afirmaria que esse rapaz no momento da agressão não parecia estar numa crise psicótica”, disse Sallet.

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