Denatran vai investigar se Chevrolet Celta deveria ter sido alvo de recall por ‘airbag mortal’

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Acidente com modelo matou motorista, e polícia disse que condutor teve ferimentos causados por peças do airbag. Ministério da Justiça afirmou que GM nunca fez recall no Celta por esta razão.

Por André Paixão, G1

A Coordenação-Geral de Segurança Viária do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) afirmou nesta sexta-feira (17), que vai investigar se o Chevrolet Celta deveria ter sido convocado para recall por falha no airbag.

Em janeiro, uma unidade do veículo se envolveu em um acidente que matou o motorista em Aracaju. Após meses de investigação, a Polícia Civil de Sergipe concluiu que o condutor morreu em decorrência de ferimentos provocados por fragmentos metálicos projetados do airbag do Celta 2014.

Segundo o laudo, o modelo usava o componente da japonesa Takata, estaria envolvido naquela que seria a primeira morte em função dos “airbags mortais” da Takata no Brasil.

Agora, a coordenação de seguranaça viária vai apurar se o Celta deveria ter passado por recall. Esse é o órgão responsável por atestar se um veículo possui algum defeito que coloque em risco a segurança das pessoas.

O Denatran ainda informou que “cabe ao fabricante do veículo comunicar a abertura de campanha de chamamento dos produtos que possam gerar risco à saúde e segurança dos consumidores”. Isso é feito “usando o registro de todos os veículos envolvidos no recall diretamente no sistema Renavam”. A comunicação deve ser enviada ao Denatran e à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon).

Segundo a Senacon, a GM, dona da Chevrolet, nunca convocou o Celta para recall por esta falha. A empresa já chamou outros 291 mil veículos por esse tipo de falha em airbags.

Nossa reportagem perguntou à GM se o Celta utiliza airbags da Takata. A empresa informou apenas que não tinha conhecimento do caso, que está apurando e que não tem “mais nada a comentar neste momento”.

O Denatran também informou que não tinha conhecimento do caso, e afirmou que o próximo passo é solicitar à polícia de Sergipe informações sobre o acidente. Depois disso, irá ouvir a GM. O órgão não informou um prazo para que isso aconteça.

Apesar de não responder se o Celta usa airbag da Takata, a GM anuncia o airbag para o Celta da Takata em sua loja oficial de peças no Mercado Livre. A mesma peça também pode ser encontrada em uma revendedora especializada em componentes da Chevrolet.

O Celta ganhou airbags em 2013, pouco tempo antes de o item de segurança se tornar obrigatório, em 2014, e teve o equipamento até sair de linha, em meados de 2015.

Airbag da Takata do Celta envolvido em um acidente que matou o motorista em Aracaju — Foto: Reprodução

Outro acidente

Ele pode ser mais um modelo envolvido no escândalo mundial que ficou conhecido como “airbags mortais”.

No Brasil, as peças defeituosas da Takata já tinham causado a morte de outro motorista, no Rio de Janeiro, pelo mesmo motivo, em 27 de janeiro, uma semana após o acidente com o Celta em Aracaju.

A perícia “determinou que houve a ruptura anormal do insuflador do airbag Takata, causando ferimentos que levaram à morte do motorista.” Na ocasião, foi a Honda quem divulgou a ocorrência, que envolveu um Civic 2008.

Até, então, este era o único caso de morte envolvendo as bolsas da Takata. No total, há 40 casos de explosão de airbags no Brasil, 39 da Honda e 1 da Toyota, com 16 feridos.

Loja oficial da Chevrolet no Mercado Livre anuncia airbag da Takata para o Celta — Foto: Reprodução

‘Airbags mortais’

O escândalo dos airbags mortais foi descoberto em 2013, e já provocou o maior recall da história, envolvendo mais de 100 milhões de veículos em todo o mundo.

Ao menos 25 mortes e 300 feridos estão relacionados à falha, de acordo com agência Reuters. O problema está em uma peça defeituosa chamada insuflador. Ela é um tipo de caixa metálica que abriga o gás que faz a bolsa de ar inflar.

O defeito nessa peça causa uma abertura forte demais quando o airbag é acionado. Além disso, a falha gera trincas no insuflador e, com a explosão do airbag, ele se estilhaça, atirando pedaços de metal contra os ocupantes, causando ferimentos que podem ser fatais.

A quebra do insuflador e a forte explosão do airbag resultam de uma combinação de 3 fatores.

Os airbags da Takata usam nitrato de amônio para fazer a bolsa de ar abrir. O nitrato, por si só, é relativamente pouco explosivo. Ele se apresenta como um pó branco e é seguro, desde que não aquecido. O risco é maior após longa exposição do carro ao calor ou a ambientes úmidos.

A montagem do dispositivo da Takata permite que a umidade penetre no airbag e corrompa partes metálicas, que se quebram na explosão, rompem a bolsa e atingem os ocupantes.

Corey Burdick, uma das vítimas dos airbags da Takata, ficou cego de um olho — Foto: Reuters
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