No entanto, os especialistas afirmam que a data vem ganhando importância para o comércio no país, apesar ainda de ser menos tradicional que o evento nos EUA.
Enquanto muitos consumidores se preparam para comprar na 9ª edição da Black Friday no Brasil, outros duvidam dos descontos oferecidos pelos comerciantes no país. Para economistas, essa desconfiança vem diminuindo é um dos principais motivos para que a data por aqui seja diferente do que acontece nos Estados Unidos.
Outro ponto é a proximidade do Natal, a data mais importante do calendário para o comércio no Brasil. Há comerciantes que ficam na dúvida se oferecer descontos em novembro pode prejudicar as vendas de Natal – já que os consumidores comprariam com desconto em novembro o que deixarão de comprar em dezembro.
“O Natal sempre foi a principal data para o comércio, e o lojista pode ter o seguinte medo: ‘se eu oferecer esse desconto agora, vou deixar de ganhar esse valor lá na frente?’”, comenta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Mas Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio do FGV/IBRE, afirma que já pode ser percebido um aumento real de vendas do comércio, e não apenas uma “antecipação” das compras de Natal. “A gente percebeu que, para muitas empresas, era um aumento de venda. Tinha um efeito de antecipação de Natal, realmente, mas também um ganho real.”
Em 2017, segundo o FGV/IBRE, 61,8% das empresas que participaram da Black Friday disseram que o evento ajudou no resultado final das vendas do ano. O restante afirmou que as vendas nessa data apenas anteciparam as de Natal.
Os economistas apontam ainda que consumidores que antecipam as compras de Natal na Black Friday são minoria, e esse número deve ser cada vez menor.
“No Natal se compra muito presente, enquanto a Black Friday os comerciantes têm reportado como um período de compra pessoal”, compara Tobler.
Para Kawauti, se essa tendência eventualmente se inverter, o varejo brasileiro precisará se adaptar. “Pode ser uma forma de desovar o estoque antigo para dar espaço” aos produtos que serão vendidos em dezembro, exemplifica ela.
Desconfiança diminuindo
Kawauti diz que tanto a desconfiança do consumidor como a dos lojistas vem diminuindo, e a Black Friday vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. “Não é uma data madura, mas cada vez mais tem gente aprendendo – tanto empresários como consumidores.”
“Com o tempo, foi aumentando a importância [da Black Friday para o comércio brasileiro], mas esbarrando um pouco na desconfiança do consumidor. Mas isso vem melhorando, nos últimos anos tivemos aumento das vendas”, complementa Tobler.
Mesmo com o crescimento, no entanto, os economistas dizem que ainda não é possível comparar a importância da Black Friday para o comércio com datas mais tradicionais, como Dia das Mães e Dia das Crianças.
“Nas grandes datas em geral, a gente tem uma adesão do consumidor de cerca de 70%”, diz Kawauti, em referência a pesquisas do SPC sobre a proporção de pessoas que dizem que têm intenção de comprar em alguma data. Na Black Friday, essa proporção de pessoas que dizem que vão gastar fica perto da metade. “Provavelmente em 2018 isso vai aumentar um pouco”, diz a economista.
Comparação com os EUA
Pessoas entram em loja para comprar logo após a abertura na Black Friday em 2017, em Manhattan, Nova York, EUA. — Foto: Andrew Kelly/Reuters
A Black Friday foi criada nos Estados Unidos como um dia de descontos em lojas de varejo. Em 2001, tornou-se o principal dia de vendas no país. Ele acontece logo após o feriado religioso de Ação de Graças, muito tradicional para os norte-americanos, em que se celebra a gratidão.
A data foi importada por outros países, até chegar ao Brasil em 2010. Começou apenas no comércio online, até se expandir para as lojas físicas.
“É uma questão cultural”, diz Tobler sobre a diferença entre a Black Friday no Brasil e nos Estados Unidos. “Lá a data é depois do feriado de Ação de Graças, com uma questão cultural muito maior. Aqui foi criado com pouquíssimas empresas e depois foi crescendo, ainda é muito recente, muito novo.”
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