Djailson Pereira da Silva, de 53 anos, está sem trabalhar desde fevereiro e há dois meses tenta uma oportunidade em um cruzamento de Araraquara: “Disposição de sobra”, disse.
Por Gabrielle Chagas, G1 São Carlos e Araraquara
Com uma placa pendurada ao pescoço, o desempregado Djailson Pereira da Silva, de 53 anos, viaja mais de 12 km de Américo Brasiliense a Araraquara, no interior de São Paulo, há 2 meses, para procurar um trabalho e tirar as contas de aluguel, água e energia do vermelho. Uma foto dele em um cruzamento da cidade repercutiu nas redes sociais.
“Estou desempregado há 7 meses já. Estou aceitando qualquer coisa, o que eu estou precisando é trabalhar”, disse.
Filha teve ideia de placa
A placa com os dizeres “Por favor! Preciso de um emprego! Não estou pedindo dinheiro, sou pai de família, pago aluguel, quero trabalhar!” e o número do celular, foi ideia da sua única filha, Ana Clara, de apenas 11 anos.
“Por incrível que pareça, a gente assistiu a um programa na televisão, onde um senhor de 56 anos pedia serviço no farol lá em São Paulo. Aí ela disse: ‘porque o senhor não faz uma do mesmo jeitinho e vai lá para Araraquara para procurar serviço, pai?’”, contou o desempregado.
Segundo Silva, a diretora da escola em que a filha estuda escreveu a frase em uma cartolina para ajudá-lo.
E foi com a cartolina, inicialmente, que Silva foi até o cruzamento da Avenida Padre Francisco Salles Culturato, a Avenida 36, com a Rua São Bento, no Centro. Depois disso, um amigo ofereceu uma doação.
“Um colega meu que trabalha com esse tipo de serviço me ajudou. Eu não paguei nada, se eu fosse fazer uma placa daquela por conta ia ficar uns R$ 85”, disse.
Ele optou por ir até Araraquara, porque, segundo ele, é ainda mais difícil encontrar emprego em Américo Brasiliense. Ele já trabalhou como caldeireiro, promotor de venda de hortifrúti, zelador, porteiro e ajudante geral.
“Eu tenho 53 anos com a mentalidade de um garoto de 18 anos, disposição para trabalhar de sobra”, contou.
Repercussão
Segundo Silva, a sua atitude chamou a atenção das pessoas que passavam pelo local e ficou popular depois que uma mulher tirou foto para publicar em um grupo de empregos e bicos da região.
Apesar de receber muitas ligações, o desempregado contou que ainda não conseguiu um emprego fixo, mas muitas pessoas ligam para pedir a conta do banco ou para levar cestas básicas até a casa dele.
“Teve até gente de Goiás que ligou para mim, mas muita gente só promete. Teve uns três ou quatro que queriam ajudar com dinheiro, mas esqueceram depois. Eu fico muito chateado e eu tenho medo que alguém pegue meus dados e faça alguma coisa ruim. É muito complicado”, disse.
Silva também atende pessoas passando trote ou até para vendas.
Contas atrasadas
Silva mora com a família em uma casa no bairro São José, em Américo Brasiliense. O valor do aluguel do imóvel é de R$ 480, além dos gastos que tem com água e energia.
“É um sufoco que você nem imagina. Eu estou dormindo na casa de um vizinho aqui, a humilhação está muito grande para mim, devendo para a imobiliária, luz e água cortada, a gente passa só o dia em casa”, contou.
A esposa de Silva, Andreia, também está desempregada, mas consegue algumas faxinas por uma diária de aproximadamente R$ 40. “Pelo menos a gente vai pagar uma água aqui ou tentar inteirar para pagar uma luz”, disse.
“Minha preocupação é arrumar um serviço urgente para cuidar da minha mulher e minha filha, pagar o aluguel e ter segurança. Por que se eu for despejado, para onde eu vou?”.