Homem procurou o proprietário com postagens no Facebook e anúncios em rádio.
O empenho de um homem desempregado de São Carlos (SP) em resgatar uma carteira perdida no meio da rodovia e devolvê-la ao dono surpreendeu o aposentado Júlio Castro, dono do objeto. “Exemplo de cidadania e honestidade desse rapaz”, disse.
Carteira perdida
Um dia após perder a carteira na rodovia Engenheiro Thales de Lorena Peixoto Júnior (SP-318) e procurá-la desesperadamente, Castro foi avisado por um amigo que alguém o procurava nas redes sociais para devolver seus pertences.
Quem o estava procurando era Wellington Dione Carreteiro Caferro, de 26 anos, que passou com a mulher, Jéssica Tropak, pela rodovia logo em seguida. Ao ver todos os documentos espalhados pela pista, o casal parou e recolheu o que encontrou.
“O menino é de uma honestidade, de um caráter, de um princípio sensacional. Ele está desempregado, passando por dificuldades e mesmo assim devolveu todo o dinheiro que ele encontrou. Foi muito honesto”, afirmou Castro.
Dia azarado
Castro perdeu a carteira na tarde de sábado (5) quando voltava de uma partida de futebol em uma das chácaras da região do Varjão.
“A carteira acabou ficando em cima do veículo e eu vim [para São Carlos] com bastante calma e eu só fui dar um embalo ao lado do [condomínio] Dhama e nesse momento a carteira caiu do carro. Eu vi alguma coisa espalhando na pista, porque quando a carteira abriu e voou papelzinho. Comentei com meu amigo que tinha alguma coisa estranha na pista, mas ele disse que alguém deveria ter jogado e eu fui embora”, contou.
Quando viu que estava sem a carteira, Castro resolveu voltar à chácara, mas ele não estava em um dos seus dias de sorte. Ao chegar no local, foi atacado por um rottweiler.
“Ele me atacou e mordeu a mão. Naquele desespero eu lavei, enrolei os ferimentos voltei para o local que eu tinha visto os papeizinhos e eles realmente eram meus. Realmente a carteira tinha caído ali. Comecei a procurar, mas não encontrava e a dor da mão começou a ficar muito forte. Aí eu abandonei o local e fui para a cidade, vim na minha casa peguei dinheiro e uma lanterna tática militar e sai com o intuito de passar na Santa Casa para ver o que tinha acontecido na mão e depois voltar para a pista para procurar a carteira.”
No caminho para a Santa Casa, o carro do aposentado quebrou. Ele pediu ajuda da filha para chegar ao hospital, mas preocupado em voltar o mais rapidamente possível para a rodovia para procurar a carteira. Mas, teve que esperar muito pelo atendimento médico.
“Quando fui para ser atendido pelo médico, chega um caso de capotamento com dois pacientes em estado gravíssimo. Já fiquei esperando mais duas horas com dor”, contou.
Após ser atendido e medicado, o aposentado retomou a busca pela carteira. “Fui novamente para a pista com a minha lanterna tática que eu busco 100 metros de distância com ela. Aí procura, procura, procura, só achava papelzinho. Todos os meus documentos, cartão de crédito, cartão de loja, não achei nada.”
Ele voltou para casa, mas ainda não tinha desistido de encontrar a carteira. No outro dia de manhã ele foi consertar o carro. “Com o carro consertado, qual foi a primeira coisa que eu fiz? Fui para a pista, procurei até duas horas da tarde e nada. Dei por perdido, fui no plantão policial, fiz o boletim de ocorrência e vim pra casa.”
Achado pela internet
Já dando o caso como perdido, Castro recebeu a mensagem alertando que ele estava sendo procurado.
“Entrou uma postagem de um amigo com uma foto da minha CNH. Perguntei logo onde ela estava e ele disse que estavam postando no facebook, na feira do rolo, até tinham anunciado na rádio”, disse.
Castro conta que não acreditou quando recebeu a carteira encontrada por Caferro. “O menino fez o melhor possível. Ele entrou na frente dos carros para pegar meus documentos. Teve uma hora que passou um carro em cima da carteira que ele disse que só escutou um estralo que deu e viu cartão voando longe. Tanto que esse cartão eu achei do outro lado todo arrebentado, mas os documentos todos vieram de volta, o dinheiro veio de volta, a carteira veio, toda bagaçada, mas veio.”
Ele disse que quando viu os documentos espalhados pensou no desespero da pessoa que tinha perdido e quis ajudar.
“Na hora que a gente viu a gente pensou, vai quebrar, vai acabar tudo as coisas, porque estava passando carro toda hora, aí a gente foi atrás para o prejuízo dele não ser maior. Eu acho que é o mínimo que a gente podia fazer.”
Caferro está desempregado há dois meses, após ser dispensado da granja em que trabalhava, mas em momento algum, pensou em ficar com a carteira, pelo contrário, se esforçou para encontrar o dono. “A gente viu que era dele, tinha uma identidade, tinha habilitação, tinha tudo, a gente sabia que era daquela pessoa. E o desespero dele depois, porque quando a gente perde alguma coisa é terrível”, disse.
Mas o que ficou para Castro foi a honestidade e o espírito de colaboração de Caferro. “Eu tentei dar uma gratificação para ele, um valor simbólico, no final das contas ele não pegou, tive que dar para a esposa dele, ele não queria receber. Agradeci muito e acredito que é o início de uma grande amizade.”
