Projeto em Araraquara (SP) conta com ajuda de voluntárias do Centro de Ressocialização.
Um grupo de 30 reeducandas do Centro de Ressocialização, em Araraquara (SP), se uniu para ajudar um projeto que desenvolve polvos de crochê para bebês prematuros internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal da Maternidade Gota de Leite.
As mulheres se ofereceram como voluntárias e nesta semana entregaram as primeiras peças no hospital.
Projeto ‘Transformação’
As reeducandas fazem parte do ‘Transformação’, grupo de apoio às mães que perderam filhos recém-nascidos ou ainda na gestação.
Perla Frangioti Machado fundou o grupo após perder a segunda filha, a Heloísa, no último mês de gravidez.
“Eu conheci outras pessoas que tinham passado pelo mesmo que eu e percebi que conversar com elas me ajudava muito, porque os sentimentos eram parecidos. No que eu me senti incompreendida, elas também”, afirmou.
Entre os projetos feitos está o dos polvos. A ideia original surgiu de um grupo na Dinamarca em 2013. Os polvinhos fazem com que os bebês não se sintam sozinhos na incubadora.
Detentas voluntárias
A parceria com o Centro de Ressocialização começou há dois meses e o trabalho é totalmente voluntário.
Em um lugar onde as grades prendem, o crochê liberta para um mundo de cores e possibilidades. Os bonecos preenchem o tempo das detentas. “A gente pegou amor em fazer mesmo. É tudo de bom”, disse a reeducanda Gisele Santos.
“Elas pediram autorização para o juiz corregedor e falaram: ‘a gente não quer remissão [de pena], a gente quer fazer o voluntariado, queremos dar a nossa contribuição para a sociedade, para essas mães, para esses bebês’. A energia é linda demais”, destacou a diretora do CR, Jucélia Gonçalves.
Entre as voluntárias também estão mães que sabem como é ficar distantes do filho. Condenada por tráfico de drogas, a reeducanda Jéssica Fidelis Brito teve que se separar da filha mais nova de apenas 8 meses.
“Sinto muita falta de dormir com a minha filha, eu dormia abraçada com ela todos os dias, acordava com ela me beliscando. Ela saiu com dois dentinhos, aquele jeitinho de me morder. Eu sinto muita falta daquele sorriso, da forma que ela me olhava e assim eu me sentia muito amada”, disse emocionada.
É o artesanato que conecta as duas. “O primeiro presente foi um polvo de uma amiga minha que acabou fazendo e eu pendurava ele no carrinho e ela brincava o tempo todo. Agora vou dar para elas o polvinho feito por mim dessa vez e fazer outras crianças felizes”, afirmou Jéssica.
Entrega dos polvos
Nesta semana, pela primeira vez, os polvos chegaram ao hospital pelas mãos de duas reeducandas do regime semiaberto. A ideia é entregar os polvos a cada dois meses.
“É mágico, é uma sensação inexplicável. De amor, de gratidão por quem cuida e de solidariedade”, afirmou a reeducanda Daniele Freitas da Silva.
Antes de entrar em contato com os recém-nascidos, o polvo de crochê passa por um processo de limpeza. “Depois que eles são esterilizados eles são oferecidos para os bebês e cada bebê tem um polvinho”, disse enfermeira supervisora Mariana Albers.
“Para eles é uma calmaria muito grande porque é como se eles estivessem dentro da barriga da mãe segurando o cordão umbilical”, completou Mariana.
Mulheres e mães com trajetórias tão diferentes, mas unidas por um mesmo sentimento. “Foi uma troca de amor, o amor nosso passando por esse ensinamento e pelo companheirismo de mulheres que estão pensando em ajudar outras famílias que estão passando por esse momento de internação na UTI”, disse Perla Frangiot.
“Para nós é uma emoção saber que uma criança vai estar segura em algo que eu fiz, que todas nós fizemos. Estar aqui com vocês participando desse projeto é grandioso”, disse a reeducanda Sandra Sclauzer de Andrade.