Distanciamento social eleva consumo de suco de laranja

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Covid-19 muda dinâmica do suco, resgatando consumo em países consolidados e abrindo oportunidades em regiões emergentes.

A Covid-19 aqueceu o consumo de suco de laranja, um produto do qual o Brasil é o maior produtor e o maior exportador mundiais. O avanço ocorre no Brasil, nos EUA e em países da Europa e da Ásia.

Os consumidores americanos, os principais no mundo, adquiriram 1,1 bilhão de litros nas grandes redes de varejo, de março a outubro de 2.020, um volume 22% superior ao de igual período de 2019. No Brasil, o consumo tem um ritmo de alta de 20%, e o varejo da Europa também mostra aumentos neste período.

“A Covid-19 está mudando a dinâmica do suco. Resgata o consumo em países já consolidados e abre oportunidades em regiões emergentes”, afirma Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, entidade que congrega empresas brasileiras produtoras e exportadoras da bebida.

Segundo ele, pesquisas indicam que o suco reforça a defesa imunológica do organismo. Com isso, parte dos consumidores recolocou a bebida no cardápio, principalmente no café da manhã. Além disso, o isolamento em casa ajuda a elevar o consumo dessa bebida, compensando perdas em bares e restaurantes, também pontos importantes de vendas.

Um caso típico são os Estados Unidos, que elevaram o consumo mensal para 166 milhões de litros em abril. Em janeiro, antes da pandemia, o consumo era de 131 milhões. Netto afirma, no entanto, que não se sabe qual será o novo patamar do consumo mundial a partir de agora. Ele acredita, porém, que o aumento deverá perdurar por um bom tempo.

O melhor dos mundos para o setor seria a volta do consumo na cadeia de alimentação fora de casa e a manutenção da demanda no lar, afirma. A demanda se mantém, mas já dá sinais de recuo, em relação aos patamares iniciais da pandemia. Conforme a flexibilização aumenta, o crescimento do consumo tem taxa menor, quando comparado ao de igual período do ano passado.

Em abril, mês em que o consumidor correu ao supermercado para fazer estoque de alimentos, as vendas de suco nos Estados Unidos superaram em 46% as de igual período de 2019. Um mês depois, essa evolução era de 31%, recuando para 14% no mês passado.

O Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, ainda não tem um mercado maduro nesse setor. O crescimento anual de produção e de vendas é elevado, mas sobre uma base pequena de comparação.

Os brasileiros consomem próximo de 260 milhões de litros de suco de laranja, uma média de 1,2 litro por ano por pessoa. Nos Estados Unidos, a média de consumo é de 3 bilhões de litros, 9,1 por pessoa.

Embora o consumo seja pequeno no Brasil, os supermercados já têm gôndolas específicas para a venda dessa bebida, o que deve garantir uma boa evolução nos próximos anos, afirma Netto.

Algumas barreiras estão sendo vencidas, segundo ele. Uma delas é o mito de que os consumidores não trocariam a utilização da laranja em casa pelo suco pronto. A imagem de que o suco reconstituído é ruim e a necessidade de altos investimentos para a produção de suco NFC (suco integral, não concentrado) também perderam força.

O número de empresas que industrializam a laranja, produzindo suco, é grande no país. Algumas delas conseguem até exportar o produto pronto, principalmente para o mercado asiático. Nos Estados Unidos e na Europa, a competição é muito acirrada, dificultando a vida das brasileiras.

O cenário para as indústrias de suco no mundo, no entanto, é de desafios. Em 2003, os EUA, carro-chefe nesse setor, consumiram 1 milhão de toneladas de suco FCOJ equivalente (suco concentrado e que é consumido como suco reconstituído). O volume vem caindo. Em 2018, recuou para 576 mil toneladas.

A Flórida, principal região produtora do país, registra constante queda de produção. Na safra 2003/04, os Estados Unidos produziam 242 milhões de caixas de laranja de 40,8 quilos, volume que caiu para 105 milhões em 2013/14 e para 74 milhões em 2019/20.

Geadas, furacões, doenças, clima, preços e avanço de construções imobiliárias sobre os laranjais são as principais causas dessa queda na Flórida. Já o Brasil mantém certa regularidade. Nos anos de bienalidade favorável, a safra supera os 300 milhões de caixas. Na safra passada, foram 388 milhões.

O país sofre, no entanto, com a redução mundial de consumo, provocada por mudanças de hábitos e concorrência de outras bebidas. Na safra 2004/5, as exportações brasileiras de suco eram de 1,4 milhão de toneladas, recuando para 926 mil em 2018/19.

Na safra 2019/20, devido à boa safra de laranja, as vendas externas brasileiras somaram 1,05 milhão de toneladas de suco. Nesta safra 2020/21, considerada como de bienalidade desfavorável, as exportações vêm caindo, mas ainda são superiores às da safra 2018/19, também de bienalidade desfavorável (Folha de S.Paulo, 24/11/20)

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