Dupla acusada de agredir jovem por causa de isqueiro é condenada a 9 anos e 4 meses de prisão

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Rafael Bandeira Barbosa foi atingido na cabeça por uma paulada em Rio Claro (SP) e perdeu a audição do ouvido esquerdo. Sentença considerou crime de tentativa de homicídio duplamente qualificado.

Por Gabrielle Chagas, G1 São Carlos e Araraquara

Dois homens acusados de envolvimento na agressão de um jovem por causa de um isqueiro, em Rio Claro (SP), foram condenados a nove anos e quatro meses de prisão em regime fechado por tentativa de homicídio duplamente qualificado. A assistente de acusação disse neste sábado (15) que a decisão em primeira instância cabe recurso da defesa.

Rafael Bandeira Barbosa, na época com 18 anos, foi atingido por uma paulada na cabeça enquanto voltava de um pub com os amigos em 2017. Ele ficou internado por 12 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e perdeu a audição do ouvido esquerdo.

Procurado pela reportagem, o advogado Ariovaldo Witzel, que defende o empresário Daniel Siqueira, disse que entrará com recurso no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) na segunda-feira (17). Até a publicação desta reportagem, não conseguimos contato com a defesa do outro acusado do crime, o mecânico Antonio Roberval Batista Branco.

Suspeito afirmou que agrediu, mas alegou legítima defesa — Foto: TV Claret

Julgamento

De acordo com a assistente de acusação Sarah de Oliveira Dias, que atuou junto à Defensoria Pública, o julgamento começou às 9h30 de quinta-feira (13) e durou cerca de 12h. Durante o júri, foram ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa.

Os acusados foram condenados por tentativa de homicídio duplamente qualificada por motivo fútil e impossibilidade da vítima se defender. As qualificações por tortura e meio cruel foram desconsideradas.

Ainda de acordo com a advogada, além da prisão, Siqueira também foi condenado pagar 15 dias-multa no valor de R$ 500 cada dia, enquanto Branco foi condenado ao mesmo período no valor de R$ 200 o dia.

“Pouco”

Para Barbosa, hoje com 21 anos, a decisão colocou fim a uma espera de quase dois anos, mas não repara as sequelas deixadas pela agressão. “Eu acho pouco, porque eles vão poder sair da cadeia. Já a minha audição eu perdi para o resto da vida. Isso é um impacto muito grande”, disse.

Além da perda da audição, Barbosa escuta um zumbido constante no ouvido, tem um afundamento na testa do lado direito e cicatrizes das cirurgias. O trauma também fez com que ele mudasse seus planos. Após a agressão, ele precisou ficar afastado por três meses do trabalho, fazendo fisioterapia para recuperar os movimentos do lado esquerdo.

“Eu tentei estudar, mas não consegui pelo fato da dificuldade em interagir na sala por causa do zumbido. Hoje, saio de casa mais esperto, evito sair sozinho e andar a pé na rua a noite, é uma mudança na minha vida”, contou.

Amigos da vítima conseguiram pegar bastão usado por agressor em Rio Claro — Foto: Gabriel Smizmaul/Arquivo pessoal

O crime

O crime aconteceu na madrugada do dia 30 de abril de 2017. A mãe da vítima, a cozinheira Vilmara Ferreira Bandeira, contou que o filho voltava com dois amigos de um pub quando foram abordados na Rua 1 com Avenida 29, no bairro Cidade Jardim, por quatro homens que estavam um carro modelo Fusion prata. O passageiro teria perguntado ao trio se eles teriam um isqueiro para acender um cigarro. Os jovens disseram que não.

Amigo de Rafael, Gabriel Smizmaul disse que o passageiro provocou. “Ele falou: vocês são pobres e não fumam maconha? Falamos que a gente estudava, trabalhava, que a gente não precisava disso e demos as costas. Pegamos a contramão para não ter atrito. O motorista fez um retorno e entrou na contramão em que nos estávamos. A hora que a gente viu ele [o agressor] já desceu do carro e deu uma paulada na cabeça do Rafael”, contou.

Ao ser atingido, Rafael caiu desmaiado. Gabriel e o irmão partiram para cima do agressor e conseguiram desarmá-lo, mas os outros três que estavam no carro desceram.

“Meu irmão ainda levou uma paulada na costela. A gente viu que não ia conseguir brigar com os quatro, então paramos para socorrer nosso amigo. Os quatro entraram no carro e fugiram”, contou. Em depoimentos, os acusados negaram que havia outros homens no carro.

Oito dias após o caso, o mecânico assumiu em depoimento à Polícia Civil que agrediu o jovem com o bastão, mas que agiu em legítima defesa por conta de uma suposta briga. Para a defesa do rapaz agredido, a suposta briga não existiu e eles foram agredidos sem motivos.

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