Entre dor e resignação, pai comenta suspensão das buscas por filho que desapareceu no Rio Mogi Guaçu

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Robson de Jesus, de 41 anos, reconheceu esforço das equipes do Corpo de Bombeiros e condições difíceis do rio. Ao comentar sobre Guilherme de Jesus, afirmou que ele “viveu intensamente”.

“É difícil aceitar a interrupção, mas o que poderia ser feito, foi feito. Não tenho o que contestar o Corpo de Bombeiros”. Dividido entre dor e resignação, Robson Vanderlei de Jesus, de 41 anos, comentou a suspensão por tempo indeterminado das buscas pelo filho, Guilherme Henrique de Jesus, de 21 anos, que caiu com um carro no Rio Mogi Guaçu (SP) no dia 2 de janeiro.

O jovem que cresceu em Poços de Caldas e trabalhava em uma loja do pai, em Campinas (SP), viajava em direção a metrópole após as festas de fim de ano quando o Gol que conduzia entrou no canteiro central e desapareceu no rio. “Ele passou as festas em Poços e era uma viagem normal. Dormiu bem, acordou bem, não tinha pressa”, recorda Robson.

O empresário disse que acompanhou os trabalhos de busca de perto e reconhece as dificuldades de localização nas atuais condições do rio. “Com o volume atual não tem o que fazer. Fizeram a varredura com o sonar, percorreram 20 quilômetros. O mais provável [de encontrar] seria assim que o rio baixar. Nossa vontade seria encontrar, ter uma resposta, que seja a pior, para poder encerrar esse ciclo, se despedir e tentar seguir a vida. Infelizmente não é a realidade. Mas estou me preparando até para a possibilidade de não encontrar, se essa for a vontade de Deus”, lamenta o pai.

‘Viveu intensamente’

Ao falar sobre o filho, Robson permitiu-se dar sorriso à voz embargada pela tristeza da notícia que acabara de receber: a suspensão das buscas. Foi pai jovem, e mesmo divorciado, diz ter tido o prazer de ter Guilherme em sua companhia durante a vida. “Crescemos juntos”, afirmou.

Segundo Robson, Guilherme cresceu em Poços de Caldas e somente no último ano passou a viver em Campinas (SP), onde trabalhava em um de seus negócios, como atendente em uma agência de viagem. Nesse período, conviveu mais intensamente com a mãe, que mora na cidade.

Na cidade mineira ganhou dois irmãos por parte de pai, uma adolescente de 14 anos e um menino de 8. “Nos dias que antecederam [o acidente] ele se fechou com eles, fez coisas que habitualmente não faziam. Eles eram próximos, mas foi diferente”, recorda.

Ao tentar encontrar repostas para os porquês que um desaparecimento como esses deixa na família, o pai diz acreditar que o filho “parecia saber que sua passagem seria rápida”. “A gente não sabe se começa a enxergar essas coisas para confortar. Guilherme viveu o que poderia ter vivido. Não se apegou aos estudos ou a relacionamentos, mas gostava de viajar. Tinha acabado de voltar de Ilhéus. Foi sozinho, mas ele fazia amizade fácil. Viveu com itensidade”, resumiu Robson.

Dentro dessa visão de que instintivamente o jovem preparava uma despedida, o pai conta que Guilherme conseguiu estar próximo de todos da família no final do ano. “É uma família grande, em lugares diferentes, o Guilherme conseguiu falar, ver todo mundo”.

Buscas suspensas

O Corpo de Bombeiros anunciou nesta terça (17) a suspensão por tempo indeterminado as buscas por Guilherme Henrique de Jesus. “Após 15 dias de buscas intensas pelo Corpo de Bombeiros, houve a suspensão ativa das buscas pelo veículo por tempo indeterminado tendo em vista o esgotamento de todos os meios disponíveis”, informou a corporação.

As buscas envolveram até um sonar emprestado pelo Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo). O equipamento utilizado nas buscas emite sinais acústicos que permitem a obtenção de imagens da superfície de fundo.

Segundo o professor Michel Michaelovitch de Mahiques, tudo o que estiver no leito e não encoberto por lama, pode ser “visualizado”. As imagens obtidas permitem diferenciar pedras, galhos e outros objetos – como um carro, alvo das buscas.

O aparelho que pode ser utilizado em qualquer corpo d´água é usado geralmente para mapear o fundo marinho com profundidade de até mil metros. No caso do Rio Mogi Guaçu, segundo as equipes, os pontos mais profundos chegam a 10 metros.

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