As crianças realizavam trabalhos forçados e eram chamadas por números e não por seus nomes.
Na década de 1930, no interior de São Paulo, a Fazenda Cruzeiro do Sul, perto de Campina do Monte Alegre, escondia algo assustador. Na fazenda eram mantidas crianças, principalmente negras, levadas de orfanatos com a falsa promessa de uma vida melhor. Mas a realidade era bem deferente: chegando à fazenda, elas recebiam números no lugar de seus nomes e trabalhos e castigos severos.
Aloysio da Silva, um dos primeiros meninos levados para trabalhar na fazenda, deu uma entrevista para a BBC em 2014. “Ele prometeu o mundo – que iríamos jogar futebol, andar a cavalo. Mas não tinha nada disso. Todos os dez tinham de arrancar ervas daninhas com um ancinho e limpar a fazenda. Fui enganado”, contou. As crianças eram espancadas regularmente com uma palmatória e eram chamadas apenas por seus números. Aloysio era o número 23.
A Fazenda Cruzeiro do Sul tinha pertencido aos Rocha Miranda, uma família de industriais ricos do Rio de Janeiro. O pai, Renato, e dois filhos, Otávio e Osvaldo, eram membros da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização de extrema-direita simpatizante do Nazismo.
A família às vezes organizava eventos na fazenda, recebendo milhares de membros do partido. Mas também existia no lugar um campo brutal de trabalhos forçados para crianças abandonadas.
Argemiro dos Santos foi outro sobrevivente. Quando menino, foi encontrado nas ruas e levado para um orfanato. Um dia, Rocha Miranda apareceu para buscá-lo. “Eles não gostavam de negros”. “Havia castigos, deixavam a gente sem comida ou nos batiam com a palmatória. Doía muito. Duas batidas, às vezes. O máximo eram cinco, porque uma pessoa não aguentava”, lembra Argemiro, também em entrevista à BBC.
Alguns dos descendentes da família Rocha Miranda dizem que seus antepassados deixaram de apoiar o Nazismo antes da Segunda Guerra Mundial. Maurice Rocha Miranda, sobrinho-bisneto de Otávio e Osvaldo, também nega que as crianças eram mantidas na fazenda como “escravos”.
Em entrevista à Folha de São Paulo, ele disse que os órfãos na fazenda “tinham de ser controlados mas nunca foram punidos ou escravizados”. O historiador Sidney Aguillar Filho, no entanto, acredita nas histórias dos sobreviventes.
Fonte: BBC
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