Fila para cirurgia bariátrica no HC da Unicamp tem 1,5 mil e espera pode levar 5 anos

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Hospital de Clínicas (HC) em Campinas é o único na região a atender a demanda de pacientes com obesidade. Hospital da Unicamp em Sumaré busca recursos para oferecer a cirurgia.

O Hospital de Clínias da Unicamp, em Campinas (SP), está com uma fila de 1,5 mil pessoas para a realização da cirurgia bariátrica. O centro, para atendimentos e procedimentos de alta complexidade, é o único da região a oferecer a operação a pacientes com obesidade. A espera pode chegar a cinco anos.

As cirurgias são feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e esbarram nas limitações da estrutura oferecida pelo HC. Por isso, desde 2016 a Unicamp não organiza uma data para inscrições, que chegava a atrair até três mil pessoas de todo o Brasil, afirma gastrocirurgião e chefe do Ambulatório de Obesidade Mórbida da Unicamp há 20 anos, Elinton Adami Chaim.

“A gente está tentando aumentar o número de cirurgias mas esbarra em leitos de internação, horário cirúrgico, a capacidade do hospital. O hospital tem uma capacidade limitada e a gente trabalha com ela no máximo. A obesidade é uma doença que tem aumentado no mundo inteiro a procura é muito grande. […] Nos últimos dez anos quadruplicamos o volume [no HC]”, explica.

Mesmo com o foco de liquidar a fila, o HC recebe, por semana, ao menos cinco casos novos encaminhados pela rede pública de saúde e mais cinco provenientes da demanda interna do hospital. A equipe tem quatro médicos e faz, em média, 20 cirurgias por mês.

“Existe uma obesidade que é mórbida e o doente está clinicamente controlado, e tem a que ele está correndo risco de infarto, de morte, e tem que priorizar”, afirma Chaim.

Busca por recursos

O Hospital Estadual de Sumaré (SP), que também é da Unicamp, chegou a realizar essas cirurgias anos atrás, mas deixou de atender o procedimento. Com nova administração desde o início deste ano, a unidade estuda a possibilidade de retomar as operações para reduzir a fila, mas ainda sem previsão.

“O Hospital de Sumaré fazia há cerca de quatro ou cinco anos atrás. Fazia toda semana com toda a equipe daqui [do HC]. Mas, por orientação administrativa, lá as cirurgias deixaram de ser feitas”, explica Chaim.

Caminho para entrar na fila

Desde 2016, os agendamentos passaram a ser feitos por meio do Departamento Regional da Saúde (DRS). A pessoa com o quadro de obesidade procura uma unidade da rede pública, passa por avaliação e, caso tenha indicação de cirurgia, é encaminhada para o DRS, que faz a marcação do procedimento diretamente no HC da Unicamp.

Apesar da regionalização, Chaim afirma que muitos pacientes continuam vindo de outras regiões do Brasil para entrar na fila. Por conta da longa espera, o cirurgião conclui que muitos acabam entrando em mais de uma fila em hospitais pelo país.

“O paciente está em várias filas, em vários serviços. É muito difícil para saber quanto tempo levaria. Acho que seria um tempo menor de cinco anos, mas se parasse de entrar casos novos. Muitas vezes são casos graves”, diz.

Atualmente, o HC está preparando uma média de 200 a 250 pacientes para as próximas cirurgias. Em encontros semanais, eles fazem acompanhamento com uma equipe multidisciplinar – médico, psicólogo, nutricionista, enfermagem – e controle de perda de peso.

“[Perda de] aproximadamente de 10%, para diminuir as complicações e os riscos da cirurgia, e até mostra o empenho do paciente em fazer uma dieta, atividade física, mudar os hábitos de vida, que é o mais importante”, explica.

Na tentativa de reduzir o número de obesos, também é feito um trabalho com as pessoas mais próximas dos internados.

“Com todo o obeso que vai para a cirurgia nós fazemos um trabalho com os familiares no sentido de saber as condições e orientar a família sobre dieta e atividade física, a necessidade de mudança da vida, para evitar novos pacientes no futuro”, diz Chaim.

Em alta

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, nos últimos dez anos – entre 2008 a 2017 – a realização de cirurgias bariátricas pelo SUS cresceu 48,5%. Mais de 14,9 mil procedimentos foram feitos no estado, sendo 1,6 mil só em 2017. Pacientes do sexo feminino são maioria, em torno de 80%.

Um estudo divulgado este mês pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), com informações do Datasus e do Sistema de Informações Hospitalares, aponta um crescimento de 215% no número desse procedimento no Brasil. Foram 3.195 em 2008, contra 10.064 em 2017.

“O que a gente sabe é que a obesidade tem aumentado e o tratamento que tem melhor resultado a longo prazo é o tratamento cirúrgico. Mas não tem cura, tem controle. É uma doença epidêmica, não vai resolver se não mudar os hábitos de vida, a alimentação, atividade física”, diz o médico do HC.

A obesidade atinge 18,9% dos brasileiros, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, realizada pelo Ministério da Saúde.

“É um empenho que precisa ser de uma política de saúde para começar a trabalhar com crianças e a população de uma maneira geral”, alerta Chaim.

Em Campinas, de acordo com a Prefeitura Municipal, em todos os 64 centros de saúde há grupos de discussões sobre alimentação saudável. Também há grupos sobre doenças crônicas como hipertensão, que abordam a questão da obesidade. Para participar, é só procurar as unidades.


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