‘Foram gentis, mas não via a hora que fossem embora’, diz homem usado como escudo humano por assaltantes de banco

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Motorista de 57 anos voltava para casa após o trabalho quando foi parado por criminosos fortemente armados em Araraquara (SP). Ação ocorreu na madruga de terça-feira (24).

O motorista de 57 anos que foi usado como escudo humano durante um assalto a bancos, na madrugada desta terça-feira (24), em Araraquara (SP), contou para a repórter Ana Marin, do portal G1, como foram os momentos de medo que passou ao lado dos criminosos que explodiram cofres de uma agência da Caixa Econômica Federal, no Centro, e tentaram roubar uma agência do Banco do Brasil. “Eles até que foram gentis, mas eu não via a hora que eles fossem embora”, desabafou.

De acordo com a Polícia Militar, estima-se que os ladrões levaram R$ 2,5 milhões em dinheiro e R$ 2,5 milhões em joias de uma das agências. Até o momento, ninguém foi preso.

Moradores registraram ação da quadrilha em tentativa de assalto a bancos em Araraquara — Foto: Redes sociais

Relato

O homem, que não quis se identificar, disse que estava voltando para casa do trabalho, quando passou por uma das ruas do Centro e indivíduos o fizeram parar o carro. Eles mandaram que ele e outro homem que já estava em poder dos criminosos sentassem no meio-fio.

A vítima contou que durante todo o tempo eles disseram que não iriam machucá-los. “Eles entraram na minha frente com aquelas armas pesadas, já mandaram descer do carro: ‘desce, desce, desce’. Nisso já tinha pegado outro [refém] do lado, ai jogou o rapaz dentro do carro, eu também. Subiram duas quadras na contramão e quando chegou na esquina dos Correios mandou a gente descer do carro e sentar no chão”, contou.

O homem contou que não sofreu ameaças dos criminosos. “Eles foram até gentis, em termos de falar ‘o nosso negócio não é com vocês, nós viemos buscar nosso salário’. Eu fiquei sem entender, só pensava ‘isso é problema de vocês’”.

Segundo o motorista, foram disparados muitos tiros, principalmente quando algum veículo se aproximava ou quando moradores saíam nas janelas dos prédios das redondezas. “Eles atiravam para o alto e já mandavam as pessoas voltar com o carro para trás ou para entrar em seus apartamentos”.

Um dos momentos mais tensos, segundo o homem, foi quando alguém atirou contra os criminosos. “De repente apareceu um rapaz lá pra cima dos Correios atirando contra eles, aí eles falaram ‘ó, tem um cara atirando contra a gente, mas é calibre pequeno, não é pesado igual o nosso. Se protege, fica atrás do poste. Aí esse cara atirou e escutei passar perto da minha orelha e bater no poste e o cara [bandido] estava atrás do poste”, contou.

“Falei :‘o quê?’, peguei e deitei entre a guia e o asfalto, onde corre a água. Fiquei deitado ali um tempão e só tiro, tiro, tiro”, completou.

Cápsula de munição encontrada após tiroteio em Araraquara — Foto: Redes sociais

Demora

Com a demora na ação, o motorista chegou a questionar o criminoso sobre o tempo que ficariam ali. “Já fazia quase uns 30 minutos que eu estava ali deitado, ele perto de mim ali dando tiro, aí eu olhei pra cara dele e falei ‘ô colega, tá demorando muito’, eu não via a hora que eles fossem embora. Aí ele olhou pra mim e balançou a cabeça, depois falou ‘ô amigo, tá muito demorado, vamos agilizar, vamos embora’ e continuou dando tiro, tiro, tiro”, lembrou.

O homem contou que quando os disparos acabaram ele torceu para que os criminosos os esquecessem ali no chão, mas não foi isso que aconteceu. “Só queria me largassem lá. De repente, um gritou ‘chama os reféns, chama os reféns’. Eu fiquei quietinho lá deitado. Aí eles falavam ‘levanta, vamos’ e eu quietinho. Até que um gritou bem alto, aí eu levantei, né. Levantei e corri perto do carro que eles estavam”, disse.

“Eles colocaram o outro colega em cima do capô e me colocaram em cima do carro. Pensei ‘meu Deus do céu’ e eles saíram em alta velocidade. Fiquei morrendo de medo de cair. Eu estava sem camisa, com uma calça fininha, escorregadia e eles giravam pra lá, giravam pra cá e eu grudado no ferro que nem um morcego pra não cair e graças a Deus não caí”, relatou.

De acordo com o motorista, os criminosos pararam o carro atrás da unidade da Nestlé na cidade e mandaram ele e o outro refém pular de cima do veículo. “Pulamos, saímos correndo e eles foram embora. Pensei ‘Graças a Deus’”, lembrou aliviado.

Quadrilha incendiou caminhões e carros para impedir ação da PM em Araraquara — Foto: Redes sociais

Proteção

Mesmo com medo, o homem disse que não perdeu a fé em nenhum momento em que foi mantido refém pelos criminosos. “Para eles, dar um tiro na gente ou quebrar um galhinho de uma árvore é a mesma coisa, né? Mas, graças a Deus, o meu pai, aquele que antes que houvesse céus e terra, ele já tinha um plano na minha vida. Então, tinha certeza que ele ia me proteger como me protegeu, porque nada aconteceu, não tive um arranhão”, finalizou.

3° Batalhão da Polícia Militar de Araraquara foi alvo de quadrilha — Foto: A Cidade ON/Araraquara
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