Objetivo é centralizar e automatizar monitoramento de contatos feito por municípios de todo o estado.
Por Patrícia Figueiredo e Renata Bitar, G1 SP — São Paulo
O governo de São Paulo anunciou nesta quinta-feira (9) a criação de uma ferramenta unificada para que os municípios do estado façam omonitoramento de pessoas que tiveram contato com casos confirmados de Covid-19. O rastreamento de contatos, como é chamado esse processo, é considerado por especialistas uma estratégia essencial para o controle do novo coronavírus (leia mais abaixo).
Segundo o governo estadual, 98% dos municípios do estado já fazem algum tipo de monitoramento de contatos por meio de suas vigilâncias de saúde municipais. De acordo com a secretaria de Desenvolvimento Econômico, nos últimos 15 dias, mais de 550 mil pessoas foram monitoradas por essas equipes e orientadas a ficar em casa, em isolamento.
A nova ferramenta visa centralizar e padronizar o processo que é feito atualmente, orientando todas as pessoas que tiveram contato com casos confirmados por mais de 15 minutos nos últimos 14 dias a ficarem em casa. O objetivo é que 100 municípios participem do projeto até o final de agosto.
Nesta segunda-feira (6) teve início um piloto do projeto em três cidades paulistas: Araraquara, São Bernardo do Campo e Bauru.
“Em cada um deles nós estamos fazendo um piloto levemente diferente. Em São Bernardo do Campo eles já têm uma equipe bastante profissionalizada, com 50 membros, e nós vamos apoiá-los com modelo de controle e integração de plataforma. Em Araraquara, vamos fazer o modelo de apoio parcial, com uma equipe remota também. E em Bauru, um modelo de apoio mais integrado”, afirma Patrícia Ellen, da secretaria de Desenvolvimento Econômico estadual.
Estratégia essencial
Para o médico Marcio Bittencourt, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, a falta de rastreamento e isolamento de casos confirmados foi a principal falha no combate ao coronavírus em São Paulo e no restante do Brasil.
“A maioria dos lugares não está fazendo nem isolamento dos casos, nem rastreamento dos contatos. Aqui mesmo no estado de São Paulo eu não sei de nenhum local que está com um esforço disso. E a gente tinha que ter investido mais nisso, porque não basta ficar em casa, tem que ficar sozinho. É um controle de contatos, isolar os contatos e, se possível, testar. É identificar e isolar, e isso muito mais difícil que só fazer um teste”, explica Bittencourt.
Bittencourt acredita que uma estratégia de isolamento ou quarentena central, na qual casos confirmados que não podem se isolar em casa são submetidos a uma quarentena obrigatória em um local isolado, teria sido mais efetiva do que o processo atual de monitoramento, no qual os casos confirmados e seus contatos próximos são acompanhados por telefone por funcionários da saúde.
A infectologista Nancy Bellei, da Unifesp, disse, na coletiva de imprensa de anúncio da nova ferramenta, que a percepção de risco das pessoas que tiveram contato com casos confirmados “muitas vezes é relaxada”.
“Quase todos os dias 30% de todos os funcionários que coletam exame, que eu avalio, testam positivo, e muitos deles nem têm contato direto com pacientes, mas é porque a percepção de risco muitas vezes é relaxada”, disse Bellei.
Dificuldades do monitoramento
O governo de SP foi questionado sobre as dificuldades de manter a população contaminada ou que teve contato com pacientes contaminados dentro de suas casas. Além disso, especialistas apontam ainda que o isolamento de casos deveria poupar familiares, que muitas vezes acabam se infectando no contato com pacientes “isolados” dentro da mesma casa.
A secretária Patrícia Ellen, titular da pasta de Desenvolvimento Econômico, argumenta que o protocolo adotado por São Paulo, para isolamento domiciliar, está de acordo com diretrizes dos ministérios da Saúde e da Economia. Ela destacou ainda que o trabalho é feito apenas “em tom de recomendação”.
“Esse trabalho vem de uma referência, de uma resolução conjunta, do Ministério da Saúde com o Ministério da Economia, que prevê esse protocolo exatamente para apoiar, inclusive, o que deve ser feito dentro do ambiente das empresas, não somente dentro de casa, como também para proteger os funcionários nessa retomada. O que tem sido feito tipicamente para indicar esse isolamento é em tom de recomendação e isso pode ser feito tanto por um médico, como por um agente da vigilância”, destacou Ellen.
O coordenador do comitê de saúde do governo estadual, Paulo Menezes, disse que as questões sociais que dificultam o isolamento domiciliar são nacionais, e não características de SP.
“Basicamente, o país tem questões da sua estrutura social que dificultam o isolamento em algumas situações. Todos os programas sociais e econômicos para apoiar a população de baixa renda são fundamentais para que o programa de monitoramento de contatos seja o mais efetível possível”, disse.
“Nós entendemos que é fundamental buscar o isolamento, mas entendemos também que em algumas situações vai ser necessário outro tipo de ação, de outras áreas, pra que isso possa ocorrer de maneira efetiva.”