Home office ganha adesão no país; veja direitos, cuidados e dicas para produtividade

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Prática exige cuidados por parte dos profissionais, que devem administrar o tempo para não extrapolar jornada; pesquisas revelam aumento de adesão, mas apontam possibilidade de epidemia de solidão e perda de produtividade

O número de brasileiros que trabalham em esquema de home office, ou trabalho remoto, vem batendo recorde. A adesão aumentou com a alta do trabalho informal, mas também coincide com a reforma trabalhista, em vigor há dois anos, que regulamentou o trabalho em casa.

A prática, no entanto, exige cuidados por parte dos profissionais, que devem administrar o tempo para que não extrapolem a jornada e transformem sua casa em ambiente de trabalho. E as empresas devem se organizar para evitar problemas com fiscalizações e ações trabalhistas. Além disso, trabalhar à distância, longe do burburinho de colegas em um escritório, pode gerar desânimo e até solidão, justamente por não haver alguém para incentivar, dar opinião ou compartilhar experiências.

Levantamento divulgado em dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em 2018, 3,8 milhões de brasileiros trabalhavam dentro de casa, o chamado home office. Trata-se do maior contingente de pessoas nesta condição de trabalho já registrado – resultado da alta informalidade no país.

De acordo com o IBGE, o home office correspondia a 5,2% do total de trabalhadores ocupados no pais, excluídos da conta os empregados no setor público e os trabalhadores domésticos. Na comparação com 2012, quando teve início a série histórica da pesquisa, esse contingente teve alta de 44,4%.

Já dados da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt) revelam que cresceu 22% a adoção do home office pelas empresas entre 2016 e 2018. Foram consultadas mais de 300 empresas de diferentes segmentos e portes, com capital nacional e internacional, que empregam mais de 1 milhão de pessoas.

A pesquisa mostrou que 45% das empresas participantes praticam home office e 15% estão avaliando a implantação.

Os segmentos onde a modalidade apresenta maior representatividade (44% do total) são TI/telecom (28%) e serviços (16%). E as áreas são tecnologia da informação, recursos humanos marketing, controladoria/finanças e jurídico.

Os principais objetivos para a implantação do home office foram:

  • melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores: 70%
  • mobilidade urbana (rodízio de veículos e diminuição do tempo no trânsito): 63%
  • concessão de benefício para os colaboradores: 47%
  • atração e retenção de talentos: 47%
  • redução de despesas com espaço físico: 36%
  • despesas e aumento de produtividade: 33%

No entanto, o home office é adotado principalmente para níveis de cargos específicos como executivos, diretores, coordenadores e supervisores (52%). Já 25% das empresas adotam para todos os cargos, incluindo os de natureza operacional, e 23% para todos, menos os operacionais.

  • 66% das empresas adotaram o regime parcialmente flexível, com carga horária definida, mas com flexibilidade de horário
  • 22% adotaram a jornada completamente flexível, podendo trabalhar em qualquer horário, já que o trabalho é medido por atividade e resultado
  • 18% adotaram o regime rígido, com hora para começar e terminar

Direitos trabalhistas

De acordo com Bianca Canzi, advogada especialista em direito do trabalho do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados, a reforma trabalhista alterou o regimento da modalidade de prestação de serviço, pois agora os empregados não são submetidos ao controle de jornada e não terão direito ao recebimento de horas extras. Contudo, nada impede que o controle de jornada e as horas extras sejam acordados mediante acordo individual.

 

A nova lei ainda não especificou quem deverá arcar com as despesas relacionadas à aquisição, manutenção e fornecimento dos equipamentos necessários para o trabalho, sejam tecnológicos ou referentes à infraestrutura. Dessa forma, essa responsabilidade deverá estar prevista no contrato de trabalho. Além disso, o empregado segue com todos os direitos trabalhistas previstos, como férias, 13º salário, aviso prévio e as verbas rescisórias previstas pela lei trabalhista.

A advogada ressalta que a lei deixa clara a responsabilidade do empregador de instruir os trabalhadores sobre as precauções que devem ser tomadas para evitar doenças ocupacionais e acidentes, o que deve ser feito de “maneira expressa e ostensiva”. O trabalhador deverá assinar um termo de responsabilidade, comprometendo-se a seguir as instruções repassadas.

“As empresas devem buscar a transição entre antigos e novos modelos, não apenas do ponto de vista tecnológico, mas de cultura interna para prevenir possíveis problemas na Justiça do Trabalho. Muitas têm buscado conciliar tanto o trabalho tradicional como o home office, ao permitir que empregados trabalhem em casa em alguns dias da semana ou apenas às sextas-feiras, por exemplo”, diz a advogada.

Dicas para ser produtivo

Os profissionais que trabalham em casa precisam evitar uma série de distrações a fim de não perder o ritmo do escritório. Pensando nisso, Paulo Marchetti, CEO da Compara, marketplace de seguros e produtos financeiros que já investe na modalidade de trabalho fora do escritório, listou abaixo 5 dicas de produtividade para quem faz home office.

Crie a própria agenda, com horários pré-definidos

Fazer home office não significa, exatamente, trabalhar no horário de sua preferência. É importante alinhar um horário com a sua equipe, em que todos estarão online. Geralmente, as empresas respeitam as escalas de um dia normal de trabalho. Ter um comprometimento com uma hora para começar e terminar vai ajudar a estabelecer uma disciplina, além de evitar distrações como a TV ou pendências pessoais.

Reserve um local tranquilo e confortável para trabalhar em casa

É importante ter um lugar apropriado para trabalhar em casa, um espaço que seja cômodo, organizado e silencioso para que você se dedique às tarefas do dia a dia. Por isso, desconsidere opções como o sofá da sala ou a cama do quarto, já que eles podem acabar com qualquer desejo de cumprir com as demandas de trabalho. Monte uma escrivaninha ou crie um escritório na sala mesmo – e negocie com familiares para que a sua presença em casa não seja um sinônimo de disponibilidade para momentos de lazer ou tarefas domésticas.

Esqueça as distrações como TV e redes sociais

Estar em casa durante uma tarde inteira pode ser uma tentação se você é fã de séries ou ama um programa de auditório na TV. Caso você não trabalhe nessa área, é importante evitar essas distrações. Outro fator que pode dispersar no home office são as redes sociais. Se a vontade de entrar nelas for grande, estabeleça pausas periódicas no trabalho para fazer isso.

Vista-se de forma apropriada

A forma como você se veste diz muito sobre como enfrenta os desafios do trabalho e que tipo de mensagem gostaria de compartilhar com o time. Quando estiver em home office, mantenha o dress code de um dia normal no escritório. Vista-se de maneira apropriada, como se fosse ter uma reunião com um dos seus líderes na empresa. E, certamente, numa ocasião como essa, você não iria de pijama.

Respeite o fim do expediente

Se você tem um horário para começar a trabalhar, é também importante estabelecer um fim para seu expediente. Apesar de você estar em casa, não trabalhe até altas horas da noite. Respeite seu horário e concentre-se para realizar todas as tarefas dentro dele. Ao fim do dia, desligue seu computador e aproveite o tempo livre para se dedicar a compromissos pessoais.

Solidão
O home office pode ajudar a desencadear epidemia de solidão e perda de produtividade nas empresas, tornando-se o vilão da saúde mental nas organizações, aponta recente estudo realizado pela consultoria global de gestão estratégica A.T. Kearney.

A análise revela a tendência a uma epidemia de solidão entre os trabalhadores nos próximos cinco anos, e ela deve ter como gatilho, entre outros fatores, o uso indiscriminado do trabalho remoto. O estudo revela ainda que a geração mais jovem é a que se sente mais só e sugere políticas corporativas para gerar senso de pertencimento nos colaboradores.

Segundo a análise, fatores como as mudanças de padrões e comportamento nos ambientes mais modernos de trabalho e o uso excessivo das redes sociais, entre outros, darão a essa tendência de solidão o status de epidemia. E, além do impacto na saúde física e mental, ela também acarretará a perda de produtividade nas empresas.

De acordo com o estudo, a solidão e o reduzido senso de pertencimento no ambiente de trabalho devem impactar o ambiente corporativo como um todo. A análise indica ainda que o número de trabalhadores remotos cresceu 115% entre 2008 e 2018 em nível global, e são justamente esses colaboradores os mais propensos a desistir do trabalho por causa da solidão.

“É fundamental promover ações de socialização, como happy hours, reuniões e treinamentos presenciais para despertar nos colaboradores o sentimento de que eles são parte do grupo e importantes para a empresa”, sugere Sandra Strongren, gestora da área de Recursos Humanos da A.T. Kearney no Brasil.

“Outra boa prática é a adoção de programas de mentores. O colaborador escolhe alguém mais sênior para que seja uma espécie de tutor dentro da companhia. É para essa pessoa que ele pedirá conselhos sobre sua vida profissional”, diz Sandra, lembrando que esse tipo de política ajuda a desenvolver no funcionário os sensos de direcionamento, inclusão e propósito.

O estudo da A.T. Kearney aponta ainda que ter amigos no trabalho importa, especialmente para os profissionais mais novos. Segundo o levantamento, 74% da Geração Z (nascidos a partir de 1995) e 69% dos Millenials (1980 – 1994) dizem que tendem a ficar numa companhia quando têm mais amigos ali. Os índices caem para 59% dos trabalhadores da Geração X (1965 – 1979) para e 40% entre os Baby Boomers (1945 – 1964).

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