Mãe, pai, irmãos e outros familiares foram à Itaitinga receber Antônio Cláudio Barbosa, condenado e preso por engano ao ser confundido com o criminoso conhecido como ‘maníaco da moto’.
Por Cinthia Freitas; Aline Oliveira; Messias Borges, G1 CE
Acusado por um crime hediondo que não cometeu e preso por engano durante quase cinco anos, o borracheiro Antônio Cláudio Barbosa de Castro voltou à liberdade na tarde desta terça-feira (30), sob os abraços e lágrimas de alívio dos familiares, que o aguardavam do lado de fora do Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), conhecido como CPPL V, em Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza.
“Muita coisa que a gente passou junto, minha família, meus irmãos, eu não tenho nem palavras, eu não estou nem acreditando. Pra ser sincero, muita fé eu tive. É muito difícil porque eu não consigo imaginar como pessoas que se consideram seres humanos colocam uma pessoa inocente dentro de um lugar desse aqui onde passei todo tipo de coisa horrível”, afirmou Antônio Cláudio, logo ao sair do presídio.
“Também tem muitas pessoas maravilhosas, ninguém deve generalizar não. Ninguém deve acreditar em tudo o que as pessoas falam não, porque aqui também tem muita gente de coração bom, muita gente me ajudou, muita gente reconhece o meu caráter”, completou.
Atualmente com 35 anos, Antônio Cláudio estava preso desde agosto de 2014, ficando quatro anos e 11 meses encarcerado. Antes do erro dos sistemas policial e judiciário cearenses, reparado nesta segunda-feira (29) quando a Justiça inocentou o homem em novo julgamento, ele era dono de uma borracharia no Bairro Mondubim, em Fortaleza, e não tinha passagens pela polícia.
O caso que levou à reviravolta na vida de Antônio Carlos ficou conhecido como o “maníaco da moto”. Um criminoso que utilizava uma motocicleta de cor vermelha para abordar as vítimas, ameaçando as mulheres com uma faca e cometendo os estupros nas ruas de Fortaleza. O verdadeiro culpado nunca foi identificado.
Mãe, pai, irmãos e outros familiares foram à Itaitinga receber Antônio Cláudio na estreia da nova etapa de vida do borracheiro. Sem ter realizado visitas ao filho durante o período de detenção, o pai, e também borracheiro, José Joaquim de Castro, falou sobre o sentimento de reencontrar o filho depois de quase cinco anos.
“Sou operado do coração, mas sou forte. Esperei muito tempo, mas Deus é maior. Meus amigos estão tudo esperando a chegada do meu filho lá em casa”, disse.
Emoção e alegria compartilhada com a mãe de Antônio Cláudio, a dona de casa Antônia Barbosa de Castro. Sobre o momento da espera, ela enfatizou que tudo o que queria era ver o filho e “dar um abraço bem grande nele”.
Evidências do erro
A liberdade veio para Antônio Carlos após uma ex-namorada do borracheiro procurar ajuda da Defensoria Pública e dos Advogados do Innocence Project Brasil, iniciativa de profissionais que atuam na defesa de condenados erroneamente pelo poder judiciário.
Entre as evidências apontadas pela defesa no novo julgamento, os advogados alegam que o autor do crime tem cerca de 1,80 metro, com base em vídeos que registram o homem cometendo os atos. A altura de Antônio Cláudio, condenado por engano, é 1,59 metro.
A advogada Flávia Rahal, integrande do projeto, afirma que “a única coisa que sustentou a condenação foi o reconhecimento feito pela vítima” – não houve exame de DNA, por exemplo. O reconhecimento foi feito por uma criança de 11 anos, vítima de estupro. Conforme Rahal, a criança se equivocou ao se convencer de que o borracheiro foi o autor do crime.
“Não estamos falando de um reconhecimento feito por má fé. Ela foi vítima de abuso, deve ser uma coisa que deixa marcas muito doloridas. E quando ela viu a foto dele [Antônio], se convenceu que ele era a pessoa que a atacou. No momento em que ela se convence – tem uma tese de direito com psicologia que fala da falta de memória – ela interioriza que foi ele”, ponderou a advogada.
Além disso, a defesa afirmou ter provas documentais que de que Antônio Cláudio não possuía uma motocicleta de cor vermelha no período em que os crimes foram cometidos.
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