Ela agora precisa da ajuda de um aparelho de oxigênio devido ao cansaço, mas se recupera em casa com apoio e carinho da família.
É com muito orgulho que uma moradora de Botucatu (SP) posou na foto para a família com o recado em uma folha de sulfite dizendo “Venci a Covid-19!”. A preocupação dos parentes em saber se ela estava bem é, principalmente, por conta de um detalhe: seus 100 anos de vida.
Ainda em repouso por causa dos sintomas pós doença, como cansaço e leve falta de ar, Helena Tortorella Pinheiro Machado apresenta um quadro bom durante a recuperação após os 17 dias internada em hospitais da região. “Os médicos falaram que por ela ser muito ativa e lúcida, isso ajudou muito na internação dela”, conta Estela Pinheiro, neta da moradora centenária.
Helena ficou internada no Hospital das Clínicas da Unesp e no Hospital Estadual de Botucatu (SP) após ser diagnosticada com Covid-19. A família conta que os sintomas começaram a surgir no mês de março, quando a idosa começou a ter febre, tosse e coriza.
Ela foi internada no dia 29 de março, pois não estava respirando bem e a febre continuava alta. “Nesses dias anteriores à internação, ela já estava na casa dos meus pais sendo cuidada por eles, e recebendo atendimento da Central Coronavírus de Botucatu. Os profissionais iam quase que diariamente ver o estado dela”, conta Estela.
A preocupação da família com Helena aumentou quando o quadro da matriarca se agravou, pois os pulmões foram muito comprometidos e ela quase foi entubada. Mas os médicos optaram por não fazer o procedimento. “A equipe médica decidiu que o melhor era não intubar porque ela estava muito fragilizada e poderia não resistir ao procedimento. Os médicos perguntaram se meu pai concordava com a decisão e ele concordou.”
Após 15 dias de internação, a decisão se provou estar correta e a visível melhora da idosa fez com que ela fosse considerada recuperada do quadro grave da doença e fosse transferida para o Hospital Estadual de Botucatu, onde ficou por dois dias apenas até que a família recebesse o aparelho de oxigênio fornecido pelo SUS, que ela precisa utilizar durante sua recuperação em casa.
A alta no dia 15 de abril foi uma vitória para a idosa e uma alegria para a família, mas as sequelas da doença agora precisam ser revertidas aos poucos.
Nova realidade
Helena que sempre foi independente e morava sozinha antes de contrair o coronavírus, sendo apenas monitorada por duas cuidadoras, seu filho e nora, agora está fragilizada e precisa se adaptar à nova realidade depois da doença. “Ela morava sozinha na casa dela e não queria sair de lá. Então, como ela era muito ativa, não queríamos tirar ela da sua casa. Por isso, meu pai passava o dia inteiro com ela, minha mãe ia a noite e as duas cuidadoras apenas acompanhavam”, conta.
A neta completa dizendo que seu pai, filho de Helena, até “brigava” com a avó dela por causa da desobediência. “Há alguns anos ele não deixava mais ela cozinhar sozinha, por exemplo, mesmo assim ela era independente e eu acho que isso é o que mantém ela viva por todo esse tempo. Mas agora mesmo ela está sofrendo bastante, porque ela virou dependente. Ela não é mais independente.”
Agora, a mãe e o pai de Estela são quem cuidam de Helena, na casa do filho, durante todo o dia. E a mulher que sempre foi responsável por cuidar de todos durante grande parte de sua vida precisa receber cuidados. “Ela não tem mais cuidadoras, é minha mãe e meu pai cuidando dela 24 horas por dia. Ela agora mora com a minha mãe. Minha avó sempre foi muito de cuidar de todo mundo da família, ela cuidou da irmã dela, que faleceu com 110 anos, até o último minuto da vida dela. A vó também ficou viúva muito cedo, meu pai tinha apenas 20 anos. Depois meu pai casou com minha mãe, vieram duas netas e ela ajudou a cuidar de mim e da minha irmã”, diz Estela.
Helena ainda não consegue comer alimentos sólidos e perdeu peso. Como a Covid acometeu grande parte do pulmão, a idosa vai usar auxílio do oxigênio por tempo indeterminado e precisa retornar com o pneumologista, mas sem data definida.
Queridinha da equipe
Estela conta que a avó recebeu muito carinho dos profissionais da saúde que a atenderam. “Quando ela veio para casa, eu perguntei se sentiu solidão e ela disse que não, porque os profissionais cuidaram muito bem dela, mimaram ela. Ela era o ‘xodózinho’. Eles chamavam ela de ‘nossa velhinha’.”
Estela agora deseja que a avó viva com saúde e que a família possa fazer da sua vida a melhor possível. “Eu espero que a gente viva ao lado dela um dia de cada vez, porque cada dia na recuperação dela foi de extrema importância pra gente, como se tivessem passado anos. Daqui pra frente a gente vai passar por isso vivendo um dia de cada vez. Desejo que minha vó continue tendo saúde. A recuperação dela foi uma grande oportunidade de vida e eu falei pra ela que mais de 389 mil famílias não tiveram essa oportunidade, ela tem consciência disso, foi uma graça alcançada.”
* Colaborou sob supervisão de Eduardo Ribeiro Jr.