Daniela passou mais de cinco meses em hospital de São Vicente (SP) para cuidar do namorado. Hoje ela vive com ele e não perde a esperança em sua recuperação.
Às 10h30 do dia 26 de setembro de 2017, em São Vicente, no litoral de São Paulo, a vida do casal Daniela Yoko, de 26 anos, e Bruno Ramos, 23, mudou completamente. Neste dia, Bruno foi levar a namorada ao trabalho e, na volta, sofreu um acidente, ficando paraplégico e com problemas neurológicos. Desde então, Daniella se dedica completamente a cuidar do namorado.
“Nunca pensei em desistir porque eu o amo. Ele tem muita força para sobreviver e isso me faz acreditar”, diz. A história do casal começou em uma festa de rua no fim de 2016. Daniela conta que Bruno foi conversar com ela, e, desde então, eles se falaram todos os dias, começando a namorar em janeiro de 2017.
“Me apaixonei por ele desde a primeira vez que nos vimos. Na época do acidente completávamos oito meses juntos. Na hora que a mãe dele me ligou eu corri para o hospital e, ao chegar lá, a enfermeira me disse que ele teria 48 horas de vida. Eu preferi ter fé e pedir para Deus que o pior não acontecesse. Ele sobreviveu”, relembra a jovem.
Mesmo sobrevivendo Bruno ficou em coma por 14 dias e os médicos alertaram a namorada de que ele não voltaria a andar. “Quando acordou, ele parecia estar em estado vegetativo, não conseguia se comunicar. Devido ao traumatismo craniano ele teve sérios problemas”, relembra.
O neurocirurgião e especialista em neurotraumatologia João Luis Cabral, de 46 anos, explica que o politraumatismo, como o próprio nome sugere, ocasiona diversos traumas em diferentes partes do corpo, como crânio, coluna, tórax e abdômen. Segundo o médico, o Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) é muito complexo e varia em cada caso, de acordo com a gravidade.
“Algumas pessoas tem traumas leves, outras médios ou graves. Isso envolve compulsão cerebral, traumas de crânio, edema cerebral (inchaço), fraturas expostas e hematomas intracranianos”, relata. Geralmente, conforme explica o especialista, o traumatismo craniano traz sequelas, como por exemplo, a lesão axonal difusa, em que as funções cerebrais ficam desconectadas. “A parte cortical e a parte medular do cérebro perdem conexões. Isso que deixa o paciente com características mais lentas e limitadas a determinadas funções”, acrescenta.
Ainda segundo o especialista, o edema cerebral (inchaço) ocasiona a diminuição dos espaços cerebrais vitais, como por exemplo das veias e das artérias, que tem função muito importante para a mente humana. Ele também destaca que, independente da lesão do cérebro, a tetraplegia e a paraplegia estão ligadas a lesão medular.
Desafios
Bruno passou mais de cinco meses no hospital e Daniela esteve com ele todos os dias. “Ele começou um tratamento em que tomava uma medicação para ‘desinchar’ o cérebro e conseguiu aos poucos voltar a interagir com a gente”, explica ela.
Segundo conta a jovem, pouco tempo depois após a melhora, em um dos procedimentos médicos que o namorado fez, ocorreu um erro e ele teve uma perfuração no pulmão. “O Bruno pegou uma bactéria muito forte e quase morreu. Ele ficou 40 dias na UTI. Mas, ele conseguiu vencer mais essa. Queríamos levá-lo para casa, então montamos um quarto para ele com oxigênio, cama hospitalar e tudo que tivemos a condição financeira de colocar e que ele precisava. Ele estava tão mal que pesava 40 kg, com 1,80 de altura”.
O jovem também teve derrame no rosto por conta de convulsões que teve no hospital. Quando recebeu alta, Daniela optou por se mudar para a casa dele para ajudar a sogra com os cuidados. Segundo ela, foi aí que começaram os maiores desafios, já que o namorado precisava de ajuda para tudo e foi preciso correr atrás de fisioterapia, fonoaudiologia, e formas de estimular todos os dias o seu avanço.
Conquistas
Atualmente, Bruno já consegue assistir televisão e indicar quando quer uma coisa ou não. Daniela conta que ele adora assistir jogo de futebol e já consegue fazer pequenos movimentos nos braços a nas pernas.
Ela está fazendo uma ‘vaquinha’ para arrecadar dinheiro e comprar os equipamentos e materiais necessários para o tratamento de Bruno. “Essas coisas são muito caras, como fralda geriátrica por exemplo, então eu resolvi fazer essa arrecadação para tentar chegar um pouquinho mais próximo do nosso sonho, de oferecer todo suporte ao tratamento dele em casa”.
Segundo ela, Bruno vem se recuperando, ainda não fala, mas já consegue se comunicar visualmente. “Ele ainda não consegue ficar em pé sozinho. É um caminho longo, mas acho que ele faz parte do meu destino. Tenho fé e sei que tudo só depende de Deus. Acredito que ainda temos uma grande história pela frente”, finaliza Daniela.