Jovem do trio detido nu diz que nudez não foi para chocar: ‘Roupas são uma ilusão’

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Fotos do rapaz e duas mulheres pelados em posição de meditação na delegacia viralizaram nas redes sociais. 

Detido junto com duas mulheres por ato obsceno e resistência após serem flagrados nus diante de uma residência em Campinas (SP), Pedro Henrique Rodrigues Ferreira, de 28 anos, conversou com o G1 sobre o ocorrido, afirmou que participou de um ritual ayahuasca, que usa o chá do Santo Daime, e afirma que não tirou as roupas para chocar. Fotos do trio em posição de meditação viralizaram nas redes sociais.

“Aquela experiência foi uma experiência bem única. Nunca nessa vida eu tinha passado por um ritual de ayahuasca, num lugar com prática, que mantém a prática contínua”, diz.

Ferreira, que trabalha como autônomo, diz não seguir uma religião. No depoimento registrado no Termo Circunstanciado em 14 de julho, ele disse à Polícia Civil ser usuário do chá do Santo Daime, que possui efeitos alucinógenos e é empregado em rituais religiosos.

Para ele, a nudez deve ser tratada como algo natural e, no momento da abordagem policial, estavam “em contato com a natureza, com as energias solares que ali estavam”.

“A nudez é parte da coerência com as leis universais. Onde é uma parte da expressão do corpo, não é uma questão pessoal com nenhum chá, com nenhuma cultura. Todos os seres que estão em plena união com a natureza e com as leis universais eles expressam sua nudez. É assim que somos na verdade”, afirma.

Apesar de terem sido levados para a delegacia, o rapaz diz que “o foco de trabalhar com a nudez não é fazer um mero protesto, ou chocar as pessoas, ou quebrar tabu”.

“É natural que no primeiro momento haja um processo de reajuste. […] O foco de trabalhar com a nudez é estar em plena coerência em nossos corações. É um trabalho de trabalhar com a verdade. Porque as roupas são uma ilusão. A nudez é verdade. Nascemos nus”.

Segundo o boletim policial, a proprietária da residência relatou que o chá do Santo Daime foi servido durante uma reunião, que dois dos jovens detidos estavam no local e, quando o encontro terminou, se recusaram a deixar a casa. Já na frente da residência, a moradora relatou que jovens estavam nus, e a Polícia Militar foi chamada.

Para Ferreira, o ato de se despir é também uma metáfora para uma nudez “no sentido emocional e piscológico” para todos. “Quando a gente trabalha com a nudez, a gente expõe a nudez do outro. […]. Nós viemos de um histórico de que não nos aceitávamos, de que nos suprimíamos. Quando nos cobrimos, especialmente nos cobrimos com roupas que não têm serventia, não deixam o corpo solto para respirar”, fala.

Leis cósmicas

Além de Ferreira, uma das mulheres envolvidas na ocorrência, uma professora, segundo o registro policial, também é usuária do chá do Santo Daime. A outra jovem, engenheira mecânica, não teria tomado a bebida antes dos três serem detidos. Segundo a Polícia Civil, ela citou as leis cósmicas em depoimento.

“[Disse] que está aqui enquanto seres cósmicos, motivo único da harmonia das leis cósmicas com as leis planetárias”, diz o histórico do registro.

Questionado sobre a liberdade religiosa no dia 16 de julho, o delegado do 4º Distrito Policial, Alexandre Melfi, disse que a prática não pode se sobrepor ao direito de outras pessoas.

“Existe a religiosidade deles, mas isso tudo é feito em lugar fechado. A liberdade existe. O seu direito termina onde começa o direito do outro. Qualquer manifestação teria a mesma conduta”, explicou o delegado à época.

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