O jornalista Lucas Rodrigues estava apenas querendo curtir seu Carnaval e não esperava sofrer dois ataques homofóbicos no mesmo fim de semana.
O primeiro episódio aconteceu durante o desfile das escolas de samba campeãs no sambódromo do Anhembi. “Estava curtindo a festa até que, no meio da noite, conheci um cara e acabamos ficando juntos”, conta ao Yahoo.
Em determinado momento, os dois procuraram um lugar para descansar, até que veio a agressão. “Ficamos de mãos dadas e se beijando, como vários outros casais héteros no espaço. Do nada, ouvi um grito de ‘viados’ bem alto e um copo de cerveja sendo atirado na nossa direção. Até olhei ao redor para ver quem era o cara e tentar reagir, mas não consegui identificá-lo em meio a tanta gente. Fiquei com muita raiva durante aquele momento, mas logo passou, e não estragou a minha festa”, relembra.
Já o outro caso de homofobia foi na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo, e foi uma surpresa, já que o local é conhecido por ser um espaço de resistência frequentado por minorias que frequentemente se manifestam contra opressões. “É um lugar de uma galera politizada e do bem, onde travestis, artistas do teatro, skatistas, todos convivem numa boa. Porém, na noite em questão, sentei na mesa do bar com meus amigos, e estávamos com um leque nos abanando e curtindo a rua. De repente, passou um cara, olhou para gente e nos chamou de ‘viados’ com ar de raiva no rosto”.
Como havia passado por uma situação semelhante na noite anterior, Lucas ficou ainda mais indignado com a abordagem e resolveu reagir. “Fui atrás do cara e comecei a gritar e xingá-lo de homofóbico de modo que todos que estavam ao redor ouviram e pararam para ver a cena. Conforme eu gritava, o cara ia andando. Teve um momento que ele ainda parou, me encarou e gritou ‘viado’ de novo e revidei com outro grito de homofóbico e fui indo para frente atrás dele. Foram vários gritos”.
Um dos amigos de Lucas interveio e pediu para que o agressor se afastasse. “Sei que o problema era dele e não tinha porque guardar nenhum tipo de rancor ou raiva, mas a revolta e a indignação permanecem. Algumas pessoas vieram e disseram ‘fique bem’, ‘sinto muito’, mas não sinto essa sensação de pena, estava com muita raiva e disposto a reagir por saber que tinha razão”.
Mesmo tendo reagido ao ataque, Lucas reforça que é preciso prezar pela segurança e não aconselha outros LGBTQ a fazerem o mesmo. “Acredito que não devemos reagir a esse tipo de situação, pois não sabemos se o cara está armado ou do que ele é capaz. Temos que pensar primeiro na nossa integridade física. Se o cara é homofóbico e agressor, o problema é dele, com ele, nunca com a gente. Então, o melhor é ignorar. Por outro lado, a nossa revolta e indignação fazem com que a gente não controle nossas emoções. A vontade é de partir para cima e mostrar que somos mais fortes e valentes que esses seres”.
Ele cita as conquistas a favor dos LGBTQ atualmente, como o casamento igualitário, representação na TV aberta e discussão sobre diversidade no trabalho e escolas, mas que ainda sim os conservadores fazem de tudo para que isso seja derrubado.
“Sinto que as pessoas que são conservadoras e que não toleravam mais os avanços se voltaram contra a gente e se uniram, ganhando força na política e endossando comportamentos homofóbicos, machistas, racistas”.
“Creio que o melhor modo da gente se defender é continuar sendo quem nós somos, continuar defendendo e reivindicando nossos direitos, indo para as ruas. Nos posicionarmos e votarmos em candidatos que apoiem as causas da diversidade. Vamos ser mais gays do que nunca“.