Jovens denunciam pastora e filha por agressão e homofobia

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Mãe e filha negam e também registraram ocorrência na delegacia após receberem ameaças pelas redes sociais.

A Polícia Civil investiga um caso de lesão corporal contra sete jovens, alguns deles homossexuais, que denunciam terem sido agredidos com objetos, como cabo de ferro e um cinto, por uma pastora evangélica e a filha dela. A violência teria ocorrido em frente a uma igreja no Centro de Macapá. Para eles, o caso tem relação com homofobia. Mãe e filha negam e também registraram ocorrência na delegacia após receberem ameaças pelas redes sociais.

Jovens mostram marcas das supostas agressões — Foto: Facebook/Divulgação

Segundo o boletim de ocorrência dos jovens, cinco rapazes e duas moças, a situação aconteceu por volta das 4h de sábado (2), enquanto o grupo aguardava, embaixo do toldo na frente da igreja, um carro que levaria alguns deles para casa. Eles dizem ter se abrigado no local por conta da chuva.

Luan Moraes, de 25 anos, acredita que todos foram vítimas de homofobia. Ele relata que um homem, morador da casa ao lado da igreja, ordenou que eles saíssem de onde estavam.

Em seguida, segundo ele, a pastora e a filha saíram pela mesma porta com um cinto e uma fina barra de ferro, os agredindo e proferindo ofensas relacionadas à orientação sexual do grupo. No mesmo dia, um boletim de ocorrência (BO) foi registrado pelos jovens.

“Um senhor mandou na maior grosseria que saíssemos da porta da casa dele e quando estávamos levantando, duas mulheres vieram nos agredir nos chamande ‘veadinhos’, ‘vagabundos’ e várias outras coisas. Foi tudo muito rápido, só percebi que aquilo estava realmente acontecendo quando comecei a apanhar”, relatou o rapaz.

Pastora Eliana Duarte Oliveira e a filha, Emily Duarte, prestaram queixa após ameaças nas redes sociais — Foto: Ugor Feio/G1

Em postagens nas redes sociais, os jovens mostraram fotos das agressões, com hematomas no pescoço, costas, mãos e braços. O caso é investigado pela 6ª Delegacia de Polícia Civil.

A pastora, Eliana Duarte Oliveira, juntamente da filha, Emily Duarte, apontadas como autoras da agressão, negaram o fato. Eliana acredita que o apoio explícito em suas redes sociais a um candidato à presidência nas eleições de 2018 pode ter motivado as acusações.

“Fiz meu Facebook em setembro, por conta de apoio a campanha política do meu candidato, nem sei mexer direito. Eles entraram no meu ‘face’ e viram quem eu era. Acredito que seja uma questão ideológica. Eles criam uma situação, eu penso que foi isso”, contou a pastora.

Quanto ao relato da violência, a pastora diz que acordou na madrugada de sábado para ajudar o marido, também pastor da igreja evangélica, que ia viajar. Ela nega ter tido contato com os jovens.

“Eu não tive contato com eles, eu só sei que tinha duas meninas, ou pelo menos eu acho que sejam meninas, que eram as que estavam na porta e esses dois jovens que estavam se beijando, o resto eu não sei. Eu não desci, eu não toquei e eu não falei nada para eles”, disse.

Imagens do circuito de segurança em frente a igreja, onde a família de pastores teria avistado os jovens — Foto: Ugor Feio/G1

A pastora relatou ainda que teria se deparado com as imagens da câmera de segurança quando acordou para ajudar o marido e, segundo ela, a filmagem mostrava alguns jovens forçando a porta da igreja, o que a motivou a chamar a polícia por achar que eles precisavam de socorro.

Apesar de ter instalado o circuito de câmeras em casa, Eliana disse que o sistema de segurança não grava as imagens servindo apenas para exibição.

“Eles estavam forçando a porta da igreja e imaginei que precisavam de ajuda, que estaria acontecendo alguma coisa, que estavam fugindo, chamamos a polícia por isso. Quando eu olhei tinha um casal. Casal não, dois rapazes se beijando, um deitado em cima do outro, aí meu marido desceu. Quando eu olhei de novo não tinha mais ninguém, eles já estavam do outro lado da rua, fazendo palhaçada, se remexendo, falando um monte de coisa para ele. Acabei passando mal com toda a situação e nem desci de casa”, descreveu.

Ainda segundo Eliana, o caso repercutiu nas redes sociais e muitos fiéis deixaram de ir ao culto por medo de ameaças em comentários e postagens. Isso a motivou, em companhia da filha, a ir até a Delegacia Geral de Polícia Civil (DGPC) na terça-feira (5) para também formalizar denúncia contra o grupo.

“Muita gente ficou com medo de vir nos cultos, por que eles ameaçaram de fazer um ‘beijaço’, de fazer cocô aqui na frente, até mesmo de que iam comer ‘churrasco de crente’. Meu neto, de 13 anos, veio chorando me contar isso morrendo de medo das ameaças. Mas, mesmo assim, nós fizemos o culto e eu pedi para que ninguém se manifestasse e não fizesse nada contra os rapazes”, contou.

Postagem em rede social repercutiu o fato na cidade — Foto: Facebook/Reprodução

A pastora afirma ainda não fazer distinção alguma sobre a orientação sexual de ninguém. Ela alega ter no convívio da igreja, contato com a pluralidade e diversidade sexual em vários momentos.

“Eu trabalho com alguns jovens assim. Meninos que eram homossexuais, meninas que eram lésbicas e que hoje são casadas, porque se encontraram. Meu cabeleireiro é homossexual, meu costureiro é homossexual e tenho pessoas na minha casa que são. Eu me criei com gente assim. Homossexualismo nunca foi novidade. Nunca tive problema com ninguém”, finalizou a pastora.

Para a delegada responsável pelo caso, Lívia Pontes, é muito cedo para determinar as motivações, ou se de fato aconteceu alguma violência. Um inquérito policial foi aberto para apurar o caso e ouvir as partes envolvidas.

“As pessoas vão ser chamadas para serem ouvidas, tanto vítimas quanto a suposta agressora. Se ficar comprovado que de fato houve a agressão, se eles quiserem representar criminalmente contra ela, vai ser lavrado um termo circunstanciado de ocorrência. Por hora, não temos como dizer que é um crime relacionado à homofobia até tudo ser apurado”, explicou Lívia.

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