Desde janeiro o teto para os juros dessa modalidade de crédito é de 8% ao mês, ou cerca de 150% ao ano. Porém, juro médio recuou no mês passado, para 8,5% ao mês, ou 165,6% ao ano
Os juros bancários cobrados no cheque especial de pessoas físicas recuaram em janeiro deste ano, primeiro mês do teto estabelecido pelo Banco Central para essa modalidade de crédito.
De acordo com o BC, a taxa média de juros nas operações com cheque especial caiu de 247,6% ao ano (10,9% ao mês), em dezembro de 2019, para 165,6% ao ano em janeiro (8,5% ao ano) em janeiro de 2020.
O limite fixado pela instituição foi de 8% ao mês, o equivalente a cerca de 150% ao ano. O teto começou a valer no dia 6 de janeiro.
Os juros são cobrados quando o cliente acessa seu limite de crédito, pré-aprovado pelas instituições financeiras.
Ao divulgar os números nesta quinta-feira (27), o BC faz a ressalva de que o resultado da taxa média de juros do cheque especial ainda é uma estimativa e que, após receber mais informações das Instituições Financeiras (IFs) o dado será revisto:
“Devido à necessidade de apuração, por parte das IFs, da parcela de clientes que efetivamente pagou juros e da parcela isenta, essa informação é encaminhada ao BCB até o dia 5 do segundo mês subsequente ao de referência. Portanto, a taxa média de juros do cheque especial, na primeira publicação, será estimada, sendo substituída pela informação encaminhada pelas IFs no mês seguinte.”
O Banco Central deve comentar o assunto a partir das 11h, em entrevista coletiva.
Pelas regras definidas pela instituição, os bancos já podem cobrar tarifa para disponibilizar esse crédito, no valor acima de R$ 500, mas as maiores instituições financeiras do país informaram que não levarão adiante essa cobrança.
Essas alterações foram definidas em novembro do ano passado pelo Banco Central. Até então, não havia um limite para a taxa do cheque especial – uma das modalidades de crédito mais caras do país e utilizadas sobretudo pela população de menor renda –, e os bancos só eram remunerados quando os clientes de fato faziam uso da modalidade.
Apesar da queda, o cheque especial ainda é uma linha cara, quando comparada com os juros médios para pessoas físicas. Ela é classificada como “emergencial” e, segundo analistas, deve ser utilizada, somente se for realmente necessário, por um período curto de tempo.
Cartão de crédito rotativo
Ao mesmo tempo em que recuaram as taxas médias do cheque especial, os valores cobrados pelos bancos no cartão de crédito rotativo aumentaram no primeiro mês deste ano.
Segundo o Banco Central, a taxa média passou de 180,5% ao ano, em dezembro, para 219,1% ao ano em janeiro deste ano.
No mês passado, a instituição informou que mudou a forma como calcula os juros bancários nas operações com cartão de crédito rotativo.
Os valores passaram a considerar o fato de alguns bancos cobrarem juro no cheque especial apenas após dez dias de atraso no pagamento da fatura. Com isso, os juros, que antes ficavam acima de 300% ao ano, recuaram. Toda a série histórica do BC foi revisada.
O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado por quem não pode pagar o valor total da sua fatura na data do vencimento, mas não quer ficar inadimplente.
Para usar o crédito rotativo, o consumidor paga qualquer valor entre o mínimo e total da fatura. O restante é automaticamente financiado e lançado no mês seguinte, com juros.
Juros bancários médios
De acordo com o BC, houve aumento nos juros médios das instituições com recursos livres (sem contar BNDES, crédito rural e imobiliário) de dezembro para janeiro.
a taxa média total (pessoa física e jurídica) passou de 33,4% ao ano, em dezembro, para 33,7% ao ano em janeiro.
os juros nas operações com pessoas físicas passaram de 46% ao ano, em dezembro, para 45,6% ao ano, em janeiro deste ano.
a taxa média cobrada das empresas subiu de 16,3% ao ano, em dezembro do ano passado, para 17,6% ao ano, no primeiro mês de 2020.
Spread bancário
O chamado spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e o que cobram de seus clientes) registrou alta de dezembro (27,9 pontos percentuais) para 28,3 pontos percentuais, em janeiro.
Com isso, o spread bancário segue em patamar elevado para padrões internacionais.
Nas operações com pessoas físicas, porém, houve pequena queda de 40,2 pontos para 40 pontos de dezembro para janeiro deste ano.
O spread é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.
Juros bancários elevados
Juros bancários elevados inibem o consumo e também os investimentos na economia brasileira. Esse é um dos problemas, segundo economistas, a serem enfrentados pela gestão do presidente Jair Bolsonaro.
Dados do BC mostram que os cinco maiores conglomerados bancários do país tinham, no fim de 2018, 84,8% do mercado de crédito. Esse cálculo inclui os bancos comerciais, os múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas.
No ano passado, a rentabilidade dos bancos brasileiros ficou no maior nível em sete anos e o lucro líquido dos bancos somou R$ 98,5 bilhões, recorde da série histórica que começa em 1994.
O Banco Central aposta no cadastro positivo, no chamado “open banking”, no aumento da oferta de crédito bancário com garantias, e na maior concorrência (com o aumento das “fintechs”), entre outras medidas, para baixar o custo do crédito bancário nos próximos meses.