Dom Vilson Dias de Oliveira é acusado de coação e extorsão, além de acobertar crimes de assédio que teriam sido cometidos pelo padre Pedro Leandro Ricardo, de Americana. Apuração contra o padre também foi prorrogada.
Por G1 Piracicaba e Região
A Justiça permitiu a prorrogação por 60 dias do inquérito da Delegacia Seccional de Limeira (SP) que apura suposta apropriação indébita pelo bispo dom Vilson Dias de Oliveira, da Diocese do município. Dom Vilson é suspeito de coação e extorsão,além de acobertar crimes de assédio que teriam sido cometidos pelo padre de Americana (SP) Pedro Leandro Ricardo.
A prorrogação do inquérito, que foi instaurado em 31 de janeiro, foi determinada na quinta-feira (7). Com isso, a expectativa é que os depoimentos comecem nos próximos dias. A oitiva de dom Vilson é a última a ser agendada.
Segundo o delegado seccional de Limeira, Antônio Luiz Tuckumantel, a dilação do prazo é de praxe e ocorre sempre que o inquérito supera 30 dias, já que a Justiça precisa permitir que a apuração continue.
Sobre o teor da investigação e o que já foi feito, Tuckumantel informou que corre em segredo de Justiça e que não pode comentar.
O advogado de Dom Vilson, Virgílio Ribeiro, informou que o religioso não vai se manifestar nessa fase da apuração, pois ela corre em segredo, e que reitera a nota enviada pela Diocese de Limeira em fevereiro.
Nela, dom Vilson diz que as denúncias “são apontamentos que não condizem com a verdade e que todas as questões já estão sendo esclarecidas”.
Já o advogado Paulo Sarmento, que faz a defesa do padre Pedro Leandro, disse que não pode comentar as investigações. O padre está afastado desde 27 de janeiro e um inquérito contra ele, instaurado na Seccional de Americana, também foi prorrogado pela Justiça.
Apuração da igreja
Além da investigação na esfera criminal, dom Vilson é alvo de apuração da própria Igreja Católica. Em fevereiro, o Vaticano enviou um representante para investigar as denúncias contra o religioso.
O enviado foi o bispo de Lorena (SP), dom João Inácio Muller, que colheu depoimentos do bispo de Limeira e de padres. Ele encerrou a apuração em 22 de fevereiro.
Após deixar Limeira, dom João Inácio Muller deve emitir um relatório para a Nunciatura Apostólica do Brasil, que remete à Congregação dos Bispos.
Segundo a Diocese de Limeira, não há, até esta sexta-feira (8), nenhuma manifestação oficial do Vaticano sobre o caso. Dom Vilson segue como bispo na diocese.
Sobre a investigação da Polícia Civil, a Diocese de Limeira informou que não tem conhecimento de que membros já tenham sido ouvidos.
Coação e extorsão
Dom Vilson é acusado de extorsão e coação de padres de paróquias da região que respondem à Diocese de Limeira. O caso foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo em 29 de janeiro.
Em um dos depoimentos, um antigo padre da basílica disse que o bispo teria pedido R$ 50 mil para comprar armários para sua casa em Guaíra (SP), em 2012. O padre não teria atendido ao pedido e foi substituído depois de alguns meses.
Investigação por abusos sexuais
No final de janeiro, o padre Pedro Leandro Ricardo foi suspenso pela Diocese de Limeira das funções de reitor e pároco da Basílica Santo Antônio de Pádua, em Americana, durante as investigações policiais que apuram denúncias de abuso sexual contra menores.
A Polícia Civil investiga os casos com três inquéritos. Além dos instaurados em Limeira e Americana, há outro na delegacia de Araras (SP). Todas as investigações correm em segredo de Justiça.
Segundo Thalita Camargo da Fonseca, uma das advogadas que representa as vítimas do padre, há pelo menos quatro denúncias na cidade de Araras e outros casos em investigação. Ela relata que o religioso agia sempre da mesma forma e tinha o costume de oferecer presentes em troca do silêncio das vítimas.
Um ex-coroinha contou que sofreu abusos do padre Pedro Leandro Ricardo em 2002, na cidade de Araras, e até hoje faz tratamento por causa do trauma psicológico. Segundo ele, o padre passava a mão em seu corpo e fez sexo oral com ele.
“Ele deslizou a mão como se tivesse mudando o câmbio da marcha do carro. Ele deslizava a mão assim na perna. E, na volta, já deu uma escorregada maior, já meio que apalpou mesmo o meu órgão genital”.