Para ter acesso, criminosos arrombaram várias portas e janelas da Casa Paroquial.
Uma parte importante da memória e da história da Usina Tamoio pode ter sido perdida. Agora pertence a ladrões que, ao que tudo indica, sabem exatamente que carregam consigo documentos históricos de um dos principais patrimônios de Araraquara.
Um boletim de ocorrência registrado nesta quarta-feira (21) relata que durante a madrugada pessoas desconhecidas entraram na Usina Raízen e arrombaram um portão que dá acesso à antiga colônia e ao pátio da Igreja. Lá arrombaram duas portas e uma janela para entrar na Casa Paroquial. Dentro do imóvel, ainda arrombaram duas portas para chegar até os vários documentos da Usina.
De acordo com o relatado por uma representante da sucroalcooleira, esses documentos não têm valor financeiro, mas possuem muito valor histórico referente à antiga Usina Tamoio. Havia dentro do prédio outros objetos, mas não foram levados. Os criminosos optaram mesmo por levar os documentos.
No boletim de ocorrência não há a informação se havia um segurança no local. A Polícia Civil deve investigar o caso.
Patrimônio histórico
A Usina Tamoio foi a primeira de Araraquara. Com a queda da produção de café, por volta de 1910, a usina de cana-de-açúcar foi fundada por Pedro Morganti. Durante muito tempo a empresa foi a maior e mais importante da cidade e em torno da indústria se criaram várias vilas de trabalhadores. Chegou a abrigar 10 mil trabalhadores, moradores de suas colônias, e a ter quase 1.500 casas. Depois disso, a empresa passou por vários donos, até foi comprada pela Raízen.
Tem havido um movimento entre historiadores e representantes da sociedade para que a Igreja da Usina Tamoio e mais cinco pontos antigos do espaço que chegou a bater recorde continental de produção de açúcar e foi considerada a maior indústria sucroalcooleira do País e da América do Sul sejam tombados como patrimônio histórico. O município de Araraquara lista o local como patrimônio, mas ainda não há um tombamento definitivo.
Dentre os locais com pedidos para serem tombados na propriedade estão a Igreja incluindo seus arredores, a praça e o obelisco, a chaminé principal da Usina Tamoio e a escultura em sua base.
De acordo com o historiador Rogério Tampellini, um dos que defendem a preservação do local, a culpa dessa situação é tanto do poder público, que não faz efetivamente o tombamento nem a empresa que também não cuida.
“O processo de tombamento há alguns anos está sendo arrastado pelo conselho de preservação e não temos ainda uma definição sobre isso. Então infelizmente o poder público municipal tem se mostrado insuficiente para a preservação do patrimônio histórico da cidade. Em relação à responsabilidade é da usina, por ser uma propriedade particular. Mas a omissão do poder público em definir o que vai acontecer com o patrimônio histórico da Usina Tamoio contribui para que casos como esse aconteçam”, comentou Tampelini.
Usina parada
A Raízen decidiu fechar a Usina Tamoio em novembro e demitir cerca de 250 trabalhadores do setor industrial. Em nota, a empresa disse que decidiu suspender as atividades industriais por um período inicialmente previsto de 2 anos.
Há um processo judicial impetrado pelo Ministério Público do Trabalho por causa da demissão em massa. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) ordenou que a empresa recontratasse os funcionários até a conclusão do acordo com o sindicato da categoria.
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