Caso ocorreu em São Paulo (SP), mas criminoso fugiu e se entregou à Polícia Civil em Santos (SP). Ele confessou o crime e usou como justificativa uma traição. Mãe da vítima contradiz versão do genro.
“Parem de matar nossas filhas. A Sabrina não merecia isso, nenhuma mulher merece. Os homens têm que entender que não são donos das mulheres”. O desabafo é da auxiliar de limpeza Eliane Rodrigues da Silva, de 42 anos. A filha dela, Sabrina Wanessa da Silva Lima, de 19, foi morta estrangulada pelo esposo, de 20. Ele se entregou à Polícia Civil e confessou o crime.
O rapaz, que é ajudante de pedreiro, matou a companheira em Parelheiros, distrito localizado na Zona Sul do município de São Paulo, onde moravam. Ele fugiu para a Baixada Santista após ser expulso da comunidade, e decidiu se entregar à polícia.
Segundo as autoridades, o criminoso confessou para policiais da Delegacia de Investigações Gerais (Deic) de Santos que, no dia 4 de novembro, por volta das 20h30, matou a companheira estrangulada. Ele alegou que cometeu o crime porque foi traído.
Porém, assim como em depoimento à policia, a mãe da vítima desmentiu a versão do genro nesta sexta-feira (13). “Ele mentiu, porque, um dia antes, minha filha me ligou por chamada de vídeo e disse que estava arrumando as coisas para vir embora, porque ele roubava dinheiro dela, e ela não aguentava mais. Para mim, ele fez isso porque não aceitou a separação”, afirma.
A auxiliar de limpeza relata que Sabrina era sua filha caçula, e que faziam tudo juntas. “Éramos muito próximas”, conta. De acordo com ela, o genro nunca havia demonstrado ser violento. “Nunca imaginei que ele faria isso. Gostava muito dele, tratava como filho. Ele dizia que a amava muito, e que não deixaria faltar nada para ela. Tanto que, no começo, foi difícil acreditar que ele foi capaz de fazer isso” acrescenta.
Após matar Sabrina, o rapaz disse à família que ela desapareceu, e que fazia buscas pela jovem. Eliane conta que, no dia do crime, o genro chegou a mandar mensagem para ela em uma rede social, perguntando se Sabrina estava com ela, porque havia saído de casa sem o cachorro, o que normalmente não fazia, pois sempre o levava para passear.
“Ele já tinha matado ela e mandou essa mensagem perguntando da minha filha para mim. Mentiu na cara dura, foi dissimulado, como se minha filha tivesse desaparecido. Eu procurando ela por dias, preocupada, desesperada, e ele dissimulado, dizendo que também fazia buscas. Emprestei meu bilhete e dei R$ 20 ainda, para ele procurar por ela”, lamenta a mãe.
“Ele tirou um pedaço de mim, acabou com a minha vida. Porque você pode perder pessoas, mas nada dói mais do que perder um filho. É uma dor inexplicável, que não para nunca. Sabrina era uma menina alegre, gentil, todo mundo gostava dela. Agora, todo dia que dá o horário que ela vinha aqui, dá aquele aperto, aquela dor. É muito dolorido saber que não vou mais ver aquele sorriso” .
Foi apenas após a família saber que o genro foi visto carregando algo suspeito para uma área de mata, próxima à casa dele, que ela suspeitou que algo poderia ter acontecido com Sabrina. O padrasto da jovem se uniu, então, a pessoas da comunidade e buscou por ela, encontrando-a já morta, enrolada em cobertores, com um fio amarrado ao pescoço. “Naquela hora, o corpo já estava em decomposição, não me deixaram ver. Era como se eu não sentisse mais o chão, eu desabei”, conta Eliane.
O corpo de Sabrina ainda está no Instituto Médico Legal (IML), e a família aguarda a liberação para se despedir da jovem. “Quero vestir minha filha pela última vez, me despedir e dar um enterro digno”, desabafa a mãe.
Agora, a auxiliar de limpeza afirma que ela e a família esperam por justiça. “Até quando mães vão perder suas filhas? Filhas vão perder mães? Avós vão perder netas? A morte de mulheres está virando rotina, isso tem que acabar”, finaliza.
Relembre o caso
O ajudante de pedreiro de 20 anos se entregou à Polícia Civil em Santos na última segunda-feira (9). Ele fugiu para o litoral ao ser expulso da comunidade. Ele justificou o crime alegando que estrangulou a companheira ao descobrir uma traição.
À polícia, ele disse que flagrou a traição, mas que a jovem inicialmente negou. Após diversas brigas do casal, ela teria confessado. Segundo o rapaz, ela debochou dele, o chamando de “corno” e “otário”. Depois disso, ele deu um ‘mata-leão’ em Sabrina e, em seguida, amarrou um fio de extensão e uma blusa ao pescoço dela, para acelerar a morte. Ele alegou que estava “tomado pela raiva”, mas que se arrependeu depois.
O rapaz ainda disse à polícia que um amigo, para quem relatou o crime, avisou o que ocorreu para traficantes da região. Ele teve que se apresentar a eles, e alega ter levado uma surra com as costas de uma faca.
A mãe da vítima afirmou às autoridades que a filha tinha dito que queria ir embora da casa, mas o rapaz não deixava. Sabrina ainda teria relatado à mãe que o suspeito vinha pegando dinheiro dela, e que ela não aguentava mais. A versão foi confirmada pela sogra da jovem, mãe do suspeito.
O padrasto achou o corpo no domingo (8), em uma área de mata na Rua Frei Eustáquio. O rapaz ainda chegou a se passar pela vítima durante uma conversa por aplicativo de mensagens com a tia dela, horas depois do crime, para pedir dinheiro.
O caso foi registrado como homicídio qualificado no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo no dia 8, data em que o corpo da vítima foi encontrado, e o suspeito foi encaminhado para a Capital.