‘Mais forte’ e ‘corajosa’ vítima de tentativa de feminicídio incentiva mulheres a denunciarem agressores

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Shirley Cristiane Ribeiro da Silva Ferreira, de 45 anos, foi vítima do ex-noivo em 1998, em Santos, no litoral de São Paulo. Ele se matou em seguida.

A personal organizer Shirley Cristiane Ribeiro da Silva Ferreira, de 45 anos, transformou a dor em fortaleza, o trauma de uma tentativa de feminicídio, em combustível para encorajar outras mulheres a denunciarem seus agressores. Ela foi vítima do ex-noivo que, em 1998, em Santos, no litoral de São Paulo, atirou duas vezes contra ela e se matou.

Passados 24 anos o crime, Shirley se define como uma mulher resiliente. Ela inclusive tatuou a palavra ‘resiliência’ no ombro esquerdo. “Isso é muito importante porque não usei em nenhum momento esse fato [tentativa de feminicídio] como muleta para chegar onde cheguei. Pelo contrário, fui me adaptando ao que a vida foi me dando. Acho que ser resiliente é a principal forma da gente resolver problemas”.

la lembra que o crime aconteceu durante o expediente de trabalho. O ex-noivo pediu para reatar o relacionamento e ela negou. Antes de disparar, ainda perguntou se ela tinha certeza da decisão.

“Falei que tinha certeza que não queria voltar. Ele sacou a arma da cintura e deu dois tiros, um próximo ao meu coração e outro no braço. Em seguida, ele deu um tiro nele no peito e outro abaixo do queixo. Infelizmente perdeu a vida logo ali na minha frente, vi tudo, fiquei acordada até o início da cirurgia”.

“Lidei com isso a vida toda como um fato que aconteceu e passou. S eu ficasse amargurando aquilo, poderia me inflamar, me tornar uma pessoa da qual não gostaria de ser, com medos e indignações”, explicou.

Shirley acredita que ter passado por tal situação a tornou uma pessoa “mais forte e corajosa”.

Fé e resiliência

A personal organizer lembrou ter pedido a Deus para continuar viva, pois queria dar condições melhores aos pais, que trabalhavam como marceneiro e diarista. As preces foram atendidas e, depois de 11 dias internada, pôde voltar à rotina, inclusive à faculdade de Administração.

“Falei que nada mais iria me parar e não me parou mesmo, pelo contrário, todas as oportunidades que foram aparecendo eu fui agarrando. Me formei, fiz pós-graduação, casei, tive a Ana Luísa, tenho uma filha só, consegui fazer processos internos dentro da empresa, fui trabalhar em São Paulo”, contou orgulhosa.

Para Shirley, o segredo foi não ter medo e limites . “Quando a gente quer algo, a gente não põe barreiras, pelo contrário, a gente não usa muletas, vai e segue. Meu propósito na época era ser coordenadora administrativa e para isso precisaria continuar meus estudos, continuar a pessoa que sou e foi isso que fiz”.

Sinais

Shirley contou ter notado a mudança do comportamento do ex-noivo quando começou o curso de Administração. Segundo ela, antes de começar a estudar ele não apresentava comportamento abusivo.

“Trabalhava 8h por dia, ia para a faculdade e, aos finais de semana, tinha que ficar em casa fazendo trabalhos ou me encontrar com meus amigos para fazê-los, algo que para ele já estava ficando inadmissível”, disse ela, que lembrou o fato de o homem também estar desempregado.

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