Idoso de 78 anos de Espírito Santo do Pinhal (SP) morreu 12 horas depois das ligações, em janeiro. Advogado de médica diz que o protocolo previsto foi seguido e irá recorrer da decisão.
Por G1 São Carlos e Araraquara
Uma médica e dois atendentes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de São João da Boa Vista (SP) foram demitidos por justa causa, na segunda-feira (21), por omissão de socorro a um aposentado de 78 anos.
A profissional de saúde negou o envio de uma ambulância a um paciente entre a noite do dia 7 de janeiro e a madrugada do dia 8, em Espírito Santo do Pinhal (SP), e disse que “Samu não é táxi”. O aposentado Geraldo Vicente morreu 12 horas depois da solicitação.
O advogado da médica, Elias Curvelo, informou que irá recorrer à decisão e que todos os protocolos do Samu foram seguidos. Os atendentes não foram localizados para comentar o caso.
Áudio do atendimento
Em áudio particular gravado pelo vizinho, o homem pergunta sobre o serviço mais de uma vez e a mulher explica que já havia conversado com a esposa do paciente e a responsabilidade era do município. (Veja abaixo a íntegra do atendimento).
Vizinho: Doutora Vera, é o seguinte. Foi solicitado uma ambulância para dirigir o ‘seu’ Geraldo ao hospital, que ele não ‘tá’ passando bem.
Médica: O que você é dele?
Vizinho: Na verdade, é o seguinte. Mora ele e a esposa, são um casal de idosos e ele não tem ninguém…
Médica: O que você é dele?
Vizinho: Eu sou vizinho dele, só que quem…
Médica: Eu já conversei com a esposa, tá bom? Quando o vizinho liga a gente pede para chamar o familiar.
Vizinho: Não, sim… Só que é o seguinte, ele ‘tá’ passando mal.
Médica: Você pode levar por conta própria. Você tem carro? Você pode levar.
Vizinho: Eu tenho carro, só que se eu tivesse o carro e eu ‘tivesse’ lá perto dele eu já tinha levado né doutora, não ‘tava’ solicitando vocês.
Médica: É que o caso dele eu já conversei com a esposa que é responsável por ele. Eu não posso falar com você.
Vizinho: A senhora vai negar o transporte? É só isso que eu quero saber.
Médica: Não, mas o Samu não é transporte, Samu não é táxi. Eu vou te explicar o que aconteceu com ele: a esposa dele deu café preto com queijo, aí ele pegou e vomitou três vezes. Nem diarreia ele está. Não é caso para ambulância do Samu.
Vizinho: Ah, então ‘tá’ bom.
Médica: Ele precisa de um médico? Precisa, mas é pela ambulância do município.
Vizinho: A senhora não vai mandar a ambulância do Samu, é isso que eu quero saber, doutora. É só isso.
Médica: Você não quer entender para que serve o serviço do Samu, obrigada e boa noite.
Comissão analisou a gravação
Segundo o presidente do Consórcio de Desenvolvimento da Região de São João da Boa Vista (Conderg), Amarildo Duzi Moraes, a decisão foi tomada a partir da análise das gravações completas das ligações e de depoimentos de servidores relacionados ao Samu. O Samu Regional de São João atende 10 cidades.
O processo administrativo para que a comissão avaliasse a conduta da médica e dos atendentes foi instaurado no dia seguinte ao ocorrido.
“Ouvindo essas pessoas, ouvindo as gravações, esse conjunto de provas, a comissão de forma unânime propôs a demissão por justa causa por descumprimento no protocolo do Samu no atendimento. E a superintendência acatou integralmente o que eles propuseram, conforme previsto na legislação”, disse.