Medicamento criado na Unicamp tem eficácia no combate ao câncer de bexiga em casos graves

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Estudo clínico envolveu 44 pacientes que passaram por tratamentos convencionais e tinham recomendação de retirada da bexiga; após dois anos, nenhum precisou passar por cirurgia e para 34 deles o tumor não voltou.

Um medicamento desenvolvido na Unicamp apresentou resultados positivos no combate ao câncer de bexiga em pacientes graves, que já tinham realizado tratamentos convencionais e possuíam indicação para retirada do órgão. Após dois anos de ensaio clínico, em 77,3% dos casos o tumor foi eliminado, enquanto nos demais, o câncer voltou com menor intensidade. Os resultados foram apresentados no Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica.

O remédio obteve resultados melhores que o das técnicas atuais, como a raspagem do tumor e aplicação da vacina BCG. A terapia existe desde 1976, mas em pelo menos 50% dos casos há reincidência da doença e muitos pacientes não conseguem completar o tratamento por conta dos efeitos colaterais.

“Muitos desses pacientes não tinham condições clínicas para retirar a bexiga, muitos têm comorbidades que impedem de fazer esse procedimento, além de pacientes que não querem se submeter ao tratamento. Foi nessa perspectiva, nesses critério, que aplicamos o medicamento”, explica Wagner José Fávaro, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e um dos inventores do OncoTherad.

câncer de bexiga é mais comum em pacientes com mais de 50 anos (90% dos casos), e em 70% das ocorrências a causa está ligada ao tabagismo.

No ensaio clínico realizado no Hospital Municipal de Paulínia, sob o comando do médico urologista João Carlos Cardoso Alonso, nenhum dos 44 participantes (30 homens e 14 mulheres) morreu ou precisou retirar a bexiga após quase três anos do início das aplicações.

Segundo o médico, os resultados do ensaio clínico abrem caminho para um melhor tratamento e qualidade de vida desses pacientes. Isso porque, ele explica, quando há indicação para retirada da bexiga, o procedimento costuma ter alto índice de mortalidade, e a instalação de uma bolsa coletora, assim como ocorre em casos de colostomia, também mexe com a saúde mental dos pacientes.

Como funciona

O medicamento desenvolvido na Unicamp é um nanofármaco semissintético que funciona como uma imunoterapia, estimula a produção de proteínas de células de defesa do organismo e destrói os tumores.

A administração do OncoTherad nos pacientes ocorreu em diferentes etapas, sendo que nos primeiros três meses ocorrem em intervalos menores, com aplicações semanais dentro da bexiga e também por via intramuscular – o que não é possível no tratamento em vigor.

Nos seis meses seguintes, após o sistema imune ser estimulado, as aplicações passam a ocorrer de 15 em 15 dias. Na reta final, a administração foi mensal, sendo que todos realizam exames a cada três meses para monitorar a evolução da doença.

Durante o teste foram observados alguns efeitos colaterais, como cistite (inflamação na bexiga), ardência ao urinar e dores nas articulações, entre outros, mas em nenhum caso o tratamento precisou ser interrompido. “Foi uma grande diferença para o tratamento padrão”, pontua Alonso.

“Os pacientes continuam sendo assistidos. Alguns chegaram ao terceiro ano sem retorno do tumor e estão recebendo alta, mas iremos acompanhá-los”, completa o urologista.

Patente nos EUA

O medicamento 100% nacional, desenvolvido pelos professores Wagner José Fávaro e Nelson Duran, do Instituto de Biologia da Unicamp, obteve patente nos Estados Unidos e os inventores já fizeram o depósito na agência europeia.

O OncoTherad é fruto de um trabalho de mais de 13 anos, mas ainda depende de interesse da indústria farmacêutica e pesquisas mais avançadas, em diferentes centros e que atendam critérios das agências regulatórias para chegar ao mercado.

“Um dos gargalos são os testes clínicos em diversos centros, não só no Brasil. Esse é um processo custoso, e a universidade, além de não ter esse investimento, não tem expertise em fazer. Por isso precisamos de interlocutores, de grandes companhias que tenham o know how, e ter a patente depositada mostra a importância do projeto. Porque uma coisa é fazer pesquisa clínica, outra que atenda as exigências do regulador”, destaca Fávaro.

Segundo o pesquisador, tais etapas são fundamentais para garantir a segurança da aplicação de qualquer fármaco na população. “A Anvisa é altamente criteriosa e está correta em seguir todos os passos. É uma das mais criteriosas do mundo”, pontua o professor da Unicamp.

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