Em muitas casas, os estudantes não têm acesso a um computador ou a um celular com internet no horário das aulas. É o que acontece na residência de Valmira Aragão: mãe de três filhos, um deles com deficiência intelectual, ela só possui um celular em casa.
Para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, mais de 776,7 milhões de crianças e jovens no mundo estão fora das escolas.
Como uma alternativa para que essas crianças e jovens não percam todo o ano escolar, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) recomendou que as aulas sejam feitas à distância, através da internet, do rádio ou da televisão.
No entanto, a falta de acesso a essas ferramentas pode aumentar ainda mais a desigualdade educacional: menos da metade dos 3,5 milhões de estudantes da rede estadual paulista (47%) estão acessando o ensino online lançado pelo Governo de São Paulo.
“A pandemia vai aprofundar ainda mais a desigualdade. O que pode acontecer é que as famílias que estavam na miséria vão ficar ainda mais vulneráveis. O Governo Federal ainda não disponibilizou recursos para as pessoas de baixa renda, pequenas empresas e autônomos”, diz Eliseu Gabriel, formado em Física pela Universidade de São Paulo (USP) e vereador pelo quinto mandato na Cidade de São Paulo.
Eliseu afirma que é necessário dar ainda mais auxílio para as populações em situação de vulnerabilidade social e seguir o exemplo de países como Estados Unidos e França. O vereador também alerta que o Governo Federal não está cumprindo com o seu papel durante a pandemia e por isso a Prefeitura de São Paulo deve tomar as devidas providências para conter os impactos econômicos e sociais da pandemia.
“O risco é que muitas crianças não voltem mais para a escola e a gente pode ter um retrocesso na universalização da educação. A escola precisa ter uma estratégia e promover uma ajuda emocional para os professores e para as famílias. Além disso, a Prefeitura precisa dar recursos em alimentação e dinheiro para essas famílias”, completa Gabriel.
A REALIDADE DE UMA FAMÍLIA CARENTE DA ZONA LESTE
Valmira Aragão, de 40 anos, trabalha como manicure e depiladora. Mãe solo de três filhos, com idades de 7, 8 e 9 anos, ela se encontra em uma situação de desespero desde que a pandemia começou.
Sem computador em casa, ela precisa dividir o único celular entre os três filhos, sendo que um deles possui deficiência intelectual. No início do isolamento social, ela chegou a pedir doações de livros e fazia recortes para que os filhos não deixassem de aprender em casa.
No entanto, sem emprego fixo e com as crianças em casa, ela ficou ainda mais sobrecarregada. “Eu sou muito exigente com a educação dos meus filhos, mas agora está tudo fora do lugar. Tentei passar os meus conhecimentos para eles, mas isso não depende só de mim. Está tudo parado”, conta. Essa também é a realidade de outros pais que estudam com os seus filhos.
Pouco antes da pandemia começar, ela havia se mudado para São Mateus, distrito localizado na zona leste do município de São Paulo, com o sonho de reconstruir a sua vida, mas seus planos mudaram completamente. Ela não conseguiu receber o auxílio emergencial do Governo e está passando por um dos momentos mais difíceis de toda a sua vida.
“Eu tenho pensão pós-morte, então, por conta do INSS, não tenho direito ao auxílio emergencial. Eu quero educação para os meus filhos e todos estão estressados. Como vou comprar um computador sendo que eu pago aluguel e sou baixa renda?”, diz Valmira em prantos. A angústia é constante, e a mãe conta que o sentimento é de fracasso e impotência.
“O meu futuro são as minhas crianças e acredito que o nosso governo com tanto dinheiro poderia sim nos ajudar. Eu acho que o Brasil está largado: quanto menos gente estudada, mais gente votando errado. O que interessa para eles [os políticos] são os nossos votos, não a nossa vida”, completa.