Mulher é presa em flagrante acusada de chamar negra de ‘macaca mal educada’ em Shopping

PUBLICIDADE

Ao ser conduzida à cabine da PM, a acusada atacou o segurança: ‘Tá com raiva porque tu é negro?’.

Uma mulher foi presa em flagrante na noite desta quinta-feira em frente ao NorteShopping, no Cachambi, na Zona Norte do Rio de Janeiro, por racismo. Luciene Braga, de 33 anos, chamou uma mulher negra de “macaca mal educada” enquanto a vítima esperava uma amiga na porta do estabelecimento e falava ao telefone. Após ver a reação das testemunhas, a agressora fugiu para dentro o shopping e se escondeu no banheiro.

Ao sair, foi conduzida pelos seguranças até a cabine de polícia que fica em frente ao estabelecimento e atacou um deles: “Tá com raiva porque tu é negro?”. Em seguida, ameaçou os seguranças e as testemunhas, dizendo que eles “pagariam por tudo que estão fazendo” e que “não adianta armar cilada”.

Uma das testemunhas, a estudante de direito Nathália Hybner, de 21 anos, filmou toda a ação a partir desse momento. Ela publicou parte do vídeo em seu perfil no Twitter, onde um internauta acusou Luciene de ter cometido o mesmo ato contra um ambulante no ano passado, em Caxias.

“Eu fui ao shopping para trocar uma roupa e estava saindo. A vítima estava ali na porta, falando ao telefone e falou um pouco mais alto, tipo, ‘ai, caraca’. A agressora passou, olhou para a cara dela e falou ‘que que é? Tá gritando comigo por quê?’. Ela respondeu: ‘Não estou gritando com você, senhora, tô falando aqui ao telefone, desculpa”, e se virou. Nisso, a agressora gritou: ‘Você tá maluca? Sua macaca mal educada, macaca, macaca sim!’. Chamando de macaca muitas vezes. Todo mundo que estava em volta parou e falou que ela seria presa. Aí ela fugiu para dentro do shopping que nem uma flecha”, contou a testemunha, em vídeo publicado em sua rede social.

De acordo com a estudante, ela olhou em volta procurando algum policial, mas viu apenas o carro da segurança do shopping. Foi quando decidiu seguir a agressora, que vestia um casaco amarelo, e a viu entrar no banheiro. Nathália, então, explicou a situação aos seguranças. Dois deles ficaram com ela, esperando a acusada sair, e um foi procurar a vítima. Sem encontrá-la, ele explicou que não poderiam fazer nada se ela tivesse ido embora, pois seria preciso que a vítima registrasse a ocorrência. A estudante encontrou a vítima, que tinha ido pedir ajuda na cabine da polícia, próxima ao shopping. Na saída do banheiro, o segurança abordou Luciene.

“Ela começou a gritar com ele, ele a segurou pelo braço para levá-la à cabine da PM. No meio do caminho, comecei a filmar e disse ‘eu vou te filmar para você ficar famosa, porque você é uma racista’. Quando eu falei isso, ela virou para trás e me deu um tapa, tentando derrubar o celular da minha mão”, garantiu Nathália. “Tudo isso está gravado nas câmeras do shopping, mas eu não tenho acesso, só por meio de pedido judicial”, explicou.

O caso foi registrado na 21ª DP, mas antes testemunhas e a amiga da vítima, que era aguardada por ela na porta do shopping quando tudo ocorreu, foram para a 23ª DP (Méier). A acusada foi levada na viatura policial.

Em nota, a Polícia Civil confirmou que Luciene foi presa em flagrante pelo crime de racismo. Ela, a vítima e uma testemunha prestaram depoimento na 21ª DP (Bonsucesso) e a acusada foi encaminhada ao sistema prisional. A instituição não respondeu, porém, se este é o primeiro registro de racismo na ficha criminal da agressora.

O NorteShopping também se manifestou sobre o caso por meio de um comunicado, em que afirmou repudiar “qualquer ato de discriminação e preconceito”.

“Defendemos em nosso espaço um ambiente de diversidade e inclusão. Estamos à disposição da polícia para colaborar com as investigações”, acrescentou.

“O crime é fiançável, mas ela vai responder no tribunal e isso nunca vai sair da ficha dela, para ver se ela aprende”, disse Nathália, em suas redes. “Eu me emocionei tanto quando ela mostrou a foto dos filhos, um rapaz de 24 e uma moça de 16, e disse ‘eu passei por isso a vida inteira, e ensinei para os meus filhos que nós somos negros e passaremos por isso’. É inadmissível que isso ainda aconteça. Eu nunca passei por nada nem perto do que ela passou hoje, mas me coloco no lugar dela”, lembrou.

Nathália fez, ainda, um apelo para que as pessoas jamais deixem situações como essa ficarem impunes, por mais difícil que seja o processo. De acordo com a estudante, a vítima mora em Caxias e trabalha em São Cristóvão, e elas ficaram até tarde na delegacia até tudo ser registrado.

“O sistema foi feito para fazer você desistir. Isso aconteceu às 17h, eu cheguei em casa 22h. Ela acorda às 5h da manhã e me disse ‘eu tô aqui acabada, mas fiz a minha parte'”, contou. “Não desista. Porque se num caso explícito, com filmagem, três testemunhas, estavam falando para deixarmos para lá, imagina nos casos velados, nos pequenos abusos que ocorrem todo dia?”, concluiu.

PUBLICIDADE
PLÍNIO DPVAT