Marido conta que a mulher estava sofrendo pequenos ‘choques’ e que dispositivo apresentou defeito.
Por Vanessa Ortiz, G1 Santos
Uma mulher de 48 anos morreu, na última quinta-feira (16), após aguardar quatro dias por uma transferência para um hospital na Baixada Santista para fazer a regulagem do marca-passo. Segundo apurado pela nossa reportagem, a paciente Lenice Teixeira da Silva estava internada no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, desde domingo (12). A internação ocorreu após ela começar a sentir descargas elétricas cada vez mais fortes no peito.
A paciente sofria com arritmia e doença de chagas e usava o dispositivo há quatro anos. O companheiro da vítima, Alberto Gonçalves, de 59 anos, contou que ela fazia acompanhamento no Hospital do Coração de Campinas, no interior de São Paulo. Conforme ele relata, na última sexta-feira (10) o aparelho começou a dar uma espécie de ‘choque’ na mulher e isso se repetiu no dia seguinte.
Por volta das 6h de domingo, a anormalidade no marca-passo voltou novamente. “Quando começa a dar choque, alguma coisa tem. Corri para ver porque ela estava sentindo isso e fomos para o hospital. Lá, a enfermeira me falou que ela tinha que ficar internada, porque o aparelho estava com problema. Ela (enfermeira) ainda me falou para ficar tranquilo porque eles iriam correr atrás de um hospital para fazer a regulagem”, explica o marido.
Alberto informou que o Hospital Irmã Dulce tentava a transferência via Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross). Ele conta que até tinha conseguido agendar o procedimento para fazer em um hospital particular nesta quinta, no entanto, a esposa não aguentou esperar.
“Ninguém quis aceitá-la. Arrumei isso porque em hospital nenhum ela conseguia uma vaga, mas, infelizmente, ela não aguentou o choque dessa madrugada”, conta abatido. De acordo com o seu relato, o impacto foi muito forte e Lenice teve uma parada cardíaca. A avaliação do marca-passo da mulher era feita periodicamente, inclusive, ela tinha uma consulta de rotina agendada no HC de Campinas no dia 8 de junho. “Sem dúvida, é um momento muito difícil”, desabafa Alberto.
Equipamento
O cardiologista Wilian da Costa explicou que a implantação do dispositivo ocorre para diversos casos, como alterações congênitas, envelhecimento, ou em razão de uma doença adquirida ao longo da vida. O equipamento serve para restabelecer a condução adequada do estímulo elétrico do órgão, fazendo com que o músculo cardíaco possa efetivamente manter as contrações de modo ciclônico.
O marca-passo funciona através de uma bateria, que envia a carga para estimular o músculo do coração. “Os pacientes de marca-passo ou dispositivos equivalente passam por reavaliações médicas sistematicamente, para verificar se ocorre a condução correta da carga de energia para o estímulo. Pode ocorrer um desgaste da bateria e o gerador ter uma falência”, explica. Ele ainda pontua que, pacientes com esse tipo de aparelho são graves e têm alto risco de mortalidade. “Nessa situação, a morte súbita faz parte e não é pequena a quantidade. Mas cada caso, é um caso”, finaliza.
Secretaria de Saúde do Estado e Hospital Irmã Dulce
Por meio de nota, a Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross) informa que os médicos estiveram em constante monitoramento do caso da paciente, contatando proativamente o serviço de origem para apurar mais informações sobre o histórico dela e auxiliar na busca por vaga em um serviço de referência.
A Central alega que isso foi preciso porque a unidade solicitante, no caso o Hospital Irmã Dulce, forneceu informações insuficientes, no primeiro momento, sem indicar com precisão a unidade onde o dispositivo (marca-passo) teria sido implantado, o que seria fundamental para assertividade na transferência. “Nesse tempo, o quadro da paciente se agravou, embora ela estivesse assistida em um serviço de saúde com toda a capacidade para manter o suporte médico intensivo”, explica a nota.
Por meio de nota, a direção do Hospital Municipal Irmã Dulce esclarece que a paciente em questão deu entrada na unidade no último dia 12, sendo prontamente atendida e recebendo toda a assistência necessária a seu caso.
Como o Hospital não é referência para o tipo de atendimento demandado pela paciente, no próprio dia 12 ela foi devidamente inserida na Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (CROSS), em busca de vaga para atendimento em unidade de referência, com todas as informações necessárias para a requisição de vaga sendo inseridas em tal pedido.
O hospital ressalta que a liberação destas vagas, para transferência de pacientes para serviços de referência via CROSS, não depende do Irmã Dulce, e sim de sua disponibilização por parte dos respectivos serviços de saúde.
Segundo o Irmã Dulce, enquanto aguardava por uma vaga, infelizmente a paciente apresentou evolução desfavorável de seu quadro de saúde, não respondendo à assistência prestada e indo à óbito nesta quinta-feira, 16/04. O Hospital Irmã Dulce afirma se solidarizar com os familiares da paciente e permanecer à disposição, para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários.