Grupo de 22 trabalhadores do Maranhão eram mantidos em alojamentos precários com salário menor que o prometido. Eles retornaram para cidade natal, com previsão de chegada na sexta-feira (16).
Os 22 trabalhadores resgatados nesta terça-feira (13) em condições análogas à escravidão de uma fazenda na zona rural de Ituverava (SP) partiram de ônibus para sua cidade natal, Vitória do Mearim (MA), com previsão de chegada na próxima sexta-feira (16). “Nós estamos indo embora porque fomos enganados. O cara enganou nós, aí passamos por um período de dificuldade tão grande que nem comida a gente tinha”, diz o trabalhador rural Denilson Romão.
Os trabalhadores foram resgatados em uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT), que abriu uma investigação após receber uma denúncia anônima. O grupo teria sido atraído em março por uma oferta de trabalho no corte de cana-de-açúcar.
O MPT apurou que, como pagamento, a promessa era de que eles receberiam R$ 130 por dia, sem nenhum desconto. Na prática, porém, o valor pago era de R$ 70, e os empregadores ainda cobraram pelo transporte do Maranhão para o interior paulista.
O grupo vivia em duas casas. A que Denilson compartilhava com dez colegas tinha dois quartos, mas nenhuma cama. Eles dormiam na sala, no corredor e na cozinha, sem colchão ou em estofados sujos e rasgados. O imóvel também não tinha chuveiro nem água aquecida. “Estava dormindo todo mundo no chão frio. Todo mundo aqui é casado, tem filho, e chegar em um ponto deste é complicado”, diz. “Era só este banheiro. O resto tomava banho na pia, onde a gente lavava as roupas.”
Antes de partir para o canavial, ainda de madrugada, os dez trabalhadores cozinhavam arroz e ovo em um fogão usado e dividiam a comida em um pote para cada dupla, condições que configuram trabalho análogo à escravidão e aliciamento, segundo o MPT. “Eles eram obrigados a dividir a comida dentro de um mesmo pote de plástico. Colocavam ovo, arroz, ovo e arroz. Primeiro um comia o ovo e o arroz. Chegava no segundo ovo, dava para o outro fazer a alimentação. É inadmissível”, diz o procurador do MPT, Gustavo Rizzo Ricardo.
O Ministério Público do Trabalho não divulgou à imprensa o nome do empreiteiro responsável pelo transporte do grupo do Maranhão até o interior de São Paulo. O trabalho de investigação, porém, continua. “Fomos até o local e verificamos que estavam em uma condição precária de alojamento, onde não existia local para dormir, porque não tinham camas. Não tinham marmitas nem garrafas de água para levar para o trabalho”, conta o auditor fiscal do trabalho Cláudio Secchin.
Após serem resgatados, os trabalhadores foram conduzidos à sede da Secretaria de Trabalho de Franca (SP), sob escolta da Polícia Federal. Eles tiveram o contrato de trabalho rescindido.