Número de suicídios na Polícia Civil de SP é três vezes maior do que o de mortes em serviço, aponta estudo

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Nos primeiros 8 meses de 2021, foram 6 suicídios, dentre eles o de uma policial mulher de 36 anos em Campinas (SP).

O número de casos de suicídio entre policiais civis no estado de São Paulo é três vezes maior do que o de mortes em serviço da categoria, segundo levantamento feito pela Associação de Delegados de Polícia do estado (Adepesp) com base na Lei de Acesso à Informação. Entre 2015 e setembro de 2021, 61 policiais civis tiraram a própria vida, enquanto 21 agentes morreram no trabalho.

Nos primeiros oito meses de 2021, foram seis suicídios, dentre eles o de uma policial mulher, de 36 anos, em Campinas. Os demais policiais que cometeram suicídio neste ano são homens, com idades entre 44 e 62 anos. As mortes deles foram nas cidades de Atibaia, Marapoama, Mogi das Cruzes, São Sebastião e Bauru.

Segundo a associação, no mesmo período de 2021, apenas um policial morreu em serviço. A Polícia Civil tem cerca de 28 mil agentes na ativa atualmente. Para o presidente da Associação de Delegados de São Paulo, Gustavo Mesquita, “o número de suicídios é assustador” na categoria. Segundo Mesquita, “há um somatório de fatores que levam ao suicídio”, entre eles está a desvalorização dos profissionais” como seres humanos”.

“O policial, antes de mais nada, é um ser humano, tem suas necessidades, aspirações, compromissos financeiros pessoais e familiares”, aponta o delegado, entendendo a falta de valorização da categoria como fator que contribui para a situação.

Gustavo Mesquita, presidente da associação de delegados de SP — Foto: Divulgação

Sindicato dos Delegados da Polícia do Estado de São Paulo

Um levantamento feito pelo Sindicato dos Delegados da Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) em janeiro deste ano mostra que o salário dos delegados paulistas é o menor entre todos os estados do país e o Distrito Federal. A remuneração da categoria, de acordo com os dados de dezembro de 2020, era de R$ 10.382,48. A maior remuneração foi registrada em Mato Grosso, com R$ 24.451,11.

Em 2020, dez agentes da categoria cometeram suicídio – mesma quantidade registrada em 2019. Em 2018, o recorde no período analisado, foram registrados 12 suicídios dentre policiais civis.

Um relatório das Ouvidorias das Polícias do estado já apontava, desde 2018, um aumento crescente no número de suicídios na categoria, em comparação com as mortes em ação. Na época, a Ouvidoria disse que o estresse da função estava entre os fatores condicionantes à situação e recomendava que a Polícia Civil incluísse a saúde mental “nas preleções diárias das unidades e nos treinamentos”, além da implementação de um programa de saúde mental e da contratação de psicólogos.

Agentes da Polícia Civil de SP em operação em 2021 — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Investigador matou a esposa

Um dos casos emblemáticos dos últimos anos foi o de um investigador de 38 anos que matou a esposa e se matou em seguida em Itapetininga, interior do estado, em 2016. As mortes foram com a arma de fogo do policial e o casal deixou dois filhos pequenos. Eles foram encontrados na casa em que a família vivia: a mulher, ferida com dois tiros na boca e um no peito, e o marido, policial civil, baleado no peito e com uma pistola nas mãos.

A Adepesp pediu para a Polícia Civil que implemente as recomendações feitas pela Ouvidoria em 2018, com oferta de acompanhamento psicológico suficiente e adequado aos agentes. Em setembro de 2020, durante a pandemia, a Polícia Civil fez uma transmissão pela internet para os profissionais da categoria sobre a prevenção ao suicídio, abordando, dentre outros fatores, a importância de se identificar pessoas em situações de risco.

Gislaine Carvalho de Oliveira foi morta pelo marido, o investigador da Polícia Civil Júnior Roberto Ferreira, que se matou depois — Foto: Reprodução/Facebook

Secretaria de Estado de Segurança Pública

Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) informou que “a saúde física e mental dos policiais é uma prioridade” e que a Polícia Civil “conta com uma Divisão de Prevenção e Apoio Assistencial (DPAA), onde psicólogos e assistentes sociais ficam disponíveis para atendimento clínicos e emergenciais”. “Além disso, a Academia de Polícia (Acadepol) e a Corregedoria da Polícia Civil também dispõem de profissionais dessas especialidades para o acolhimento e atenção aos policiais civis, independentemente da carreira ou tempo de serviço”, diz a pasta.

“Os atendimentos são realizados voluntariamente, de forma presencial a distância por videochamada, seja por orientação médica, encaminhamento do superior hierárquico ou ainda pela identificação desse tipo de suporte durante os trabalhos de grupo realizados periodicamente nas unidades policiais. Os casos de suspeita de problemas psiquiátricos/psicológicos são encaminhados ao Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) para avaliação”, afirmou em nota a SSP.

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