Antes de se dirigir à sede da Polícia Federal, Carlos Arthur Nuzman, 75 anos, pediu para fazer a barba e tomar banho
Ele havia sido acordado pelos policiais federais e procuradores da República na sua casa de três andares no Alto Leblon, pedaço de luxo restrito na zona sul carioca. Quem recebeu as equipes foi um mordomo. Ambos muito educados, não pareciam assustados com a presença dos homens da Lava Jato no seu quintal. Naquele dia, pouco menos de oito anos após comemorar com champanhe a vitória da candidatura do Rio como sede para a Olimpíada de 2016, o dirigente esportivo de maior posição no país acordara barbudo e fora dormir sem os passaportes e a liberdade de ir e vir.
Ao todo, foram encontrados sete passaportes nas gavetas de Nuzman. Três exclusivos a integrantes de corpo diplomático, três de cidadãos comuns brasileiros e um expedido pelo governo russo, obtido em troca da venda do voto do Brasil na escolha da Rússia como sede dos Jogos de Inverno de 2014, segundo depoimentos prestados ao Ministério Público da França.
Foi no quarto de Nuzman, num dos dois closets, que os policiais encontraram parte dos R$ 480 mil em espécie. O restante estava num escritório da residência. O outro closet do dormitório estava completamente vazio. Era onde a ex-mulher de Nuzman, Márcia Peltier, guardava suas roupas e sapatos até pouco tempo. Também no quarto, uma cômoda completamente vazia deixava a recente separação à mostra.
Vinte e três itens classificados preliminarmente como “obra de arte” foram listados. Entre eles quadros do casal. A reportagem não conseguiu saber se uma poltrona usada pelo papa João Paulo II, uma das atrações da sala do dirigente, está entre os itens apreendidos por determinação da Justiça. Aparelhos celulares, pen-drives e cadernos de anotações pessoais também foram retidos.
Conta na Suíça
Os 22 anos do dirigente como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro são representados por 13 tochas olímpicas de diferentes países, dispostas na parede de uma das salas da ampla casa. Entre os adornos, apenas um não está afixado, justamente a tocha da Olimpíada comandada por Nuzman, a Rio 2016. Numa das gavetas vasculhadas pelos policiais, um orçamento para a colocação do troféu olímpico foi encontrado: uma obra incompleta.
Na garagem da propriedade, foram listados dois jeeps Pajero e um Fusca 1200, de colecionador. Todos constam como “apreendidos”.
Ainda no quarto, os policiais encontraram um pequeno envelope e um cartão. Nele, as coordenadas para o restante da história financeira do dirigente: os dados de uma conta na Suíça.
Durante todo o período em que os investigadores estiveram na residência, Nuzman foi cortês e manteve o equilíbrio. Ao seu lado, o amigo com quem sabia que poderia contar e com quem “pularia do precipício”, como disse certa vez à revista Piauí, Sérgio Mazzillo.
Advogado e amigo pessoal do cartola olímpico, dono de um escritório que recebeu R$ 18,8 milhões do Comitê Organizador Rio 2016, como revelou o nossa reportagem em 2015, foi quem tentou explicar a ação Unfair Play aos jornalistas.
“Espetáculo midiático”, disse, negando as acusações de compra de voto.
Ao chegar à Policia Federal, onde se esperava que apresentasse argumentos para contrapor as acusações feitas pelas investigações, Nuzman se negou a responder qualquer pergunta.
Espera-se que tente reaver na Justiça seus passaportes. O primeiro objetivo, comparecer à reunião do Comitê Olímpico Internacional (COI) em Lima, no Peru, na próxima semana. O movimento olímpico não para.
Fonte: ESPN